Cartografia é a área da geografia que estuda o espaço, ao analisar as transformações nele ocorridas. Para isso, é necessário desenvolver pensamento espacial, habilidades de investigação e senso crítico com os alunos. “A representação cartográfica de um determinado espaço oferece ao leitor informações que o auxiliarão a se localizar no mundo e a entender suas dimensões e diferenças”, resume a professora da educação básica e mestranda em geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Maria Venâncio Lima.
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A aprendizagem da cartografia acontece ao longo do ensino fundamental, com introdução da linguagem cartográfica nos anos iniciais. Também conhecida como “alfabetização cartográfica”, ela inclui exercícios de lateralidade, símbolos, representação de lugares e interpretações de mapas locais e regionais. “Ela permite que a criança leia e interprete espaços próximos ou distantes por meio da relação de símbolos entre si. Além disso, estimula habilidades que ajudam a construir noções espaciais e de leitura do cotidiano”, acrescenta.
Conhecimentos prévios
Para iniciar a alfabetização cartográfica, é contraindicado trabalhar cópias de mapas com informações, priorizando visitas a campo, como ao entorno da escola.“Existem desigualdades espaciais cujas causas e consequências devem ser discutidas. Fazer uma leitura crítica e analítica das diferenças existentes ajuda a entender o desenvolvimento ou não dessa localidade”, pontua a professora.
Jogos, desafios, músicas, brincadeiras, filmes e outros instrumentos lúdicos ajudam a introduzir a temática. Um exemplo é o vídeo da Turma da Mônica “Na roça é diferente”, disponibilizado gratuitamente no canal oficial das personagens no Youtube. Ele traz um comparativo entre a vida na zona rural e na zona urbana.
Vale, ainda, utilizar mapas temáticos do município. Assim, o professor pode explorar fotografias e materiais com representações espaciais da cidade, como rios, açudes e pontos turísticos. “O aluno iniciará seu conhecimento cartográfico explorando o espaço próximo a ele, como formação hidrográfica, climatológica, política, revelo e vegetação de seu município, refletindo sobre as transformações ocorridas ao longo do tempo”, observa a professora.
Ensino remoto
Como a cartografia permite analisar escalas local, regional, nacional e universal, é possível relacionar esse conteúdo à realidade e ao cotidiano dos estudantes. “Explore os conhecimentos prévios sobre os espaços observados e vivenciados por eles, trabalhando-os junto ao currículo”, indica Lima.
Vídeos e aplicativos como Canva, Wordwall, Padlet e Kahoot são possibilidades para aulas remotas. “Trabalhe cartografia com exercícios de lateralidade realizados em vídeos ou aulas síncronas. Sobre mapas, é possível gravar vídeos explicando seus elementos constituintes, como título, legenda, rosa dos ventos, escala e fonte. Ou, ainda, comparando o tamanho de estados e regiões”, recomenda.
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Problemas na formação
Para entender as dificuldades e possibilidades do ensino da alfabetização cartográfica nos anos iniciais do fundamental, Lima entrevistou professores do município de Orós (CE) durante seu mestrado. Das reflexões trazidas, resultou uma cartilha de apoio aos docentes. “Eles revelaram dificuldades em trabalhar com escala, mapas e mapas mentais, representação de lugares, formas e proporções”, revela.
Problemas cuja origem pode estar na formação inicial dos professores generalistas. “Muitas graduações de pedagogia oferecem apenas uma disciplina de geografia, não contemplando esse componente curricular”, pondera. Os profissionais também relataram falta de mapas e outros produtos da cartografia municipal, impedindo explorar o cotidiano dos alunos. “Em contrapartida, eles afirmaram usar o livro didático alinhado à realidade cotidiana da turma, vontade de aprender diferentes metodologias e de formação continuada”, observa a pesquisadora.
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