“O maior desafio para educar em direitos humanos é que se trata de valores e atitudes, não apenas aprendizagem de conhecimentos”, assinala a coordenadora de educação do Instituto Vladimir Herzog, Neide Nogueira. Ela faz parte do projeto “Respeitar é Preciso!”, que oferece formação para professores da rede municipal de São Paulo e tem como objetivo fazer do ambiente escolar uma experiência permanente de respeito mútuo. Confira a entrevista completa para o NET Educação abaixo.

NET Educação – O que é o projeto “Respeitar é Preciso!”?

Neide Nogueira – É uma proposta dirigida às escolas, baseada nas Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, no que se refere ao convívio escolar. É um convite aos educadores para analisarem o seu cotidiano e a organização da instituição, investigando situações de respeito e desrespeito que ocorrem. O passo seguinte é a elaboração um plano de ação para fazer da vivência escolar uma experiência permanente de respeito mútuo.
NET Educação – Quais os objetivos do projeto?
Neide – A formação de sujeitos de direito que respeitem e se façam respeitar, subsidiar o trabalho pedagógico para superar possíveis relações de desrespeito e violência, além de contribuir para a adoção do respeito mútuo e às diversidades no cotidiano.
NET Educação – Onde o projeto está sendo desenvolvido?
Neide – Nas 20 escolas que fazem parte dos Centros de Educação em Direitos Humanos, criados pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.
NET Educação – Como o projeto funciona?
Neide – As escolas indicam mobilizadores, que são os educadores que organizam as atividades do projeto nas escolas. O Instituto Vladimir Herzog faz a formação, organizada em duas ações: assessoria mensal local às escolas, quando uma educadora dá suporte à ação dos mobilizadores, e encontros formativos mensais com os mobilizadores de todas as escolas, para a troca de experiências. Cada escola adapta o projeto à sua realidade, que é bastante diversa dentro deste conjunto que abrange CEIs, EMEis e EMEFs.
NET Educação – Quais atores da escola são envolvidos no projeto?
Neide – O mobilizador coordena as atividades dos adultos propostas no Caderno de Orientações Gerais, que faz parte do material do projeto. A ideia é que essas atividades sejam realizadas não só pelos professores, mas também por profissionais da manutenção, da cozinha, da segurança e da secretaria. Todos são considerados educadores, uma vez que convivem com os alunos. Assim, busca-se que as práticas e atitudes trabalhadas no projeto se tornem permanentes e parte integrante da cultura da escola.
NET Educação – Como é o material pedagógico utilizado?
Neide – Além do Caderno de Orientações Gerais, há quatro cadernos temáticos: Respeito e Humilhação, Igualdade e Discriminação, Democracia na Escola e Sujeitos de Direito. Eles aprofundam essas questões focando em como elas ocorrem no dia a dia da escola e trazem atividades para os alunos.
NET Educação – Quais são os maiores desafios para educar em direitos humanos?
Neide – Trata-se de valores e atitudes e não apenas aprendizagem de conhecimentos. É importante diferenciar a educação em direitos humanos (objeto do “Respeitar é Preciso!”) da educação para direitos humanos, mais voltada para a defesa dos direitos, e da educação sobre direitos humanos, com foco na história dos direitos humanos e na compreensão da sua dimensão jurídica. Todas são importantes, mas nossa prioridade é construir um ambiente em que os direitos humanos sejam vivenciados cotidianamente.
NET Educação – O que é importante abordar na formação dos professores?
Neide – O fato de que ensinamos valores o tempo todo, queiramos ou não. A necessidade do compromisso com os direitos humanos, já que não se trata de informação apenas. A natureza dos direitos humanos, que se refere a toda a humanidade e, portanto, a todos nós, não é apenas “direito de bandido” ou “dos que necessitam”. O modo de trabalhar respeitando o direito à expressão de diferentes opiniões, entre outros.
NET Educação – Cabe aos adultos mudarem a realidade da escola?
Neide – Os alunos, assim como qualquer pessoa, só aceitam os valores de quem respeitam e só respeitam se são respeitados. É uma tarefa difícil e de longo prazo. Não se muda culturas e valores de um dia para outro. Mas essa tarefa cabe a nós que temos a responsabilidade de educar.

Veja mais: 
– Coletivo fomenta cultura na periferia 
– Direitos humanos e cinema 
– O que são os direitos humanos? 
– Alunos protagonistas, uma prática inovadora

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