As nove obras que integram a lista de leituras obrigatórias do vestibular da Universidade de São Paulo (USP), em 2021, são analisadas por professores de literatura e escritor em uma série exclusiva de podcasts. Cada áudio se dedica a uma das publicações, refletindo sobre suas principais características literárias e históricas. Na Fuvest, os livros selecionados fazem parte da prova de português e representam diferentes períodos das literaturas brasileira, portuguesa e africana.
Em relação à lista do ano passado, despendem-se “Sagarana”, de Guimarães Rosa; “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo e “Minha Vida de Menina”, de Helena Morley. Já as novidades de 2021 ficam por conta de “Campo Geral”, também de Guimarães Rosa; “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles e “Nove Noites”, de Bernardo Carvalho. Este último é o entrevistado do podcast que analisa os principais pontos de sua obra.
“Poemas Escolhidos”, Gregório de Matos
A antologia de poemas de Gregório de Matos foi elaborada nos anos 1970 pelo professor de literatura brasileira da USP, José Miguel Wisnik. Ele é o entrevistado deste podcast. O poeta Gregório de Matos marcou a poesia feita no Brasil no século 17 e se tornou conhecido pela poesia satírica, que lhe conferiu o apelido de “Boca do Inferno”.
“Quincas Borba”, Machado de Assis
A professora de literatura do Cursinho da Escola Politécnica da USP, Eva Albuquerque apresenta os aspectos mais relevantes da obra para os estudantes. Pessimismo, humor e ironia servem, na narrativa, para criar uma crônica do cotidiano das pessoas da alta sociedade.
“Claro Enigma”, Carlos Drummond de Andrade
O livro foi escrito no período pós-segunda guerra, evento que sepultou as promessas de desenvolvimento e as conquistas prometidas pela modernidade. Assim, “Claro Enigma” traz um Drummond desiludido e cansado de seu tempo. De acordo com o professor de literatura brasileira da USP, Alcides Villaça, a obra também apresenta um desligamento da fase modernista do autor.
“A Relíquia”, Eça de Queirós
A obra apresenta situações que promovem um diálogo entre verdade e fantasia, mostrando como essa primeira pode ser construída. O autor se dedica a uma literatura realista e, ao mesmo tempo, repleta de invenções. Para falar sobre o livro, foi entrevistado o professor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH/USP, Helder Garmes.
“Mayombe”, Pepetela
Pepetela é o pseudônimo do angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos. A obra foi escrita entre 1970 e 1971, quando o autor participava da guerra pela libertação de seu país. Ela mergulha na organização dos combatentes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) contra o domínio português. Na trama, os guerrilheiros lutam no interior da densa floresta tropical de Mayombe e confrontam-se não apenas com as tropas coloniais, mas com as diferenças culturais e sociais existentes entre os combatentes, que buscam superá-las por uma Angola unificada e livre.
“Angústia”, Graciliano Ramos
O livro foi publicado no ano de 1936, época em que o escritor estava preso pelo governo Vargas. Apesar de o personagem central, Luís Silva, ser apresentado em sua jornada existencial, na obra, o romance social também está presente de maneira importante. “Ela é lançada em um ambiente autoritário, repressor, no momento de ascensão do nazifascismo. Esse enquadramento de época é algo a ser levado em conta”, explica o professor do Programa de Pós-Graduação e Estudos Comparados de Literatura e de Língua Portuguesa, da FFLCH/USP, Thiago Mio Salla.
“Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles
Poucos livros de poesia se dedicaram a acontecimentos históricos, o que torna essa obra lançada em 1953 tão especial. Nela, Meireles usa o gênero para retratar revolta mineira de 1789. “O apreço pela liberdade é mesmo uma bandeira que deve inspirar a nossa necessidade dela, leia-se democracia, nos dias de hoje”, analisa o professor de literatura do colégio Anglo de São Paulo (SP), Paulo Oliveira.
“Nove Noites”, Bernardo Carvalho
Para tentar desvendar a morte do antropólogo norte-americano Buell Quain – que em 1939 se suicidou após a estada em uma aldeia indígena brasileira – o autor utiliza diferentes estilos literários, transitando entre a ficção e a realidade. Em “Nove Noites”, há cartas, páginas de anotações de um diário e reproduções fotográficas. Em entrevista, o autor aponta questões da atualidade que lembram aquele período, como a ditadura Vargas. “É um Estado obviamente anti-intelectual, porque as ideias ameaçam”, diz.
“Campo Geral”, João Guimarães Rosa
A obra foi publicada pela primeira vez em 1956 como uma das novelas do livro “Corpo de Baile”. Pertencente à terceira fase do Modernismo e marcada pelo regionalismo, ela traz a oralidade característica do autor. “As palavras inventadas, ou aquelas palavras que são palavras antigas, mas que a gente não conhece ou não lembra, ele usa de um modo que parece que ele inventou”, explica o professor de literatura do Anglo Vestibulares, Henrique Balbi.
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