Sete obras de gêneros diversos e de fácil acesso integram a lista de leitura obrigatória do vestibular 2021 da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Por conta do contexto da pandemia do coronavírus (covid-19), a Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) reduziu a lista de livros indicados, tradicionalmente composta por 12 títulos. O motivo é a dificuldade de acesso a bibliotecas por estudantes da rede pública e privada de todo o país
As obras do vestibular Unicamp 2021 são de domínio público e podem ser encontradas gratuitamente no site Comvest. Confira essa seleção de podcasts que abrange todas elas. . Cada áudio conta com a participação de um especialista, que analisa as principais características literárias e históricas do livro em destaque.
Novidade na lista da Unicamp deste ano, o livro trata da influência do meio sobre o sujeito (determinismo). “O colégio interno Ateneu exerce influência sobre a formação do indivíduo, principalmente o Sérgio, mas também sobre os outros alunos”, destaca o mestre em teoria literária pela Unicamp e professor de literatura do Anglo, Fernando Marcílio, entrevistado no podcast.
“O livro fala sobre as dificuldades que um adolescente enfrenta num colégio. Para figurar, para representar bem isso, o que o narrador [Sérgio] faz? Torna a sua escrita difícil, árdua para o leitor. Assim, quando quem lê sente dificuldade, ele, de alguma forma, se aproxima da situação que o próprio Sérgio enfrenta no colégio”, ressalta o professor.
O Marinheiro, de Fernando Pessoa
A peça “O Marinheiro”, de Fernando Pessoa, também estreia na lista deste ano. A obra mistura realidade, sonhos e expectativas de três irmãs. A cena se passa em um velório, em que uma delas comenta sobre um sonho que teve com a figura desse profissional. Segundo o professor e coautor do material de português do Sistema Anglo, Eduardo Calbucci, a peça promove uma fusão de planos narrativos. “Isto dá a sensação de que as personagens, tal qual o marinheiro do sonho, também não sabem se o que elas estão vivendo é realidade ou fruto da imaginação”, diz.
Sobrevivendo no Inferno, de Racionais MC’s
No álbum, lançado em 1997, cada letra de música ganha o patamar de um capítulo. O professor de música do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo (USP), Walter Garcia da Silveira Junior, analisa os recursos de linguagem utilizados, assim como a escolha do estilo épico de narrativa. “Você tem um narrador que constrói suas histórias, seus relatos na intersecção entre sua própria experiência, que é a experiência do rapper, e a experiência da sua coletividade”, destaca.
O Espelho, de Machado de Assis
O conto de 1882 utiliza uma perspectiva crítica, irônica e pessimista, iniciada na obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Segundo o professor de literatura do Cursinho da Poli, Cláudio Caus, o início da década de 1880 foi marcado pelo movimento abolicionista e em prol do fim da monarquia. “O conto, além de expressar a universalidade característica dos realistas, também tem como pano de fundo este contexto histórico-cultural brasileiro”, destaca.
A Falência, de Júlia Lopes de Almeida
Lançada em 1901, a obra é considerada um marco da transição entre as literaturas dos séculos 19 e 20. Há uma reprodução da sociedade do período, que evidencia problemas econômicos, morais e étnicos ainda não resolvidos nos dias de hoje. “Existe um incômodo histórico da autora, porque, em muitos livros pregressos – ‘Ana Karenina’, ‘Madame Bovary’, ‘Primo Basílio’ –, os casos extraconjugais levam a mulher à morte”, avalia o professor de literatura do Cursinho da Poli, Murilo Gonçalves.
Sermões de Quarta-feira de Cinza, de Antônio Vieira
Escritos no século 17 pelo jesuíta português Antônio Vieira (1608 – 1697), os três sermões de Quarta-feira de Cinza – produzidos para pregações nessa data – tratam da morte como cerne da consciência cristã. Os textos são discutidos pelo professor de literatura do Cursinho da Poli, Frederico Barbosa. A reunião desses três sermões traz argumentos relativos à eternidade, à hora da morte e às misérias da vida e dos vivos.
Sonetos escolhidos, de Luís Vaz de Camões
Para o vestibular de 2021, a Unicamp indicou como leitura obrigatória 20 sonetos de Luís Vaz de Camões. “Na seleção, o amor é o tema central. Neste sentido, alguns sonetos trabalham o neoplatonismo, em que o ideal é visto como mais interessante do que o real”, destaca no podcast o professor de literatura do Cursinho da Poli, de São Paulo, Frederico Barbosa.
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