As máscaras são objetos ou elementos utilizados para cobrir total ou parcialmente o rosto e que possuem função pedagógica nas aulas de teatro.
“A máscara é um objeto concreto que serve como facilitador e agiliza o processo de fantasia, provocando o imaginário e conduzindo as histórias. É um canal de comunicação, de diversão, de ilusão e mítico, integrando a ritualística do teatro”, resume o professor de Pedagogia das Máscaras na licenciatura de Teatro da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Ivanildo Piccoli.
“Apenas o ato de vestir a máscara já permite imediatamente que o aluno entre em outro estado, adentre no jogo e seja outra pessoa. O objeto permite essa interpretação mais do que dar um papel para um estudante e pedir para ele decorar um texto”, compara o docente.
“Uma simples bolinha vermelha na ponta do nariz, por exemplo, já é uma máscara de palhaço e tem essa função de diversão e de conexão”, acrescenta.
Diferentes disciplinas
Nas aulas de artes da educação básica, Piccoli indica para o professor trabalhar com os alunos com as máscaras que aparecem no circo, no teatro ou nas artes plásticas. “Uma atividade, por exemplo, é pesquisar quais os quadros de artistas brasileiros em que aparecem máscaras”, propõe.
“O aluno também pode observar como a máscara está presente no dia a dia, por exemplo, nos programas de televisão como The Masked Singer Brasil, que usam essa linguagem de esconder e de ser um duplo (ator e personagem)”, diz.
“Também pode observar as máscaras na cultura popular, nos folguedos e festas, como o bumba-meu-boi e o carnaval”, afirma.
Sobre o carnaval, os estudantes podem realizar uma oficina de máscaras. “Pode-se escolher uma fantasia, criar sua própria máscara e experimentar esse lugar do personagem e do animal na cultura popular brasileira”, destaca.
Além do campo artístico, Piccolli lembra que as máscaras podem ser estudadas em geografia, sobre como diferentes culturas, como a chinesa e a latino-americana, utilizaram esse artifício.
“Há ainda o conceito recente de mascaramento urbano, que é, por exemplo, você decorar uma praça para uma festa, como a junina. Estar nesse local, que recebeu uma cenografia, também coloca as pessoas em um estado diferente daquele do cotidiano, como se também usassem máscaras”, compartilha.
O docente ainda explica ser possível criar máscaras de animais brasileiros em diálogo com a biologia; e de personagens da literatura nas aulas de língua portuguesa.
“A matemática também se relaciona com a confecção das máscaras, que exige pensar planos, traços, geometrias e simetrias”, complementa o pesquisador.
Cuidados em aula
Para Piccoli, os professores de artes devem lançar mão de alguns cuidados ao utilizarem as máscaras em sala de aula, como apontar todas as dimensões em que elas são usadas. “As máscaras têm um caráter artístico, mas também espiritual e ritualístico, no caso do seu uso em religiões como as de matriz afrobrasileiras”, explica.
“Em contextualização, o risco é o aluno apenas brincar com a máscara e achar que aquilo é tudo”, alerta.
“Além disso, é importante orientar os alunos mais travessos para que eles não se percam no personagem. Para que, ao vestir uma determinada máscara, não maltratem colegas, falem palavrões etc.”, adverte.
A seguir, confira cinco livros para conhecer melhor as máscaras.
Teatro de formas animadas. Máscaras, bonecos, objetos
Ana Maria Amaral, EDUSP, 2011
O livro traça a história e as técnicas do teatro de formas animadas, explorando o uso de máscaras, bonecos e objetos em diversas tradições teatrais ao longo do tempo. Aborda exemplos de Bali, Grécia antiga, teatro Nô, Java, Índia, Japão e Europa Ocidental, além do grupo paulista XPTO.
O ator e seus duplos: máscaras, bonecos e objetos
Ana Maria Amaral, Senac São Paulo, 2002
Este livro, voltado para profissionais e estudantes de interpretação, também explora a atuação em seu sentido mais amplo, com foco no uso de máscaras, bonecos e objetos. Fotos de ensaios e de exercícios ilustram a obra.
Um olhar através de máscaras: uma possibilidade pedagógica
Renata Kamla, Editora Perspectiva, 2014
A obra aborda como o jogo das máscaras é essencial para a criação cênica. Abrange desde a criação de personagens com características bem definidas, como nos antigos teatros populares, até outras possibilidades vanguardistas de expressão.
Mitos, ritos e tipos no processo de criação em máscara
Cristiane Crispim Bezerra, CRV, 2020
O livro explora o processo criativo de máscaras para uma adaptação teatral de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. A pesquisa analisa a história da máscara desde os rituais até a Commedia Dell’Arte e os arquétipos sociais, passando também pela máscara como instrumento de inversão de regras sociais no carnaval.
Teatro de Máscaras
Valmor Níni Beltrame E Milton De Andrade (org.), Udesc, 2011
O livro traz um compilado de artigos sobre diversos aspectos do uso das máscaras no teatro, incluindo pela Commedia dell’Arte, pelo teatro balinês, pelos clowns, nas manifestações populares brasileiras e a máscara e seus desdobramentos tecnológicos.
Veja mais:
13 dicas para criar uma peça de teatro com os alunos
11 jogos do teatro do oprimido para aplicar em sala de aula
Confira 6 dicas para promover um ensino de artes decolonial
Crédito da imagem: Llanydd Lloyd – Unsplash