A avaliação em matemática não precisa ser sinônimo de alunos debruçados individualmente sobre um papel, sentados em fileiras e imóveis durante algumas horas. Principalmente nos primeiros anos do ensino fundamental, quando as crianças – recém-chegadas do ensino infantil – podem não se identificar com a mudança de estrutura proposta nessa nova etapa.
“A avaliação é um processo inclusivo, por isso, o professor não pode ficar refém de uma única forma de avaliar. Nenhum instrumento sozinho é capaz de abranger todas as facetas da aprendizagem. Mas, combinados com outros recursos, fazem o acompanhamento do que está sendo ensinado e aprendido”, explica a gestora pedagógica do Mathema Cristiane Chica.
“Toda a avaliação visa recolher, descrever e analisar o processo de aprendizagem, como se fosse uma lente, identificando que o aluno aprendeu e suas dificuldades. O objetivo da avaliação não é comparar ou ranquear os alunos. Ela só tem sentido se, por meio dela, o professor e aluno puderem repensar o processo de ensino e pensar intervenções”, acrescenta.
Segundo o professor e formador do Instituto Singularidades Guilherme Santinho Jacobik, uma boa maneira de avaliar a aprendizagem de matemática nos primeiros anos do fundamental é a observação de todos os atos da criança. Incluindo, aqui, o linguístico, por meio dos diálogos. “Pela oralidade, a criança transforma seu pensamento matemático, concatenando e expressando ideias”, descreve. “A observação da fala é algo muito valorizado no ensino infantil e que não deveria se perder”, reforça.
Chica também enxerga na observação um instrumento poderoso de avaliar os estudantes nessa etapa de ensino. “Principalmente porque temos um professor polivante, que permanece com os alunos pelo menos quatro horas diárias”, justifica.
A observação como avaliação também pode ocorrer em outros momentos, como: durante atividades práticas, na ida à lousa e por meio de jogos. Contudo, Chica lembra que o olhar do educador precisa estar alinhado a um planejamento.
“O professor precisa ter clareza de como vai obter as informações que deseja na observação, assim como o melhor momento para isso ocorrer. Será ao longo da atividade? Ao final? E como registrar essa organização de dados para que permita um olhar sobre a aprendizagem dos alunos”, orienta.
Prova diferente
Assim como a oralidade, a escrita também pode ser outro instrumento de avaliação no fundamental I. “Após uma sequência didática, o professor pode solicitar aos alunos, individualmente ou em duplas, que organizem suas ideias e escrevam os pontos centrais do que aprenderam”, sugere Chica. “A escrita pode se dar em outros suportes, por exemplo, tecnológicos ou na lousa, para averiguar o pensamento da criança”, complementa Jacobik.
Além disso, ambos concordam que a prova não deve ser demonizada, mas ressignificada. “Elaborar um teste não é tão simples para o professor. Construir essa avaliação requer um olhar sobre o trabalho de fato e como vou reconhecer esses dados de aprendizagem”, assinala a pedagoga.
Segundo ela, um erro comum é a prova não ser um reflexo das práticas desenvolvidas em sala de aula. “Por exemplo, o professor apresenta problemas simplistas e cobra, na avaliação, conhecimentos complexos, que exigem do aluno mobilizar ideias e desenvolver estratégias”, aponta.
Para completar, a educadora sugere “formas diferentes” de pensar a prova. “Os estudantes podem desenvolver um texto em aula que, no dia do exame, será utilizado como forma de consulta. A prova pode ser em dupla, com discussão, troca de ideias e organização de pensamento. Há também a ‘falsa prova’, em que o professor entrega problemas resolvidos, mas com erros, para os alunos corrigirem e identificarem o que está certo e errado”, lista.
Há ainda a avaliação em dois tempos, na qual os estudantes podem rever o que fizeram. “Aqui, o educador até pode pensar que eles irão recorrer aos livros, conversar com colegas ou consultar outros materiais. Sim, mas essa também é uma forma ativa de aprender”, afirma.
A prova, contudo, não deve ser um momento de tensão. “E ela não se encerra em si. Depois, cabe ao professor se debruçar nos dados obtidos, detectar o que cada aluno sabe ou não e pensar em intervenções”, indica.
Chica ainda sugere a autoavaliação, na qual o aluno pode pensar nas suas conquistas, avanços e necessidades. “Apenas não recomendo que ela ocorra na prova, em que o estudante pode focar nas dificuldades daquilo que acabou de viver”, adverte.
Por fim, cabe ao professor lembrar que o ensino fundamental não é o início da aproximação dos alunos com a matemática. “Eles já chegam do ensino infantil com muitos conhecimentos da disciplina, porque a matemática está na vida e no cotidiano. Já pensam numericamente, quantitativamente e em relação às formas de um objeto”, aponta
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