Diversidade é uma das características da lista obrigatória de livros do vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para 2020. Além de ter inovado com a presença do álbum “Sobrevivendo ao inferno”, do grupo Racionais MC’s, a instituição destacou obras importantes das literaturas brasileira e portuguesa, com escritores negros, autoras e diferentes correntes literárias. Além disso, a relação traz romances, poemas, contos e peças teatrais.

Nesse especial, os vestibulandos que estão se preparando para a 2ª fase poderão ouvir uma seleção de podcasts sobre as 12 obras solicitadas. Cada áudio, analisa as principais características literárias e históricas do livro em destaque.

“Sobrevivendo no Inferno”, de Racionais MC’s
No álbum, lançado em 1997, cada letra de música ganha o patamar de um capítulo. O professor de música do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo (USP), Walter Garcia da Silveira Junior, analisa os recursos de linguagem utilizados, assim como a escolha do estilo épico de narrativa. “Você tem um narrador que constrói suas histórias, seus relatos na intersecção entre sua própria experiência, que é a experiência do rapper, e a experiência da sua coletividade”, destaca.

“A teus pés”, de Ana Cristina César
Publicado em 1982, é o último livro da poeta, que se suicidou um ano mais tarde. César é uma das principais estrelas da geração mimeógrafo da década de 1970, que levou intelectuais e artistas a buscarem meios alternativos de difusão cultural. O texto é analisado pelo professor de letras da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Carlos Eduardo Siqueira. Ele destaca sua intertextualidade. “Há presença de textos de outros autores ou alusões a outras obras. No entanto, muitas vezes, ela faz isso sem indicação. Você acha que está lendo um texto totalmente escrito por ela, mas, na verdade, tem outra pessoa ali falando”, ressalta.

“Sagarana”, de Guimarães Rosa
O livro de Guimarães Rosa mostra a realidade do sertão. “Ele tem uma visão da região como o lugar dominado pelas armas, pela lei do mais forte, traição e busca da vingança. É um lugar onde a justiça não chegou, as instituições não chegaram”, pontua o professor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), Luiz Dagobert de Aguirra Roncari.

“O Espelho”, de Machado de Assis
O conto de 1882 utiliza uma perspectiva crítica, irônica e pessimista, iniciada com “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Segundo o professor de literatura do Cursinho da Poli, Cláudio Caus, o início da década de 1880 foi marcado pelo movimento abolicionista e em prol do fim da monarquia. “O conto, além de expressar a universalidade característica dos realistas, também tem como pano de fundo este contexto histórico-cultural brasileiro”, destaca.

“O Bem-Amado”, de Dias Gomes
Na trama, Odorico Paraguaçu é eleito prefeito da fictícia cidade litorânea da Bahia tendo como plataforma política o “construimento” do cemitério da cidade, que acontece com desvio de verbas públicas. No entanto, depois que fica pronto, diante da falta de um defunto para inaugurar a obra, o prefeito faz uso da falta de ética. O autor segue a tradição da comédia de costumes e usa a farsa. “A farsa fala de acontecimentos burlescos, pitorescos que acontecem no dia a dia entre as pessoas, por meio de personagens caricaturais”, descreve o professor de literatura do Cursinho da Poli, Claudio Caus.

“A Falência”, de Júlia Lopes de Almeida
Lançada em 1901, a obra é considerada um marco da transição entre as literaturas dos séculos XIX e XX. Há uma reprodução da sociedade do período, que evidencia problemas econômicos, morais e étnicos ainda não resolvidos nos dias de hoje. “Existe um incômodo histórico da autora, porque, em muitos livros pregressos, ‘Ana Karenina’, ‘Madame Bovary’, ‘Primo Basílio’, os casos extraconjugais levam a mulher à morte”, avalia o professor de literatura do Cursinho da Poli, Murilo Gonçalves.

“Caminhos cruzados”, de Erico Verissimo
O livro é analisado pela mestre em literatura e crítica literária, Beatriz Badim de Campos. “Ele aborda a miséria social nas grandes metrópoles, as mazelas burguesas, a corrupção da engrenagem social, a falência dos valores morais e éticos em detrimento de benesses políticas, por exemplo, de uma forma a não propor soluções ou defender um único ponto de vista, mas de refletir esses temas no espaço democrático do romance”, afirma Campos.

“História do Cerco de Lisboa”, de José Saramago
Lançado no final dos anos 1980, “História do cerco de Lisboa” faz parte da série de romances históricos do escritor português José Saramago. Na trama, Raimundo Benvindo Silva é um humilde revisor de textos. Ao trabalhar em uma obra sobre o cerco de Lisboa – que aconteceu em 1147 – , comete, propositalmente, um erro. “Se há fatos reais que não entraram na história e outros entraram, às vezes, nem tão verdadeiros, é a literatura que pode corrigir isso”, resume a professora de redação do Cursinho da Poli, Eva Albuquerque. De acordo com a professora, a escolha deste livro em vestibulares pode gerar discussões sobre temas atuais, como as fake news.

“Quarto de despejo”, de Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus (1914-1977) é considerada uma importante escritora negra do Brasil. A autora viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, na zona norte de São Paulo (SP), sustentando a si e seus três filhos, como catadora de papéis. Em 1958, foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, que se deparou com o diário da escritora. A obra retrata o ponto de vista de uma pessoa em situação de vulnerabilidade social sobre temas como a fome, a condição da mulher, a situação do negro e os problemas sociais do país.

“Sermões de Quarta-feira de Cinza”, de Antonio Vieira
Escritos no século 17 pelo jesuíta português Antonio Vieira (1608 – 1697), os três sermões de Quarta-feira de Cinza – produzidos para pregações nessa data – tratam da morte como cerne da consciência cristã. Os textos são discutidos pelo professor de literatura do Cursinho da Poli, Frederico Barbosa. A reunião desses três sermões traz argumentos relativos à eternidade, à hora da morte e às misérias da vida e dos vivos.

“Sonetos”, de Luíz Vaz de Camões
Para o vestibular de 2020, a Unicamp indicou como leitura obrigatória 20 sonetos de Luís Vaz de Camões. “Na seleção, o amor é o tema central. Neste sentido, alguns sonetos trabalham o neoplatonismo, em que o ideal é visto como mais interessante do que o real”, destaca o professor de literatura do Cursinho da Poli, de São Paulo, Frederico Barbosa, no podcast. 

“A cabra vadia”, de Nelson Rodrigues
O professor de literatura do Cursinho da Poli, Murilo Gonçalves, analisa a obra, que reúne uma seleção de crônicas do “anjo pornográfico” publicadas no jornal “O Globo” nos anos de 1967 e 1968. Nelas, Rodrigues analisa o cenário político do período e reafirma suas visões reacionárias. Jovens marxistas, igreja progressista e jornalistas estão entre os atacados. As crônicas ainda apresentam entrevistas imaginárias, em que cria situações absurdas envolvendo seus desafetos políticos. 

Veja mais:
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Crédito da imagem: RossHelen – iStock

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