Conteúdos

Sexualidade na adolescência;

Diversidade Sexual;
Deficiência física;
Bullying;
Exclusão;
Autonomia.
 

Objetivos

Discutir a homofobia e os direitos de liberdade de orientação sexual;

Refletir e discutir a exclusão de pessoas portadoras de deficiências;
Discutir sobre os estereótipos de personagens homossexuais exibidos na mídia televisiva; 
Discutir sobre o desejo de autonomia na adolescência;  
Discutir o significado do termo Bullying e as várias manifestações de preconceito e exclusão na escola.
 

1ª Etapa: Início de Conversa

O longa metragem Eu não quero voltar sozinho entrou em cartaz nos cinemas em abril de 2014, com muito êxito de bilheteria. Em várias cidades médias do Brasil, jovens têm feito abaixo-assinados para que o filme seja exibido no cinema local. Esse fato já denota ansiedade da juventude em tratar da temática da homossexualidade. E, justamente por ele trazer uma abordagem muito leve e criativa, é uma ótima oportunidade de professores debaterem o tema nas escolas. A classificação indicativa do filme é de 12 anos.

2ª Etapa: Exibição do filme

Não há necessidade de muita explicação antes da exibição do filme, a não ser a apresentação do diretor Daniel Ribeiro e sua ainda pequena, mas bastante premiada, filmografia.  O (a) professor (a) pode sugerir que cada estudante anote as questões que mais o tocaram no filme, para discussão posterior. 

3ª Etapa: Debate na escola

É mais interessante que o debate sobre o filme ocorra na escola e não na sala do cinema, pois permitirá aprofundamento nas várias questões tratadas no filme. O despertar da sexualidade é tratado com muita naturalidade entre os adolescentes, mas com duas variantes que não são vistas com naturalidade: o protagonista, Léo, é cego começa a gostar de Gabriel, um aluno que chegou há pouco tempo do interior. 

 

O mediador deve proporcionar que os estudantes se expressem espontaneamente. O tema da homossexualidade pode trazer nervosismo e, com isso, piadas de mau gosto. Sem reprimi-las,  sugere-se que as aproveite para discutir a homofobia em nossa cultura.

 

O filme também trata do desejo de autonomia em relação aos pais, o que é comum entre os adolescentes. Mas a deficiência visual de Léo potencializa esse problema, dando a oportunidade de se discutir a relativa e crescente autonomia que os adolescentes vão conquistando à medida que amadurecem.

 

O filme possibilita a discussão dos seguintes temas:

 

EXCLUSÃO/BULLYNG: No filme, alunos inescrupulosos praticam buylling com Leonardo, zombando de sua deficiência, mas o protagonista demonstra segurança, dá risada da zombaria dos colegas. Quem se aborrece com isso é Giovana, sua melhor amiga. O ambiente doméstico de Léo nos mostra que ele tem boa autoestima, apesar da deficiência, e que sua família não o trata com piedade. Até mesmo a mãe, que demonstra superproteção, aproxima-se muito das mães de todos os adolescentes. O drama central do filme não é, portanto, a deficiência de Léo. Porém, há uma cena em que Léo não está protegido por seus amigos Gabriel e Giovana e ele é derrubado por seus colegas.  Apenas Karina se solidariza, mas ele opta por ir embora sozinho. Léo “some” naquela tarde. É interessante propor a discussão sobre os sentimentos de alguém que passa por situação de buylling. Por que ele não aceitou a ajuda de Karina? Por que ele não contou nada para os pais, nem denunciou os colegas à direção da escola? Por que as pessoas não gostam que sintam pena delas? Convide os alunos a se colocar no lugar de Léo e de Karina e discutirem a partir desses olhares.

