Os jogos interclasses não devem ser apenas uma competição entre turmas. “Trata-se de um momento de encontro da comunidade escolar, com a possibilidade de vivenciar diferentes modalidades esportivas, conteúdos e o fenômeno esportivo em sua amplitude”, resume o coordenador do Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Esporte e Exercício Físico da Universidade do Estado de Mato Grosso (CIPEEF/Unemat) Riller Silva Reverdito.
Segundo Reverdito, como as práticas são realizadas no contexto escolar, os jogos interclasses precisam atender aos objetivos da instituição, conforme previsto no projeto político-pedagógico (PPP).
“Alunos precisam compreender que os interclasses integram o currículo e o processo didático pedagógico; e que a partir disso eles estão sendo avaliados”, acrescenta o doutor em educação física e professor da Universidade de Vila Velha (UVV) Murilo Nazário.
A seguir, confira 13 orientações para organizar jogos escolares que envolvam toda a escola e promovam engajamento, inclusão e uma aprendizagem mais significativa.
1) Interclasses são um projeto, não uma atividade isolada
“Logo, não é algo exclusivo do professor de educação física. É uma proposta prevista no calendário escolar e construída coletivamente”, enfatiza Reverdito.
2) Clareza sobre o que será proposto e avaliado
Para Reverdito, jogos escolares trazem possibilidades de aprendizagem. “Atualmente falamos bastante sobre o protagonismo do aluno, de ele ser ativo na construção do seu conhecimento. Isso também precisa estar presente nos jogos interclasses, nos quais os alunos terão a oportunidade de planejar, refletir, cooperar, apresentar e discutir propostas. Isso precisa estar planejado e organizado no desenvolvimento do projeto”.
Nazário complementa: “Devemos avaliar aprendizagens que envolvem participação, organização, tomada de decisão e gestão. Além disso, o jogo em si traz regras, elementos técnico-táticos e valores como respeito e fair play.”
3) Planejamento prévio e diagnóstico
“Professores e equipe pedagógica precisam averiguar os espaços da escola, assim como o que tem sido trabalhado pelos professores ao longo do semestre e do ano”, reforça Nazário.
4) Todos são corresponsáveis
Os jogos interclasses ajudam a valorizar um ambiente de cooperação. “É preciso clareza sobre qual será o papel dos professores, o que não significa transferir responsabilidade deles para os alunos”, explica Reverdito.
“Os alunos podem participar ativamente do evento, colaborando na organização, definição das modalidades, formas de disputa e conteúdos. Também podem atuar como mesários, árbitros e apoiadores no desenvolvimento dos jogos, assumindo diferentes papéis de protagonismo”, sintetiza.
5) Nem todos os alunos precisam competir
Há formas de se relacionar com o esporte sem ser competindo. “Há diferentes personagens envolvidos na prática e no evento esportivo”, lembra Reverdito.
“O esporte não é praticado somente por quem joga; logo, deve-se possibilitar a diversificação de papeis. Os alunos aprendem que existem torcedores, treinadores, jornalistas, pessoas envolvidas na logística, gestão financeira, desenvolvimento técnico, nas questões disciplinares, divulgação etc”, afirma Nazário.
“Ao ampliar os sujeitos que integram o esporte, amplio também a participação dos alunos”, acrescenta ele, que indica também para que os alunos criem comissões organizadoras. “Por exemplo, comissão geral, comissão técnica, disciplinar, de primeiros socorros, de apoio, financeira, de materiais e de marketing”, lista.
6) Nem todas as atividades precisam ser competitivas
Momentos de convivência podem ser promovidos com apresentações artísticas relacionadas ao esporte, como música, dança e ginástica rítmica com coreografias.
7) Modalidades devem ser diversificadas
“Se o esporte é um fenômeno sociocultural, os jogos interclasses devem oferecer a possibilidade de os alunos entrarem em contato com modalidades diversificadas”, explica Reverdito.
Além das tradicionais, como futsal, voleibol, handebol e basquete, é possível incluir jogos mistos, modalidades de raquete, artes marciais e esportes menos convencionais.
“Em experiências anteriores, optamos por futsal masculino e feminino, voleibol misto, basquete 5×5 e 3×3, handebol misto, ultimate frisbee, badminton, peteca, beach tênis e voleibol sentado como incentivo à inclusão”, compartilha Nazário.
8) Inclua modalidades paralímpicas
Entre as possibilidades estão o goalball (para pessoas com deficiência visual, podendo ser praticado por todos com vendas nos olhos), o atletismo adaptado (com provas de corrida ou arremesso para diferentes níveis de habilidade) e o vôlei sentado.
9) Prevenção de conflitos: código de conduta e comissão disciplinar
“Conflitos são parte de qualquer ambiente. A questão é como lidamos com eles”, pontua Reverdito.
Antecipar possíveis situações e envolver os alunos na construção do regulamento pode ajudar. “Uma estratégia é os próprios alunos elaborarem o código de conduta e participarem da criação de uma comissão disciplinar, definindo critérios para a atuação de árbitros, atletas e treinadores”, recomenda Reverdito.
10) Escolha da data e duração do evento
Os jogos interclasses devem estar previstos no calendário escolar. “A duração varia de acordo com o projeto pedagógico da escola. Pode ser uma semana concentrada ou eventos distribuídos ao longo do ano”, explica Reverdito.
“Contudo, quanto mais tempo para construir aprendizagens e elaborar um cronograma, melhor”, completa Nazário.
11) Melhore o engajamento dos alunos
Para isso, Nazário apresenta três sugestões. As primeiras são diversificar modalidades e os papeis dos alunos no torneio. “Se eu amplio os sujeitos que integram o esporte, amplio a participação”, justifica.
Para completar, altere regras dos esportes para promover outras formas de participação. “Como modalidades mistas, diminuição ou aumento de participantes ou de espaços”.
12) Crie uma comissão de primeiros socorros
Toda atividade esportiva envolve riscos. “Para minimizar problemas, é recomendável criar uma comissão de primeiros socorros com os alunos, responsável por convidar profissionais da saúde como médicos, enfermeiros e estudantes dessas áreas para acompanhar os dias dos jogos”, orienta Nazário.
13) Estimule o espírito esportivo
Além da participação, é possível incentivar valores. “Podem ser atribuídos pontos extras para atitudes de fair play, como não receber cartões, boa conduta, respeito aos colegas e aos árbitros”, sugere Nazário.
Ele ainda recomenda integrar os interclasses aos jogos escolares em níveis regional e municipal. “Combinamos que só participam dessas etapas alunos que se destacam não apenas pelo desempenho, mas pelo comportamento, espírito esportivo e respeito às regras”, finaliza.
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