Tráfico de drogas e brigas de gangue são exemplos de violências presentes na sociedade e que podem adentrar pelos muros da escola. Contudo, a escola não é apenas uma instituição que reproduz a violência de seu entorno, como também produz a sua própria violência.

“Há tanto aquelas violências ‘duras’, como agressões e assédio sexual, como também violências verbais, com racismo, homofobia e xingamentos. Há ainda a violência institucional, presente na falta de diálogo entre professor e aluno, na relação tensa entre família e escola e nos relacionamentos em geral. Esse tipo de violência é mais difícil de ser captada e, por isso, mais difícil de ser combatida”, descreve a socióloga Miram Abramovay, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

Segundo uma pesquisa coordenada por Miriam e realizada pela Flacso, Ministério da Educação (MEC) e a Organização dos Estados Interamericanos (OEI), a violência verbal ou física atingiu 42% dos alunos da rede pública. O estudo foi realizado entre janeiro e novembro de 2015 e ouviu 6.709 estudantes, de 12 a 29 anos, em sete capitais brasileiras: Maceió (AL), Fortaleza (CE), Vitória (ES), Salvador (BA), São Luís (MA), Belém (PA) e Belo Horizonte (MG).
O colega foi o agressor em 65% dos casos, contudo, 15% dos entrevistados relataram terem sido vítimas de professores. A lista de violência praticada inclui ainda o cyberbullying (28%), furtos (25%) e ameaças em geral (21%).
Gestão democrática
Uma das hipóteses sustentadas por Miriam é que as escolas mais violentas são aquelas onde há pouca participação dos alunos na dinâmica escolar. “A participação melhora os relacionamentos entre professores, gestão, alunos e funcionários”, pontua.
A coordenadora pedagógica do EMEF João Ramos Pernambuco Abolicionista, de São Paulo (SP), Karla Cafalli, concorda. Desde 2013, a escola promove assembleias com seus estudantes para discutir problemas que vão do bullying à merenda. De acordo com Karla, casos de violência decaíram significativamente desde então.
“Antes de 2013, nossos banheiros eram depredados e aluno precisava solicitar papel higiênico para algum inspetor da escola. Hoje todos nossos banheiros possuem sabonete, espelho e papeis intactos”, relata. “Além disso, era comum chamarmos a guarda municipal para resolver brigas entre alunos. Isso também deixou de acontecer”, acrescenta.
Caso de polícia?
Segundo Miriam, a polícia ou a guarda civil devem ser acionadas apenas em casos extremos. Brigas entre alunos e problemas de relacionamento devem ser resolvidos pela própria escola. “Caso contrário, cria-se uma sensação de vulnerabilidade no aluno de que a escola não consegue resolver nada sozinha”, justifica.
O mesmo principio vale para o acionamento do conselho tutelar. “A escola resolve o que é pertinente ao regimento interno e o conselho tutelar é acionado quando se percebe desacordos com o Estatuto da Criança e do Adolescente. A abordagem deve ser direcionada para o conhecimento dos conflitos, a mediação e a reflexão”, opina a coordenadora pedagógica do Estado do Rio de Janeiro, Adriana Leira.

Para Alexandre Claro Mendes, docente do curso de Pedagogia do Complexo Educacional FMU, a construção de um espaço mais humano nas escolas públicas também ajuda no combate à violência. “A arquitetura de grande parte das escolas públicas lembra uma prisão. Criar um espaço mais humano, com salas arejadas, cadeiras confortáveis e áreas verdes ajuda esse embrutecimento desaparecer”, opina.

Veja mais:
– Educação em direitos humanos combate desrespeito e violência nas escolas
– Professor vítima de violência deve realizar boletim de ocorrência e exame de corpo e delito
– Programa NET Educação – Alunos protagonistas, uma prática inovadora

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