Cup song é uma performance musical que usa a batida de copos vazios e palmas para criar uma percussão rítmica. A atividade ficou conhecida por viralizar na internet na década passada. Em 2011, três adolescentes suecas criaram uma versão para a música “Call Your Girlfriend”, da cantora Robyn. No ano seguinte, a atriz Anna Kendrick elaborou uma batida de copos para a música “When I’m gone” no filme “A Escolha Perfeita” – “Pitch Perfect”, classificação etária: 12 anos.
Nas aulas de educação artística, o cup song ajuda a desenvolver a coordenação motora, noções de ritmo, tempo e sincronia, além de explorar a criatividade por meio da combinação de sons e movimentos, conforme explica a professora da Escola Técnica Estadual (Etec) Demétrio Azevedo Júnior, de Itapeva (SP), Jaqueline de Oliveira Almeida.
“É possível trabalhar coreografia, que dá a ideia de organização de sequências diferentes em cada parte da música. Os alunos ficam surpresos com o que conseguem fazer”, relata. “Também são exploradas concentração, leitura, interpretação e damos ao aluno as ferramentas necessárias para desenvolvimento musical e artístico”, afirma.
Outro ponto observado pela professora foi o uso de habilidades socioemocionais. “Os alunos se ajudam e muito mutuamente. Uns ensinam aos outros as batidas dos copos, gostam do que fazem”, explica a professora. “É uma metodologia ativa: aprender para ensinar, respeitar as opiniões em grupos, trazer ideias, socializar, concordar, discordar, negociar, modificar as batidas, criar, começar e finalizar o trabalho”, completa Almeida.
Apresentando novos ritmos
O professor de música e artes do Instituto Federal do Acre (IFAC) Jânio Carlos Ramos Teixeira lembra que o cup song pode ser usado para apresentar outros ritmos musicais aos alunos, ampliando o repertório musical deles. “Ela mostra ao estudante uma forma de entrar no universo musical por meio de uma brincadeira simples. Assim, é possível valorizar as músicas que os jovens ouvem, a maioria vinda das redes sociais, mas sem deixar de apresentar outros ritmos, como o samba”, reforça.
“Pode-se criar uma batida de funk, gênero ao qual os alunos se sentem próximos, associada a uma música antiga, do tempo de seus avós. Isso favorece questões históricas, musicais, e todos ganham”, acrescenta o professor especialista em currículo (PEC) de artes da diretoria de ensino de Barretos (SP) Emerson Lemes.
Veja abaixo um exemplo de como desenvolver o cup song com os alunos dentro da sala de aula.
Como fazer?
Almeida explica que há diversas possibilidades de trabalhar o cup song em um projeto musical, como a criação das batidas em duplas ou em grupos maiores, assistir a tutoriais do YouTube e colocá-los em prática, e ainda incluir na apresentação alunos que toquem algum instrumento. “O som do instrumento bem ensaiado ficou perfeito com o ritmo das batidas”, sugere a professora.
Almeida sugere iniciar pela sequência tradicional da batida realizada pela atriz Anna Kendrick para a música “When I’m gone”, em “A Escolha Perfeita”.
“Isso ajuda a criar novas sequências. Podemos modificá-la, por exemplo, com um estalar de dedos, palmas, batendo as mãos fechadas sobre a mesa ou com o barulho do brinde entre os copos”, indica a docente.
Em termos de etapas de ensino, a professora sugere canções lúdicas para a atividade no ensino fundamental I, e músicas mais populares, da realidade dos estudantes, no ensino fundamental II e no médio.
“A batida da música “Sugar”, da [banda] Maroon 5, pode ser interessante”, destaca Almeida. Para completar, além dos copos, ela indica fazer a batida com outros objetos, como caixas de fósforos e colheres.
Veja abaixo um exemplo de como desenvolver o cup song com os alunos em espaço aberto.
Potencial interdisciplinar
Lemes explica que outras disciplinas podem ser envolvidas no projeto de cup song, como matemática e língua portuguesa. “Na primeira, é possível explorar reta numérica e contagem de tempo e espaço. Na segunda, o gênero paródia”, revela.
Como exemplo, ele cita uma atividade de cup song com letra sobre operações matemáticas realizada por alunos do ensino fundamental da E. E. Dalva Vieira Itavo, em Olímpia (SP).
Já Almeida recomenda associar a atividade em ciências e línguas. “Em física, é possível explorar a vibração dos sons da batida dos copos e qual o tamanho deles; em química, o melhor material para usar na batida; em matemática, quantas batidas por minuto é possível serem feitas; em língua inglesa, usar letras nesse idioma”, lista.
Sobre os desafios da atividade, Teixeira lembra que a maioria das salas de aula não possui isolamento acústico e deve-se ter cuidado para a cup song não atrapalhar outros professores. “É necessário desenvolver a atividade em espaços reservados. O barulho de 40 crianças batendo um copo de acrílico pode incomodar. Assim, utilizei uma sala do lado de fora da escola”, compartilha Almeida. “Deve-se também observar as habilidades e a coordenação motora de cada criança”, acrescenta.
“Outro desafio é quando o aluno se sente limitado em participar devido à dificuldade com a coordenação motora, porque [a atividade] exige dele precisão corporal. A orientação é respeitar o tempo de cada discente”, diz Lemes.
Já Teixeira adverte que a atividade não deve ser tratada apenas como entretenimento. “Ela proporciona estímulos sensoriais, cognitivos e agrega outros saberes. Tratá-la como passatempo é perder toda a sua potencialidade”, finaliza.
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Crédito da imagem e dos vídeos: Centro Paula Souza – governo do Estado de SP