A autoavaliação do aluno é mais uma ferramenta para auxiliar docente e estudante a entenderem o processo de ensino e aprendizagem, além de incentivar o protagonismo das crianças e jovens.

“É um processo para autoconhecer-se. Saber o que aprendi significa ter conhecimento sobre o que eu consigo fazer, o que sinto ser capaz, em que grau – totalmente ou parcialmente –, como e por quê.  É ter clareza do que tenho que desenvolver e do resultado a alcançar”, sintetiza a professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) e pesquisadora do tema, Isabel Cristina R. de Lucena.

A prática dialoga com as ideias do pensador francês Célestin Freinet. “Na educação, ele tinha como base os valores do bom-senso, o respeito pela individualidade e a discussão de propostas em cooperação”, destaca o doutorando em educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Jonathan Aguiar.

“Ele usava fichas preenchidas pelos alunos para relatarem a própria aprendizagem, e afirmava que ele, e o professor também, deviam se autoconhecer constantemente.”

Formatos diversos

A autoavaliação do aluno pode ser realizada em diversas linguagens, que vão além do papel e do relato oral.

“Pode-se abrir espaço para a expressão artística dos estudantes, por meio de desenhos, música, movimento, jogos, brincadeiras, dinâmicas em grupo ou mesmo uso de emoticons”, lista Aguiar.

O formato escolhido, porém, deve estar adequado ao que foi vivenciado pela classe na sequência didática e aos objetivos do docente para a mesma.

“Se a ideia é avaliar o desenvolvimento do aluno sobre um conteúdo matemático como frações, a rubrica é uma opção”, ilustra a professora.

“Pode-se elaborá-la em função dos erros mais comuns identificados, por exemplo: ‘consigo fazer adições e subtrações de frações sem dificuldades, mas me confundo com multiplicações e divisões’; ‘consigo fazer adição e subtração de frações desde que tenham o mesmo denominador’; ‘ainda não tenho segurança para decidir em qual operação devo reduzir as frações a um denominador comum’; e por aí vai”, exemplifica.

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Se a avaliação for voltada aos combinados de comportamento e hábitos com a classe, pode-se pensar o que deveria ocorrer e não aconteceu. “Por exemplo: ‘tive pontualidade no prazo de entrega de todas as tarefas’, ou ‘da maioria delas’ ou ‘em 50% delas’”, lista Lucena. Outra dica é explicar as regras do formato escolhido.

Colaboração

A pesquisadora recomenda ouvir os alunos antes de escolher o método e as perguntas. Estas, por sua vez, devem ser objetivas, claras, relacionadas aos propósitos propostos para as aulas e pautadas nos critérios discutidos com a turma.

“Vale também ampliar o debate, abrangendo dimensões cognitivas, físicas, psicomotoras, afetivas e sociais”, sugere Aguiar.

A elaboração fortalece o sentimento de pertencimento, como destaca Lucena. “Estudantes e docentes decidirem juntos sobre as regras, as exceções, os critérios e os objetivos, com clareza e positividade, sem ameaças e punições, colabora para o desenvolvimento de responsabilidades”, defende.

Nem sempre a autoavaliação do aluno é realizada individualmente, podendo ser colaborativa e contar com a participação do professor ou colegas. “É fazer junto o que não é possível enxergar sozinho”, resume Aguiar.

Lucena recomenda que a atividade ocorra durante a sequência didática. “Assim, é possível regular a sintonia requerida entre ensino-aprendizagem-avaliação.”

Nota é importante?

Um ponto polêmico é se esse autoconhecimento deve ser vinculado à atribuição de notas. Para Lucena, depende do objetivo a alcançar. “Seria classificar os estudantes em comparação uns com os outros? Facilitar comunicação de resultados? Usá-las como meio de ameaça?”, questiona.

“Em outras palavras, para que notas? Qual a real importância delas para a melhoria das aprendizagens dos alunos?”, problematiza.

Opinião semelhante possui Aguiar. “Se desejo que a criança pense, reflita e aja diante desse percurso, fica uma questão: será que atribuindo notas ou qualquer outro valor, entenderão a importância da autoavaliação?”, pergunta.

Para ele, o mais importante é o processo. “É nele que descobrimos as riquezas, as fragilidades, as aproximações e os distanciamentos”, analisa.

Crédito da imagem: monkeybusinessimages – iStock

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