O bullying é uma violência intencional e que acontece de forma constante entre estudantes em relações de desequilíbrio de poder. Envolve vítimas, agressores e também observadores, que assistem a tudo sem interferência. “85% dos presentes se comportam fingindo não ver; retraindo-se ou aderindo ao grupo dos ‘valentões’, para não se converterem em vítimas. Há, ainda, aqueles que incentivam e se divertem à custa do sofrimento alheio”, relata o pedagogo e doutor em enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP-Ribeirão Preto) Cláudio Romualdo. Como nem sempre o bullying ocorre na frente do professor, são os alunos os mais aptos a identificar a situação entre seus colegas. Segundo o educador, quando eles defendem a vítima, as intimidações na escola tendem a diminuir.

Leia também: Grupos de ajuda formados por estudantes podem contribuir para a prevenção da violência na escola

“Cabe aos educadores conscientizarem os jovens de que é preciso intervir, oferecendo canais de comunicação e escuta”, destaca Romualdo, que investigou, em seu doutorado, o comportamento de testemunhas em uma escola particular de Franca (SP). Para isso, ele entrevistou estudantes do ensino médio. “O bullying é um problema de saúde coletiva, que causa danos emocionais, psíquicos e até físicos. Não é possível mais encará-lo com atividades isoladas, mas com programas de intervenção que considerem a realidade da escola. É preciso ir além das palestras”, acredita. A seguir, ele oferece quatro orientações que podem ajudar professores da educação básica a estimular os alunos observadores a não serem mais indiferentes a esse tipo de violência.

Conheça os motivos do desengajamento

Romualdo trabalhou com a teoria do psicólogo canadense Albert Bandura, que listou pontos que fazem as pessoas – incluindo, jovens – se desengajarem em questões morais. Ao entenderem as razões pelas quais as testemunhas decidem não se envolverem, os educadores podem ajudar a reverter o quadro. “Os observadores podem culpar a vítima, deslocar a responsabilidade do agressor e buscar uma justificativa para a violência em algo que já existe na sociedade. Por exemplo, “a vítima apanhou porque era homossexual, e gays apanham’”, ilustra Romualdo.

Os espectadores também costumam usar linguagem eufemística para amenizar a situação, como ‘era brincadeira’, ‘foi só um empurrão’, entre outros. “Há ainda a distorção da consequência. Eles justificam que o aluno sofreu bullying porque era quieto, não o oposto: as agressões constantes é que faziam a vítima temer se expor e interagir com os colegas”, explica. Por fim, o especialista cita a desumanização. “O observador não mais enxerga a vítima como uma pessoa que tem sentimentos e emoções”, acrescenta.

Confira: Lidar com aluno que pratica o bullying exige mais do que uma única intervenção

A forma de intervenção depende do aluno

Romualdo lembra que não existe uma receita sobre como orientar os alunos espectadores a intervirem no bullying. “Depende de cada situação e o estudante sentirá qual é o melhor momento para tal. Caso contrário, pode sofrer violência”, adverte. Em suas pesquisas, os alunos entrevistados trouxeram alguns apontamentos sobre essa questão. Aqueles que eram amigos do agressor, por exemplo, sentiram-se à vontade para solicitar que ele parasse durante o ato. “Outros disseram que se calaram no momento da prática porque desconheciam o agressor e sentiram medo”, conta. “Meninas relataram conversar com a vítima depois do ato, encaminhando-a à coordenação pedagógica e trazendo-a para mais perto do convívio delas”.

Crie um ambiente seguro para denúncias

Para o espectador se sentir seguro para intervir em um ato de violência envolvendo pares, é preciso que ele saiba que pode contar com o apoio da escola. Isso exige uma formação ampla de todos os profissionais do ambiente escolar. “Cada observador pode se sentir mais à vontade de relatar o que viu para um professor diferente, com o qual se identifica mais. Motivo pelo qual todos devem ser formados para o assunto, ainda que haja um educador que lidere a formação e as atividades antibullying na escola. Esse nem sempre é o diretor”, pontua. Também ajuda a prevenir que professores riam da vítima em situações de chacota. “A pesquisa mostrou que o docente entra nessa armadilha em muitos casos”, diz o educador. “Não podemos falar que ele participa do bullying porque esse é um fenômeno entre pares, logo, entre alunos. Mas essas atitudes reforçam o problema”, alerta.

Trabalhe a empatia sistematicamente

A habilidade de se colocar no lugar do outro é algo complexo de ser ensinado. “Depende de capacidade psicológica e social de cada estudante. Se ele já tem esse mecanismo internalizado, seu efeito em uma abordagem de bullying será grande”, analisa. Atividades pedagógicas sistemáticas, desenvolvidas ao longo de toda a formação do estudante, podem ajudar a estimular a empatia.

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