A globalização é o processo de interconexão e integração econômica, geográfica e cultural dos países em escala mundial. “No aspecto econômico, [essa conexão] parte do avanço e consolidação da economia capitalista. Países ricos ou centrais ‘avançam’ sobre os pobres, por meio de suas empresas, em busca de mão de obra, mercado consumidor e recursos naturais. Métodos como guerras, invasões e outros artifícios geopolíticos são usados pelos estados em benefício de suas corporações”, explica o doutorando em geografia na Universidade Estadual Paulista (Unesp) Rodrigo Sartori Bogo.

Mestre em geografia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Magno Ricardo Silva de Carvalho explica que o aspecto geográfico é o mais visível. “Ocorre pelo aumento de tecnologias, velocidade nos transportes e nas comunicações, o que dá a sensação de que o mundo está conectado e menor”, analisa.

O terceiro aspecto, sociocultural, está ligado à necessidade de países ricos expandirem seu mercado consumidor, como explica Bogo. “Marcas e produtos dos países do norte global fazem parte da vida de milhares de pessoas nos diversos países do globo, incluindo de alimentação, vestimenta, música e cinema. Isso gera mudanças culturais e mistura o que é local com o que é global”, completa.

Globalização na escola

Carvalho explica que, no ensino fundamental, a globalização aparece indiretamente nas aulas de geografia desde o 6º ano. “Porém, é um conteúdo do 9º ano que permeia assuntos do 2º ano do ensino médio e volta como protagonista no 3º ano do ensino médio”, destaca.

“Para os alunos, deve-se contextualizar a nova (des)ordem mundial, a emergência da globalização, a sua diferencia para mundialização, assim como suas consequências”, acrescenta o doutor em geografia e docente da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) Josué Alencar Bezerra.

Segundo Bogo, o cinema ajuda a ilustrar para os alunos as diversas faces da globalização, além de ele próprio ser produto e ferramenta dela.

“A maioria dos filmes que o aluno brasileiro já viu não foi produzida no Brasil e é estadunidense, o que gera debate sobre como isso influencia nossa visão de mundo, hábitos de consumo etc.”, destaca Bogo.

“Podemos provocar a classe com perguntas como: ‘Por que assistimos a tantos filmes dos Estados Unidos? Vocês sabiam que Índia e Nigéria são os dois países que mais produzem filmes, deixando Hollywood em terceiro lugar? Então, por que não vemos filmes desses países?’”, propõe o docente.

“Além disso, o audiovisual consegue captar e expressar a relação do homem com o planeta, que é a essência da geografia enquanto ciência e disciplina”, defende Silva.

“Porém, o professor também pode ficar atento que, com o advento da internet, o consumo se modificou. Jovens têm consumido mais produtos culturais orientais, como música K-Pop e cinema Dorama”, lembra o professor de geografia da Escola Estadual Prof. Eduir Benedicto Scarppari (SP) Rhaian de Souza.

Confira abaixo nove filmes que ajudam a ensinar sobre globalização nas aulas de geografia.

O diabo veste Prada (2006)

Souza indica o filme para mostrar como a globalização influencia a moda. “A conceituada editora de uma revista, que é referência mundial, lida com a escolha de diversas estéticas que posteriormente serão consumidas por lojas populares de todo o mundo, sem que esses consumidores saibam das estratégias por trás disso”, descreve. Classificação: 12 anos.

Fome de poder (2016)

Documentário aborda a globalização na indústria alimentícia por meio da história da gigante rede de fast food Mc Donalds. “Espalhada por quase todo o globo, essa rede faz com que haja uma certa padronização no consumo de alimentos. Quando um Mc Donalds é aberto em um bairro, certamente prejudica lanchonetes de empreendedores locais”, comenta Souza. Classificação: 10 anos.

Crash: No limite (2004)

O filme mostra as interseções entre personagens de diferentes etnias em uma cidade. “Trata do reflexo da globalização em uma metrópole cosmopolita. Apresenta debates sobre preconceitos raciais e socioeconômicos e estereótipos criados para grupos raciais que atingem diretamente seu julgamento, crenças e atitudes, provocando tensões”, descreve Bezerra. Classificação: 14 anos.

Indústria americana (2019)

“O filme mostra a chegada dos chineses em uma fábrica nos Estados Unidos. A concorrência com a fábrica americana, a implementação de outra cultura organizacional e as condições de trabalho impactam e geram tensões”, apresenta Bezerra. Classificação: 14 anos.

Encontro com Milton Santos: O mundo global visto do lado de cá (2006)

“O filme-documentário apresenta o geógrafo e pensador brasileiro Milton Santos, destacando como a globalização provoca a concentração de riqueza entre os ricos e distribuição da pobreza entre os desfavorecidos. Assim, ajuda a discutir as problemáticas da globalização, que mais exclui do que inclui”, resume Bezerra. Confira um plano de aula exclusivo sobre o tema para ensino médio. Classificação: Livre.

A felicidade das pequenas coisas (2019)

Filme do Butão, mostra um professor do ensino básico e músico amador que sonha imigrar para a Austrália e seguir carreira artística. Seu contrato de trabalho com o governo o faz se mudar de Thimphu, capital do país “conectada”, para Lunana, uma vila remota no sopé do Himalaia. Lá, ele tem contato com outras formas de vida e sociabilidade. “Mostra as diferenças regionais de um mesmo país e as áreas quase intocadas presentes em um mundo globalizado. O professor pode passar trechos que evidenciam a vida do professor na capital em comparação com a vida na vila”, acrescenta Carvalho.  Classificação: 10 anos.

Flee – Nenhum lugar para chamar de lar (2021)

Documentário em animação que enfoca as experiências de um refugiado afegão membro da comunidade LGBTQIA+. “É possível fazer uma associação sobre a crise de refugiados na contemporaneidade como resultado de conflitos armados apoiados por estados nacionais, que mantêm suas máquinas de guerra às custas da fragmentação e desumanização de populações inteiras”, explica Silva. “O principal ponto é evidenciar que a globalização não é um fenômeno unidimensional: ela é diferente para povos específicos”, complementa. Classificação: 14 anos.

Estou me guardando para quando o carnaval chegar (2019)

O documentário brasileiro registra a rotina de trabalho e vivência dos moradores de Toritama, pequena cidade pernambucana, que passou a viver quase que inteiramente da confecção de jeans. “Mostra a desconcentração das fábricas de países centrais em direção aos semiperiféricos e periféricos para corte de custos”, diz Silva. “Pode ser associado com elementos da globalização que remetem à produção, à divisão territorial do trabalho e às lógicas do mercado”, acrescenta. Classificação: 10 anos.

Trabalho Interno (2010)

Documentário que mostra a participação de Wall Street, centro financeiro dos Estados Unidos, e das agências reguladoras norte-americanas na crise econômica global de 2008. “Aborda o aspecto econômico da globalização, mostrando como os grandes atores do capitalismo global se vinculam em um contrato coletivo baseado em especulação e estratégias para obtenção de lucro na escala global, desconsiderando as necessidades da maioria da população”, analisa Bogo.

“Apesar de tratar de crimes que podem soar distantes da realidade dos alunos, os processos mostrados no filme, por serem de uma economia globalizada, influenciam diretamente as vidas deles”, complementa.

Se houver pouco tempo de aula, Bogo indica passar o trecho do caso islandês para explicar as causas e os resultados da crise. Classificação: 10 anos.

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Crédito da imagem: Fox 2000 Pictures Dune Entertainment / 20th Century Fox – Divulgação

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