“Drummond quase que decreta pra
si mesmo: e como ficou chato ser
moderno, agora serei eterno.”
(Alcides Villaça)
A obra “Claro Enigma”, lançada há 65 anos, é a nova leitura exigida para o vestibular da Fuvest. Nela, o leitor encontrará um Carlos Drummond de Andrade desiludido, cansado de seu tempo. O livro foi escrito no período pós-segunda guerra, evento que sepultou as promessas de desenvolvimento e as conquistas prometidas pela modernidade.
De acordo com o professor de Literatura Brasileira da FFLCH-USP, Alcides Villaça, a obra traz “uma poesia de muita melancolia, de alta consciência e que soa como uma espécie de apagamento do tempo”. Há um desligamento da fase modernista: “é uma maneira de se desvencilhar do tempo histórico e entrar numa espécie de latitude cósmica, onde a poesia é incomunicável, onde o eu já não tem remédio e onde o mundo também não tem conserto”.
Na obra, Drummond está mais filosófico e reflexivo, aborda temas como a ausência, a vida e o amor. Para versar sobre aflições da alma, recorre a uma escrita rebuscada, que havia sido deixada de lado pela geração modernista, da qual fez parte. “Ele vai aos sonetos, aos decassílabos heroicos, a poemas de um corte camoniano, como ‘A Máquina do Mundo’”. A linguagem se sofistica.
No áudio, o professor Villaça aborda o contexto em que o livro está inserido na obra do poeta itabirano e lê uma das poesias de “Claro Enigma”: “Um boi vê os homens”.
Drummond já era o autor preferido de Alcides Villaça antes mesmo de chegar à universidade. Mas foi a partir do estudo no mestrado que o poeta entrou de vez na vida de Alcides. Nunca mais ele deixou de dar cursos sobre o autor e sua obra. Sobre ele, escreveu o livro “Passos de Drummond”.

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Créditos: as músicas utilizadas no áudio, por ordem de entrada, são “Onde Deus possa me ouvir” (Vander Lee) com Gal Costa, “Perguntas em forma de cavalo marinho” (Drummond) com Belchior e “Cantilena Prévia” (Drummond) com Reynaldo Bessa.