A construção de uma personalidade ética e o incentivo à afetividade são dois caminhos importantes para combater a violência nas escolas, segundo a coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral (GEPEM- Unesp e Unicamp), Luciene Regina Paulino Tognetta.
“Respeito, generosidade e justiça são virtudes construídas a partir da relação com o meio. Então, o meio tem que dar uma oportunidade para as crianças experimentarem esse conteúdo moral. O que acontece é que, na escola, em geral os alunos experimentam esse conteúdo moral pela falta dele”, sintetiza Luciana, que é doutora em Psicologia Escolar. Confira a entrevista completa abaixo.
NET Educação – A violência na escola está vinculada a questões afetivas?
Luciene Regina Paulino Tognetta – Sim. Mas, é preciso entender o que é a violência. A violência pode ser entendida coo um conjunto de fenômenos de agressão física e verbal intencionais. Há, nessa intenção, a necessidade de rebaixamento do outro, de menosprezá-lo e de tirar a sua liberdade. Para o agressor, essa violência está relacionada a buscar uma boa imagem de si diante dos outros. Uma necessidade de se sentir pertencente e importante nesse meio. Além disso, o que leva esses meninos e meninas a serem intimidadores é que eles não têm sentimentos de vergonha e culpa integrados à sua identidade.
NET Educação – Por que a escola é palco de violências?
Luciene Regina Paulino Tognetta – É necessário pontuar que o mais comum nas escolas são as pequenas violências. Elas são mais incivilidades e indisciplinas repetitivas do que violências do ponto de vista da crueldade e da intenção. Dito isso, a causa principal das violências, no geral, são o próprio espaço escolar e a qualidade das relações nele. Ele não permite que os alunos se sintam pertencentes e atuantes tanto nos processos de decisão da escola quanto na sua aprendizagem. Ou seja, ao serem violentos, os estudantes estão gritando que a escola já não oferece aquilo que eles buscam ou precisam.
NET Educação – Como ocorre a construção da afetividade e de uma personalidade ética?
Luciene Regina Paulino Tognetta – Respeito, generosidade e justiça são virtudes construídas a partir da relação com o meio. Então, o meio tem que dar uma oportunidade para as crianças e jovens experimentarem esse conteúdo moral. O que acontece é que, na escola, em geral os alunos experimentam esse conteúdo moral pela falta dele. Os conflitos na escola irão acontecer e são necessários. A partir desse conflito, o professor pode ajudar os alunos a construírem e exercerem as virtudes que faltam neles.
NET Educação – Como se dá a formação dessa personalidade ética e afetiva na escola hoje?
Luciene Regina Paulino Tognetta – A escola, na verdade, tem a tendência de afastar-se da formação moral, ainda que tenha esse desejo e coloque o tema nos seus objetivos. Como ela não se entende claramente como agente, acaba por tentar ensinar por meio de sermões e castigos.
NET Educação – Qual caminho os professores podem seguir nesse contexto?
Luciene Regina Paulino Tognetta – O ideal é repensar seus próprios valores e a maneira pela qual eles têm olhado para os alunos. Muitas vezes, culpando a vitima, menosprezando os sentimentos dos alunos, ou colocando os estudantes em situações de humilhação e de castigo. Geralmente, isso acontece porque os profissionais não conhecem outro jeito para conduzir tais situações que seja mais equilibrado. Nesse sentido, uma formação que abarque questões éticas e afetivas é importante.
NET Educação – Como a escola deve agir para possibilitar o desenvolvimento de uma personalidade ética?
Luciene Regina Paulino Tognetta – Antes da ética, é necessária a convivência. É preciso dar espaço para os alunos falarem sobre o que sentem , o que não está certo na escola, regras que incomodam e como são tratados. E deve haver espaço também para os professores falarem como gostariam que fossem a sua aula e o que eles podem esperar dos alunos. Contudo, é necessário entender que isso não será alcançado numa investida única, mas por meio de um programa organizado e planejado visando institucionalizar essa convivência.
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