O patriarcado representa um sistema social e cultural em que o poder e a alteridade se concentram e privilegiam homens. Essa estrutura hierarquizada é secular e influencia comportamentos, expectativas e papéis atribuídos aos gêneros, perpetuando desigualdades.

“No patriarcado, a figura masculina é o centro de poder na política, da vida social, econômica e cultural em detrimento da mulher”, resume a doutora em ciências sociais e pesquisadora de relações de gênero Bruna Camilo de Souza Lima e Silva.

Para entender mais como esse sistema opera e influencia todas as pessoas, separamos nove principais dúvidas esclarecidas por profissionais que estudam o patriarcado e suas manifestações. Confira.

Qual o significado do termo patriarcado?

A doutora em História e coordenadora do grupo de pesquisa de gênero, trabalho e políticas públicas da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), Isabela Candeloro Campoi, explica que o termo tem origem nas palavras gregas pater (pai) e arkhe, (comando).

“A expressão se refere a uma forma de organização familiar e social em que o homem, o patriarca, comanda e submete os demais membros da família, exercendo seu poder de forma arbitrária e sem questionamentos”, explica.

“Por conta disso, uma sociedade identificada como patriarcal é opressora e busca calar quem está submetido ao poder do patriarca, ou seja, do homem. A partir disso, o termo passou a ser usado pela literatura feminista para falar sobre as relações de poder às quais as mulheres foram secularmente subordinadas ao gênero masculino”, acrescenta.

O que é o patriarcado?

É um sistema milenar, no qual o poder político, econômico, simbólico está centrado nos homens e os beneficiam.

“É o poder do homem sobre a mulher ou ‘o poder é do homem’, variando historicamente a forma como ele opera”, resume a doutora em sociologia e coordenadora do Laboratório Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Violência, Gênero e Sexualidade (ATENA-Unipampa) Jaqueline Carvalho Quadrado.

Quais as possíveis origens do patriarcado?

Embora não sejam precisas, estima-se que estejam relacionadas à origem da propriedade privada e da agricultura, no momento em que o homem deixou o nomadismo e se fixou à terra.

“Começou um controle do corpo da mulher, que terá os filhos para assim manter a propriedade e a herança. As relações desigualdades se sustentaram na medida que o capitalismo foi se fortalecendo”, destaca Silva.

Outra possível origem remete à Roma Antiga e ao conceito de família romana, que tinha o homem como centro e as mulheres como subordinadas.

“Essa composição social refletiu no Direito Romano com o termo paterfamilias, já que o homem, por parentesco ou direito, teria poder absoluto sobre sua família”, esclarece Campoi.

“Isso gerou uma concepção de família e uma organização de poder entre indivíduos que influenciou toda a estrutura social da humanidade”, enfatiza Quadrado.

Ao longo do tempo, essa concepção do homem como a figura detentora de autoridade, poder político e econômico foi assimilada pelas sociedades ocidentais cristãs, chegando ao Brasil durante a colonização.

“Assim, podemos afirmar que nossa origem social, cultural e institucional é toda inspirada e baseada no sistema de valores do patriarcado”, analisa Campoi.

“É válido ressaltar que esse poder e dominação não são resultados de uma determinação biológica baseada na diferença sexual. É uma dominação de uma classe de pessoas (mulheres) que se perpetuou por meio da família e da divisão do trabalho”, esclarece Quadrado.

Como o patriarcado se manifesta na nossa sociedade?

“Pelo sexismo, que é a discriminação por gênero ou orientação sexual; pela misoginia, que é o sentimento de ódio, aversão ou desprezo pelos valores femininos; e machismo, entendido como o comportamento, preconceito, opiniões e atitudes que rejeitam a igualdade entre homens e mulheres”, sintetiza Quadrado.

“Nos sistemas patriarcais, as mulheres estão em patamar de desigualdade tendo uma série de obrigações em relação aos homens, tais como manter relações conjugais mesmo contra sua vontade, cuidar etc.”, complementa a socióloga.

Para Silva, o patriarcado também se manifesta predominantemente na violência. “Ela é usada para dominar e manter essa relação de poder estrutural, seja de forma física, psicológica, patrimonial, simbólica, entre outras”, acrescenta.

Quais as características de uma sociedade patriarcal?

As pesquisadoras citam algumas:

  • Ser baseada na autoridade masculina;
  • Homens são privilegiados nos espaços de poder;
  • Meninos e homens são educados para comportamentos que controlam e mantêm poder sobre as mulheres;
  • Mulheres são educadas e socializadas para serem obedientes e subordinadas aos homens na esfera doméstica e privada;
  • Há a desvalorização do trabalho doméstico;
  • Há desigualdade salarial por gênero;
  • Desqualifica-se tudo o que remete ao feminino;
  • Estereotipagem da mulher como fraca, vulnerável e incapaz;
  • Há violência política de gênero;
  • Mulheres estão na base de profissões e ocupações de prestígio, não em posição de lideranças;
  • A sexualidade e reprodução da mulher é controlada;
  • Empecilhos para ascensão profissional de mulheres em ambientes de poder;
  • Mulher e outros sujeitos que fogem à norma, como população LGBTQIAP+, são invisibilizados.

Quais são os principais efeitos do patriarcado na vida das mulheres?

“Violência doméstica e familiar – tais como física, psicológica, moral, sexual e patrimonial – e violência política. Todas constituem violação de direitos humanos”, lembra Quadrado.

A carga mental, controle, imposições e apagamentos também impactam na saúde mental e física das mulheres. “Incluindo depressão, transtornos de ansiedade, gravidez não planejada, infecções sexualmente transmissíveis por seus parceiros, entre outras”, acrescenta a socióloga.

Qual a diferença do patriarcado para o machismo?

O machismo é um produto e expressão do patriarcado. “São os comportamentos, atitudes, narrativas que objetivam desqualificar as mulheres”, ensina Quadrado.

Que formas de resistência têm surgido contra o patriarcado?

Jaqueline Quadrado explica que o movimento feminista, principalmente a partir da década de 1970, impulsionou mobilizações, protestos, denúncias e a criação de legislações para enfrentar esse sistema de dominação e exploração.

“Engana-se quem pensa que as feministas buscam instaurar um matriarcado, que substituiria uma forma de dominação pela outra. Seu objetivo é colocar todos e todas em igualdade”, pontua a socióloga.

Quadrado ainda cita a sororidade como forma de resistência. “Ela desafia as estruturas de poder e promove a igualdade”.

Isabela Campoi destaca recentes mudanças na legislação e na cultura como ganhos. “Essa gama de ideias sobre as mulheres, que as desqualificavam e as diminuíam, tem mudado nos últimos anos”, comemora.

Quais são os caminhos para a transformação do patriarcado e construção de uma sociedade igualitária?

Bruna Silva destaca educação e conscientização. “Isso evita que uma nova geração reproduza essas violências”.

“O patriarcado deve ser questionado em todas as instâncias da sociedade, incluindo esses papéis sociais que oprimem mulheres e as colocam como seres menores na composição social”, acrescenta Campoi.

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