Brincadeiras e jogos indígenas representam a cultura, costumes e tradições de diferentes povos originários, integrando saberes cotidianos e conhecimentos ancestrais. Introduzi-los nas aulas de educação física ajuda a promover a diversidade cultural e o respeito às tradições desses povos, além de estar em conformidade com a Lei nº 11.645/2008, que estabelece a obrigatoriedade do ensino sobre a história e a cultura indígena nas escolas brasileiras.

Doutora em Educação e professora aposentada do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRO), Maristela Bortolon de Matos afirma que a temática pode ser trabalhada nos anos iniciais do ensino fundamental.

“A cultura indígena nas brincadeiras e jogos pode ser trazida dentro das unidades de danças e lutas como objeto de conhecimento do 1º ao 5º ano”, sugere a pesquisadora.

No entanto, Matos adverte para alguns cuidados antes de apresentar brincadeiras e jogos indígenas na educação física escolar.

“Valorize a cultura indígena do contexto em que a sua escola está inserida, da sua região e do Brasil. Assim, é importante que o professor pesquise o tema”, orienta.

“As brincadeiras, danças e lutas não devem ser apresentadas desconectadas da representação cultural, pois ações, movimentos e cores podem ter significados”, enfatiza.

“A aprendizagem ocorre de forma mais efetiva quando faz sentido, por isso é importante contextualizar as atividades propostas, não apenas aplicá-las”, acrescenta.

Para finalizar, vale lembrar que os povos indígenas são diferentes entre si em termos de costumes e tradições. De acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem cerca de 1,7 milhão de indígenas autodeclarados, distribuídos em 305 etnias.

“As culturas são diversas e todas devem ser respeitadas”, destaca Matos.

Brincadeiras da região do Rio Negro

A seguir, conheça nove brincadeiras indígenas que podem ser trabalhadas no ensino fundamental. Elas são frutos da pesquisa de mestrado de Patricia Rossi dos Reis, da Rede Nacional para o Ensino das Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Amazonas (Profciamb/UFAM) e estão disponíveis no “Manual Bilíngue de Jogos e Brincadeiras Indígenas: Interculturalidade, Modos de Vida e Sustentabilidade” (2020).

A partir de entrevistas com 82 alunos indígenas do ensino médio do Instituto Federal do Amazonas (IFAM-São Gabriel da Cachoeira) e 41 participantes adultos da mesma cidade, Rossi coletou 36 jogos, brinquedos e brincadeiras de oito etnias indígenas da região do médio Rio Negro. São elas: Tukano, Piratapuia, Baniwa, Baré, Cubeo, Tariano, Potiguara e Dessano. Confira!

1) Peikrãn

Espécie de jogo de peteca, produzida com palha de milho e penas de galinha. A brincadeira acontecerá individualmente, em dupla ou grupos, com os alunos batendo com a palma da mão na base de palha da peteca e a arremessando aos jogadores.

Os jovens podem produzir esse item coletivamente. As palhas deverão ser separadas individualmente e, em seguida, colocadas uma sobre a outra alternando a posição, uma vertical e outra horizontal. Ao atingir aproximadamente três centímetros de palha, estas deverão ser amarradas em sua extremidade e cortadas de forma que fique uma pequena sobra. As penas serão colocadas sobre pressão nesta extremidade que ficou de palha, fazendo uma linda peteca

Reis lembra que é possível improvisar a peça com outras matérias-primas, mas é necessário contextualizar os materiais originais como parte do cotidiano das populações indígenas. “Reflita sobre o modo de vida deles e dos estudantes que estarão desenvolvendo a brincadeira”, orienta na dissertação.

2) Peixe pacu

Um participante é escolhido para ser o pescador, e os outros participantes formarão uma fila que deverá se mexer como uma serpente. Ao comando do pescador, esta fila andará ou correrá sempre unida, movimentando-se em zigue zague. O pescador terá que tocar com uma vara a cabeça do último participante da fila, até “pescar” ou tocar todos os participantes, um a um e sempre começando pelo último.

3) Brincadeira Maracujá Camanaus

Um participante é escolhido para ficar no centro da roda e será o maracujá. Os demais deverão rodar, cantando: Maracujá camanaus, maracujá camanaus. Ao pararem, todos entram no centro da roda e verificam se o maracujá está verde ou maduro. Se decidiram que está verde, todos voltam a rodar e cantar. Agora, se estiver maduro, todos tocam na sua cabeça bagunçando seu cabelo.

4) Corrida do limão

Forme duplas, uma de frente para a outra. Cada um dos participantes deverá ter um limão e uma colher. Ao sinal, os participantes sairão em direção a seus pares equilibrando o limão sobre a colher até uma marca.  Quando esta é atingida, passa-se o limão ao companheiro para fazer o retorno.

5) Puxar o rabo do macaco

Os participantes deverão pegar folhas e prendê-las no short na parte de trás como se fossem rabos. Ao sinal do professor, eles começarão a correr tentando pegar o rabo do colega e ao mesmo tempo protegendo o seu próprio rabo. Esta atividade pode ser adaptada confeccionando o rabo com jornal. Podem também ser utilizados mais de um rabo por pessoa, dispostos em toda a cintura.

6) Corrida do saci roteg

A atividade consiste nos participantes segurando uma de suas pernas e saltando sobre a outra. O professor poderá dar vários comandos como: saltar com a perna direita; com a esquerda; deslocar-se para a frente e para trás.

7) Gaviões e pintinhos

Escolhe-se o gavião e a galinha, o restante dos participantes serão os pintinhos. O gavião tentará comer (tocar) os pintinhos, enquanto a galinha deverá protege-los. A brincadeira se desenvolve da seguinte forma: o gavião vai atrás dos pintinhos e, ao tocá-los, estes ficam paralisados. Já a galinha tem o poder de libertá-los tocando neles e fazendo com que voltem à brincadeira. Exige o mínimo de quatro participantes, e se o número de alunos for grande podem ser escolhidos mais de um gavião e galinha.

8) Macaquinhos

Os participantes deverão estar em fila, sendo: o primeiro, sentado; o segundo, agachado; o terceiro, em pé com as mãos nos joelhos e a cabeça baixa; o quarto também em pé, com o tronco um pouco mais erguido que o anterior; e assim sucessivamente até o último ficar totalmente de pé. É importante que todos da fila fiquem com a cabeça abaixada. Os participantes, individualmente, colocarão as mãos sobre os ombros dos colegas na fila e saltarão sobre eles, um a um. Assim prossegue cada um, até a altura que conseguir superar. O professor deve monitorar a atividade para que os alunos não se machuquem ao executá-la.

9) Uwaai poço upé

Os participantes ficam dispostos lado a lado. Será escolhido um para ser quem está no poço e outro para dirigir a brincadeira. O dirigente fará perguntas a quem caiu no poço.

“Participante: caí no poço; dirigente: quem te tira; participante: meu bem; dirigente: bem quem?; participante: alguém”.  Neste momento, o participante estará de costas, com os olhos vendados, e o dirigente irá apontar para cada um dos participantes e perguntar: “É esse? Ou esse?”, até que seja escolhida uma pessoa. A ela será atribuída uma prenda que poderá ser um aperto de mão. Exige o mínimo de quatro participantes

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Crédito da imagem: Fabio Rodrigues-Pozzebom – Agência Brasil

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