A dança circular é uma expressão artística em que os participantes dançam em círculos ou espirais, geralmente de mãos dadas, com o acompanhamento de músicas de diferentes culturas.
“A dança circular não é propriamente uma manifestação cultural, mas potencializadora de outras. Ou seja, por meio dela, posso apresentar cultura afrobrasileira, indígena, regional etc.”, descreve o professor de educação física da rede municipal de Ribeirão Preto (SP) Rogério Festucci, que também atua na formação de outros professores em dança circular.
Na educação física escolar, Festucci explica que a dança circular pode ser trabalhada em qualquer etapa de ensino. Além da motricidade, também permite trabalhar justamente diversidade cultural.
“Trabalhar diferentes culturas dentro do contexto escolar é importante para ampliar a visão de nós mesmos, da nossa região, país e mundo. Percebemos no corpo movimentos diferentes daqueles a que estamos acostumados dentro da nossa cultura”, justifica a atriz e arte educadora Maria Angélica Urbano, autora do e-book gratuito “Danças circulares e jogos teatrais com crianças: vivências de uma artista educadora”.
Habilidades socioemocionais
Festucci aponta uma perspectiva humanizadora no ensino das danças circulares por promoverem união, cooperação, conexão e expressão utilizando coreografias coletivas.
“É impossível ensinar habilidades socioemocionais de forma abstrata ou escrevendo na lousa: elas precisam ser vivenciadas”, pontua.
“Nas danças circulares, temos o contato com as mãos, olho no olho, o ato de compartilhar um momento e uma vivência de forma objetiva. Esses são os seus objetivos, não uma apresentação”, diferencia.
“A dança circular é apresentada em um contexto coletivo e envolve as emoções e sentimentos, estando em consonância com habilidades socioemocionais”, completa Urbano.
“Na formação do círculo, cada participante estará amparado por outras duas pessoas, uma de cada lado, potencializando a concepção de grupo, em que todos são incluídos em clima de cooperação e respeito. O formato circular, assim como o círculo, representa o todo, e cada ponto dentro dele, a individualidade”, resume a professora da rede estadual do Paraná Vera Maria Dotti Marini no artigo “Dança circular nas aulas de educação física: uma possibilidade de interação social” (2016).
Diferenciando conceitos
Festucci lembra que a dança circular, originalmente, é ancestral e está presente em diferentes culturas tradicionais e originárias, como povos indígenas e celtas.
“Há ainda diferentes manifestações regionais de danças circulares, caso da ciranda brasileira, que tem em Lia de Itamaracá, de Pernambuco, uma representante”, ensina.
Porém, o que se entende hoje como danças circulares teve sua origem com a pesquisa do bailarino alemão Bernhard Wosien (1908-1986), que estudou danças folclóricas e meditativas.
“Este formato se iniciou no Brasil em 1984, mas a dança de roda já existia aqui nas comunidades indígenas e em brincadeiras, danças tradicionais e cirandas”, afirma Urbano.
Como aplicar a dança circular?
Festucci conta que costuma utilizar a dança circular antes de trabalhar com a turma algum ritmo, como samba, valsa ou rock.
“Trago os passos básicos e vamos nos movimentando e dançando juntos”, relata.
Segundo ele, a atividade coletiva minimiza nos alunos a vergonha de se expor e o medo de errar.
“Inicio dizendo à classe que faremos algo simples, como uma caminhada com ritmo. Proponho coreografias básicas, como ‘dois pra lá, dois pra cá’, para eles se soltarem. Em pouco tempo eles ganham confiança, estão rindo dos próprios erros e não se importando com eles”, relata.
Como material de apoio, ele indica o vídeo ‘Como trabalhar dança na escola: dança circular para crianças’, do Canal da Educação Física, da professora Jana Munhoz (2020).
Já Urbano orienta que o professor deve ficar atento à coreografia que trará para diferentes faixas etárias.
“É necessária consciência sobre qual movimento pode ser feito, desafios que eu vou trazer aos alunos e como tudo isso está conectado ao conteúdo ensinado. Devo pensar numa base de aprendizado de corpo e ir crescendo os desafios para ampliar repertório”, recomenda.
“Dependendo da característica da turma, posso trabalhar danças mais calmas ou agitadas, mais lateralidade, coordenação motora, parte rítmica, entre outros. Além disso, busco mesclar danças tradicionais, contemporâneas e exercícios”, afirma.
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Crédito da imagem: urbancow – Getty Images