Bumba Meu Boi é uma festa popular brasileira que mistura teatro, música, artes visuais e dança para contar a história da morte e ressurreição de um boi, com forte influência das culturas indígena, africana e europeia.
Acredita-se que as primeiras manifestações do Bumba Meu Boi tenham surgido no século XVIII; e, por ser uma tradição oral, sua narrativa varia de região para região do país. Segundo a pedagoga e mestre em Gestão de Ensino da Educação Básica Herbia Soares, trazer essa manifestação para as aulas de artes ajuda a preservar a cultura popular, a identidade nacional e ensina os alunos sobre herança cultural.
“O potencial pedagógico é amplo, uma vez que o Bumba Meu Boi perpassa quatro linguagens artísticas, possibilitando o desenvolvimento de habilidades como criatividade e criticidade. Mas isso só é possível se o trabalho fugir da mera representação da festa e abordar como música, dança, teatro e artes visuais se entrelaçam nas apresentações”, destaca ela, que é autora da dissertação “Bumba Meu Boi do Maracanã: um estudo no currículo de artes visuais do ensino médio no Centro de Ensino Renato Archer em São Luís-MA”.
Para o doutor em teatro Raylson Silva da Conceição, o Bumba Meu Boi sintetiza de forma criativa as três matrizes étnicas fundamentais da formação cultural do povo brasileiro — indígena, africana e europeia — gerando, em conjunto, algo novo.
“Ele incorpora técnicas, narrativas, ritmos, personagens e cosmovisões das três, transmutando-as em uma expressão que não pode ser reduzida a nenhuma delas separadamente”, justifica.
“Além disso, essa manifestação cultural transcende o folclore ou o entretenimento, sendo um complexo sistema de transmissão de conhecimentos”, defende.
Explorando as linguagens artísticas
No âmbito das artes visuais, Soares sugere explorar a plasticidade dos figurinos e adereços, com suas respectivas superfícies, volumes, luzes e cores.
“Em música, diferencie os instrumentos diversos, como as matracas, pandeirões, zabumbas, instrumentos de sopro, assim como as toadas (letra e melodia) e a figura dos cantadores: quem são e como compõem”, orienta a professora.
No âmbito da dança, pode-se analisar como cada personagem se move, gesticula e se posiciona durante as apresentações. “Enfoque as coreografias e o desenho dos movimentos”, aponta Soares.
Para completar, no campo do teatro, Silva sugere aos professores trabalhar a estrutura dramática do auto, com seu enredo de morte e ressurreição, os personagens arquetípicos (Pai Francisco, Catirina, Amo, Doutor, Cazumbás), a relação entre representação e apresentação, a espacialidade circular, a relação com o público, a dramaturgia oral e a improvisação.
A seguir, conheça cinco livros para explorar a cultura do Bumba Meu Boi nas aulas de artes.
Bumba Meu Boi Bumbá
Roger Melo, Nova Fronteira, 2015
Indicado para crianças até oito anos, o livro narra a história do Boi-bumbá. “É um boi que morre e ressuscita, que dança e encanta, pois ele é o rei do folguedo mais tradicional do povo brasileiro”, conta.
Bumba Meu Boi
Stela Barbieri, WMF Martins Fontes, 2023
Os autores recontam a história do Bumba Meu Boi para o público infantil, inspirando-se na versão maranhense do auto, em que o boi tem o “courinho todo preto, salpicado de colorido”, e encanta a todos na festa de São João.
Coração musical do Bumba Meu Boi
Heloisa Prieto, Editora Estrela Cultural, 2018
Nesta história inspirada na tradição do Bumba Meu Boi, a autora revisita obras de Mário de Andrade e Guimarães Rosa e memórias da infância.
Bumba-meu-boi
Toni Brandão, Studio Nobel, 2005
A história de Catirina, que pede ao marido a língua do boi de estimação do patrão, serve de base para apresentar os elementos centrais do Bumba Meu Boi: canto, dança, música, instrumentos e trajes coloridos, sempre com o boi como figura central do enredo.
O Boi-bumbá
Rosana Rios, Edelbra, 2015
O livro traz uma nova versão da história do Boi-bumbá, mostrando um lado diferente de um conto folclórico que muitos já conhecem. Por meio dos relatos de Mãe Catirina e do próprio boi, além de canções e ilustrações, o leitor é convidado a mergulhar nas festas populares do Brasil que celebram a morte e a ressurreição de um boi especial.
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Crédito da imagem: ilustradani – Getty Images