 

AUTONOMIA: O que é autonomia? Pode ser uma boa pergunta pra se iniciar (ou dar continuidade) ao debate. Pode-se provocar os estudantes para que digam palavras/ideias que se relacionem com o termo “autonomia”.  Podem surgir: liberdade, responsabilidade, independência, maioridade, fim da super proteção, independência financeira, morar sozinho, mudar de cidade, fazer intercâmbio, enfim, muitas serão as ideias levantadas com esse exercício. Espera-se que emerjam termos que envolvam direitos e deveres. No caso do filme Hoje eu quero voltar sozinho, Léo deseja que seus pais se preocupem menos com ele, monitorem menos a sua vida, até porque ele deseja não ter que dar satisfação de seus atos e sentimentos. No caso desse personagem, será que a autonomia está relacionada ao despertar da sexualidade? Ele começa a sonhar com a ideia de intercâmbio para “ir para um ligar onde ninguém saiba quem você é”. Sua deficiência visual justifica a preocupação dos pais? Uma sugestão é que eles se tentem colocar no lugar dos pais de Léo. Quais as diferenças entre a mãe e o pai de Léo? É comum que pais, mães e responsáveis tenham posturas diversas na educação dos filhos? Quem os alunos acham mais adequado em relação à autonomia de Léo? Por que Léo quer a presença de Giovana e Gabriel por perto? Por que gosta deles, precisa deles, depende deles? Lembrar que, quando os colegas o derrubam, nem Gabriel nem Giovana estão com ele. Esta discussão pode ser apoiada pela leitura do trecho do artigo de Rosely Sayão (Link 6). 

 

“(…) Adolescência é tempo de amadurecer, e amadurecer significa ganhar experiência a respeito da própria vida e da vida em comum, dar duro para estabelecer planos e aprender a agir para alcançá-los, batalhar para entender que direitos e deveres caminham juntos e que toda escolha gera consequências.  Autonomia é uma conquista árdua. Não é um ganho. Os pais não podem dar autonomia aos filhos: devem ceder espaço quando eles se mostram capazes de exercê-la. Ceder a casa – espaço dos pais- para que os filhos bebam, fumem, tenham encontros íntimos, não colabora em nada para que conquistem autonomia. O adolescente ainda exige tutela dos pais, que devem ter e manter a autoridade para exercê-la. Essa atitude permitirá o acesso dos filhos à maturidade exigida pela vida adulta.“

 

PRECONCEITO: No filme, Léo é vítima de preconceito dos colegas de escola por conta de ser cego e se aproximar do colega Gabriel, o que leva colegas a desconfiarem de sua homossexualidade. Quando seus colegas o derrubam, ele não reage, sofre sozinho. Mas quando zombam do seu romance, ele tira a mão do braço de Gabriel e passa a andar de mãos dadas, dirigindo aos colegas um gesto obsceno.  Léo, neste momento, está seguro do que quer e enfrenta seus agressores. É interessante que o mediador retome com os alunos o conceito de preconceito, a começar pelo termo “pré-conceito”, uma ideia pré-concebida, uma ideia formada anteriormente, calcada em ideias cristalizadas na sociedade. Uma criança que sempre ouviu adultos insultarem negros, fazerem piadas, crescerá com esse julgamento. Numa sociedade herdeira da escravidão, a cor da pele “determinava” a condição social de uma pessoa e o seu caráter. O preconceito é cristalizado em nossa sociedade com tudo o que representa “o outro”, aquele que não é igual a mim, portanto, me incomoda, me desafia, me faz pensar, me ameaça.

 

