O cinema pode ser instrumento pedagógico para fomentar o debate sobre bullying nas escolas. “Ele ajuda a desenvolver um sentimento de alteridade, de você sentir o que passa na pele outro e adentrar na vida de personagens que são diferentes de você e viver situações que não estão na sua realidade”, justifica a doutora, formadora de professores pela Universidade de São Paulo (USP) e fundadora do Coletivo Janela Aberta – Cinema e Educação, Cláudia Mogadouro. “Uma pessoa branca, por exemplo, não terá a experiência do racismo, mas consegue se aproximar desse sentimento ao ver em uma situação em um filme”, complementa.
Para a professora do Colegiado de Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná (Unespar-Campus Mourão) Wanessa Gorri de Oliveira, outro benefício do cinema é que ele permite pensar sobre os desdobramentos danosos do bullying para todos os envolvidos. “Tanto para a vida das vítimas, dos agressores e dos espectadores”, explica.
Refletir sobre o que foi visto
Mogadouro destaca que mais importante do que o filme escolhido é o debate sobre ele. “Não adianta ter apenas uma hora e meia de aula e gastar todo o tempo apenas com a sua exibição. O segredo está na mediação e no planejamento, não necessariamente no filme escolhido”, orienta.
Segundo ela, também não se deve perder de vista que cada filme é uma obra de arte.
“Uma obra de arte não tem que servir para algo, mas fazer sentir. Ela vai tocar cada pessoa de uma forma diferente, por isso é importante reservar esse tempo para conversar sobre ela”, acrescenta Mogadouro.
“Como os comportamentos que caracterizam o bullying são identificados em qualquer faixa etária e etapa de escolarização, é possível inserir filmes que sensibilizem sobre o fenômeno desde a educação infantil, desde que compatíveis com a idade desses estudantes”, acrescenta a professora do Colegiado de Pedagogia da Unespar-Campus Mourão Divania Luiza Rodrigues.
Conheça abaixo 7 filmes que podem ser utilizados para fomentar o debate do bullying em ambiente escolar.
1) Depois de Lucía (2013)
Após a morte da esposa, Roberto e sua filha Alejandra, de 15 anos, mudam-se para a Cidade do México em busca de um novo começo. Alejandra enfrenta abusos físicos e emocionais na nova escola, mas, envergonhada, não conta nada ao pai. A crescente violência aumenta a distância entre os dois. Classificação: 16 anos.
2) Bullying: provocações sem limites (2009)
Jordi é um adolescente que recentemente perdeu o pai. Ele e sua mãe decidem se mudar para outra cidade para recomeçar a vida juntos. Na nova escola, ele passa a sofrer bullying de um garoto chamado Nacho.
“O filme ajuda a distinguir o bullying escolar de outras formas de violência existentes na escola. Também aborda os papéis assumidos pelas vítimas, agressores e espectadores; a postura da escola diante das práticas de bullying; as consequências do bullying escolar; e o suicídio”, lista Oliveira.
“É possível ilustrar a relação desigual de poder estabelecida entre vítima e agressor. O agressor estabelece uma relação de superioridade de força diante da vítima”, acrescenta Rodrigues. Classificação: 16 anos.
3) Valentina (2021)
Narra a vida de uma garota trans de 17 anos, que precisa se mudar com a mãe para o interior do Brasil. Para evitar intimidações na nova escola, ela tenta se matricular com seu novo nome e manter segredo sobre sua identidade de gênero, porém surgem desafios. “Aborda a questão do preconceito de forma bonita e delicada”, diz Mogadouro. Classificação: 14 anos.
4) As melhores coisas do mundo (2010)
O longa-metragem segue a vida de Mano, um adolescente de 15 anos com questões de relacionamento típicas desta fase. “Ele está vivendo uma crise familiar e tem medo que os amigos descubram o que se passa em sua casa e de sofrer bullying por isso”, analisa Mogadouro. Classificação: 14 anos.
Este curta-metragem mostra Maalum, uma menina negra brasileira que nasce e cresce em um lar rodeado de amor e referências afrocentradas. Ao ir à escola, porém, ela se depara com os desafios impostos por uma sociedade racista. Todos riem do seu nome, o que ela não entende. Com a ajuda de sua família, Maalum descobre o significado do seu nome e transforma a tristeza em orgulho por meio da sua ancestralidade. Classificação: Livre.
6) A menina atrás do espelho (2022)
Uma menina transgênero se refugia em seu quarto, assustada pelo monstro que a ameaça do lado de fora. Atrás do espelho, ela descobre uma nova realidade, na qual esse monstro não existe, permitindo-lhe ser livre para ser quem é ou quem quiser ser.
“É um filme que também pode render debates interessantes entre professores, que também precisam pensar questões de gênero”, ressalta Mogadouro. Classificação: Livre.
7) Hoje eu quero voltar sozinho (2014)
Leonardo é um adolescente cego que busca independência ao mesmo tempo que luta com a superproteção de sua mãe. Ele se depara com novos sentimentos quando Gabriel chega na sua escola. Classificação: 12 anos.
Veja mais:
Plano de aula – Hoje eu quero voltar sozinho
Bullying: 11 livros sobre essa prática do ponto de vista dos jovens
4 orientações para estimular alunos a não serem indiferentes ao bullying
Lidar com aluno que pratica o bullying exige mais do que uma única intervenção
Mediação de professores e alunos são armas contra o cyberbullying
Criminalização do bullying e do cyberbullying reforça combate à violência nas escolas
Crédito da imagem: fstop123 – Getty Images