O termo misoginia é utilizado para se referir a expressões e comportamentos que sinalizam desprezo, repulsa, desrespeito ou ódio às mulheres.“Alguns exemplos são desqualificar mulheres; impedir que elas verbalizarem opiniões e pontos de vista; intimidá-las; praticar gaslighting; praticar violências verbal, física, psicológica, moral, patrimonial e sexual; e, por fim, o feminicídio – um crime de ódio baseado no gênero”, lista a professora e coordenadora da Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulher, Gênero e Feminismo (PPGNEIM) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Márcia Tavares.

Segundo a pesquisadora, o que causa a misoginia é uma cultura machista e sexista que reforça a superioridade masculina, ao mesmo tempo que desvaloriza, inferioriza e anula a mulher.“A misoginia contribui para assegurar a desigualdade de gênero. Ou seja, que as relações de poder assimétricas entre homens e mulheres persistam e que haja uma supremacia masculina”, pontua.

Leia também: Como identificar relacionamentos abusivos? Cartilha do MP orienta garotas

Termos diferentes, mas correlatos

A misoginia é diferente de outros termos, como sexismo, machismo e patriarcado.“O sexismo é a crença de que homens e mulheres têm características, funções, posições e oportunidades diferentes com base no sexo biológico. Ou seja, há uma oposição binária, em que o homem é viril e racional, e a mulher é delicada, sensível etc. Por exemplo, ‘lugar de mulher é cuidando da casa e da família, não na política’”, diferencia Tavares.“Já para o misógino, isso se manifesta em agressões e desprezo por mulheres que ousam invadir um espaço tido como masculino, como no exemplo da política”.

O machismo, por sua vez, é a crença transmitida por gerações de que os homens são superiores às mulheres, e que estas devem ser submissas a eles.“A misoginia consiste em um comportamento agressivo, de aversão às mulheres, enquanto o machismo atua de forma mais branda, sutil, quando naturaliza um sentimento de superioridade dos homens”, explica a pesquisadora.

Para completar, o patriarcado é um sistema social em que toda estrutura, cultura e relações desenvolvidas são direcionadas a colocar e manter os homens no poder.“A ideologia patriarcal legitima a objetificação das mulheres, consideradas propriedades dos homens que detêm poder sobre seus corpos e vidas. O ódio se intensifica quando a mulher não se mostra submissa e o feminicídio é a forma de violência mais extrema”, ensina Tavares.

Leia também: Projeto promove atividades com diálogo para alunos desconstruírem machismo

Educar para mudar

Como a misoginia é reflexo de uma construção social machista e que perpassa todas as pessoas independente do sexo biológico, mulheres também podem ter atitudes misóginas.“Pode haver mulheres que defendem valores preconceituosos, reforçam e naturalizam a submissão das mulheres aos homens e condenam aquelas que se negam a desempenhar os papeis de gênero convencionais. Assim, antagonizam com outras mulheres sem se darem conta”, lembra a pesquisadora.

Para Tavares, lidar com a misoginia exige apontá-la e expor comportamentos misóginos no dia a dia. “Isso permite discutir amplamente para que as pessoas compreendam o quanto ela é nociva e perigosa. Além disso, é preciso educar os mais jovens e desenvolver campanhas de prevenção. Isso desconstrói as convenções e hierarquias de gênero que contribuem para que comportamentos e atitudes misóginas sejam reproduzidos e tolerados”, justifica.

Em caso de sofrer ou testemunhar atitudes misóginas, é indicado se posicionar contra e denunciá-las seja na polícia, no Ministério Público e, no caso de empresas, para lideranças e área de recursos humanos. Atualmente, em termos de legislação, a Lei nº 13.642/2018 (Lei Lola) atribui à Polícia Federal a investigação de crimes online que propaguem o ódio ou a aversão às mulheres.

Além disso, tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que inclui a misoginia na Lei 7.716/ 1989, que trata dos crimes de racismo, homofobia e transfobia.

A seguir, conheça 24 comportamentos e ações que são exemplos concretos de misoginia no cotidiano.

1) Usar expressões que possam indicar a inferioridade da mulher, como: “mulher não sabe dirigir”, “mulher é frágil”, “mulher é sensível demais”, “colocar a mulher em seu lugar”, entre outras.

2) Classificar como arrogantes e mandonas mulheres que expressam suas opiniões.

3) Dizer que a mulher é incapaz de exercer determinada ação ou atividade por ser mulher.

4) Em seleções, beneficiar homens na hora de escolher entre ele e uma mulher.

5) Interromper uma mulher quando ela está falando (manterrupting).

6) Rejeitar a ideia de uma mulher para depois se apropriar dela, apresentando-a como sua (bropropriating).

7) Culpabilizar a mulher por um fracasso amoroso ou sexual (slut-shaming).

8) Esperar que as mulheres mantenham a harmonia social e emocional em um ambiente de trabalho ou relacionamento (emocional labor).

9) Explicar algo para uma mulher, assumindo que ela não entenda sobre o assunto (mansplaining).

10) Culpabilizar a mulher vítima de assédio, abuso ou importunação sexual (“Ela mereceu”, “usava roupa curta”).

11) Dizer que o homem “ajuda” nas tarefas do lar, o que subentende que o trabalho doméstico não é uma obrigação compartilhada entre ambos os gêneros.

12) Deslegitimar a opinião ou percepção de uma mulher usando frases como “você está louca” e “isso é coisa da sua cabeça” (gaslighting).

13) Atribuir “à TPM” comportamentos de recusa ou discordância de uma mulher.

14) Recusar-se a fazer atividades lidas socialmente como “femininas”, caso de serviços domésticos e de estética.

15) Assediar ou constranger mulheres por meio de importunações e insinuações sexuais.

16) Assediar moralmente mulheres em ambiente de trabalho com: metas e cobranças abusivas, não repassar trabalho ou repassar demais, chamar por apelidos, xingar, humilhar, criticar todas as ações sem motivo, excluir ou ignorar a vítima.

17) Afirmar que uma mulher é “pouco feminina”.

18) Dizer que a roupa feminina é “provocante”.

19) Dizer que certos comportamentos ou modos de falar não são “coisas de menina”.

20) Em um jantar, parabenizar a mulher pelo prato sem perguntar quem realmente o preparou.

21) Apresentar a mulher tendo como referência o seu companheiro. “Essa é a mulher de Fulano”.

22) Chamar uma mulher desconhecida de forma informal ou como “linda”.

23) Perguntar apenas a mulheres como elas conciliam a vida profissional e a familiar.

24) Fazer comentários depreciativos sobre a aparência de mulheres na política e em cargos de comando.

Veja mais:

Sororidade: mulheres contam como o conceito transformou suas vidas

“Usar linguagem inclusiva evita apagamento feminino nos espaços”, destaca jornalista André Fischer

Como os direitos digitais podem ajudar na igualdade de gênero?

60 anos sem Pagu: ativista abriu caminho para mulheres na política e nas artes

Homens acusados de cometer violência doméstica fazem curso para desconstruir estereótipo machista

Atualizado em 25/06/2024, às 11h36.

Talvez Você Também Goste

Conheça 3 filmes para debater intolerância religiosa

Produções ajudam a desmistificar religiões de matriz africana e o Islã, alvos de preconceito

O que é ser agênero?

Veja 8 dúvidas respondidas por pessoas que se identificam com essa identidade não binária

Descubra 14 direitos do inquilino

Lei do Inquilinato é a principal referência para os contratos de aluguel de imóveis

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.