HOMOFOBIA: A homofobia é um sentimento de horror às pessoas que não são heterossexuais, entendendo qualquer diferença como anormalidade ou doença. É comum nas escolas casos de violência física contra gays. Segundo nossa constituição, é proibido que uma pessoa seja tratada de forma inferior por ser “diferente”. Ninguém pode ser descriminado ou insultado por sua condição sexual, gênero, etnia/cor, classe social, grau de instrução, opção religiosa, faixa etária, nacionalidade ou posição política/ideológica. Muitos jovens hoje em dia assumem sua homossexualidade na escola, outros não, mas o medo e a vergonha são uma constante.  Todos nós nascemos em uma sociedade preconceituosa, portanto, não se trata de culpar, mas de identificar ideias, atitudes e pensamentos e refletir sobre eles. A abordagem pode ser feita a partir da mudança na mídia (por exemplo, é recente o primeiro beijo gay numa novela), na ocupação dos espaços públicos (casais gays hoje trocam carinho em público, participam de Paradas de orgulho Gay). Vale levantar com os alunos como percebem estas mudanças. A questão religiosa poderá emergir, já que algumas igrejas pentecostais desvalorizam os elementos da cultura afrodescendente e não aceitam a homossexualidade. É importante que o  professor se posicione com base na nossa constituição de que todos os brasileiros têm liberdade religiosa, porém, a liberdade de cada pessoa cessa nos limites da liberdade do outro. Um bom exercício é perguntar a algum aluno que se manifeste mais radicalmente contra a diversidade sexual por motivos religiosos se ele gostaria que sua prática religiosa fosse proibida ou alvo de violência.  A Escola não deve se omitir nesta questão ou se isentar do debate. Ao contrário, o filme em questão é uma obra que facilita a reflexão sobre a alteridade e permite que a Escola cumpra seu papel transformador, não contribuindo para a sedimentação do preconceito e da homofobia. Para essa fundamentação, existem as diretrizes da Educação em Direitos Humanos, lembrando sempre que a escola brasileira é laica.

 

O filme, em contraponto a isso, apresenta com muita naturalidade a aproximação amorosa de Léo e Gabriel. O grande “drama” do roteiro é o frio na barriga de Léo para saber se seu sentimento é correspondido ou não. O diretor trata o amor entre os meninos como algo natural e nos faz sentir o mesmo. Outro “problema” da narrativa é o ciúme de Giovana, que é tratado de forma muito natural e tem conseguido adesão dos adolescentes, pela forma engraçada e singela que a personagem se comporta no filme. 

 

Materiais Relacionados

1. As questões da diversidade sexual e da liberdade de orientação sexual integram as diretrizes da Educação em Direitos Humanos. Em 2004, o governo federal, lançou o programa "Brasil sem Homofobia". Foi distribuído um documento de orientação aos educadores com vários artigos, disponível em http://www.ypinaction.org/files/01/94/Homophobia_in_schools.pdf

 

O documento pode ser um ponto de partida para que os professores, juntos, elaborem práticas de combate ao preconceito e à exclusão.  

 

2. No Portal NET Educação, um plano de aula com o tema Adolescência e Sexualidade, que contempla três filmes brasileiros http://www.neteducacao.com.br/experiencias-educativas/fundamental-i/cinema/adolescencia-e-sexualidade.

E também o plano de aula com foco no  curta metragem curta Eu não quero voltar sozinho, do mesmo diretor.

É possível propor um projeto especial sobre o tema com todos os filmes sugeridos.

 

3. O documentário Janela da Alma, de João Jardim e Walter Carvalho traz a reflexão sobre a cegueira e a autonomia dos deficientes visuais. Pode ser usado na preparação para o filme deste plano. O plano de aula está no Portal NET Educação no link: http://www.neteducacao.com.br/experiencias-educativas/ensino-medio/artes/cinema-e-educacao-janela-da-alma

 

4. A deficiência visual de Leonardo, protagonista do filme, permite uma discussão sobre o movimento (historicamente recente) da sociedade civil em torno da inclusão de deficientes físicos. O conhecimento sobre as tecnologias assistivas pode ser aprofundado no link http://www.brasil.gov.br/ciencia-e-tecnologia/2010/08/tecnologia-assistiva, assim como as possibilidades de avanço na inclusão de deficientes visuais podem ser acompanhadas no link da Associação Laramara: http://laramara.org.br/. 

 

5. Ainda há muitos desafios para a escola conseguir cumprir as metas governamentais de Educação Para todos. Os temas sobre a sexualidade estão entre os mais difíceis de serem abordados. A matéria do site Outras Palavras aborda essas dificuldades, no link:  http://outraspalavras.net/brasil/educacao-o-desafio-da-transexualidade/.

 

6. A psicóloga Rosely Sayão escreveu um artigo provocador sobre a autonomia dos adolescentes, disponível no link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq1405200925.htm.

 

7. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) encontra-se disponível no arquivo: http://unicrio.org.br/img/DeclU_D_HumanosVersoInternet.pdf

 

Arquivos anexados

  1. Cinema e Educação_Hoje eu quero voltar sozinho
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