Assexuais são pessoas que não sentem atração sexual, ou sentem com outra intensidade e de forma condicionada; por exemplo, quando há vínculo emocional.
Filmes, séries, curtas-metragens e documentários podem ajudar a entender essa orientação sexual, como explica a cineasta e pessoa assexual Sofia Wickerhauser.
“A mídia tem o poder de determinar o que é ‘normal’. Ao não mostrar ou excluir determinados grupos, manda uma clara mensagem de que aquelas pessoas não existem, não pertencem à sociedade ou merecem ser excluídas”, analisa.
“Porém, quando há representações no audiovisual, você oportuniza que essas pessoas sejam vistas por quem as desconhece e por quem não está buscando informações sobre o tema”, acrescenta Wickerhauser, que é diretora do curta-metragem sobre o tema Infinito Enquanto Dure (2018).
Já para quem é assexual, as representações no cinema auxiliam nos processos de identificação e autoconhecimento. “É como se o filme dissesse: você não é estranho, a sua experiência existe e tem um nome”, afirma Wickerhauser.
Quebra de estereótipos
Advogado e integrante do coletivo de assexuais Abrace, Walter Mastelaro Neto lembra que as representações de assexuais no audiovisual ajudam a quebrar estereótipos. “Principalmente de que todos os assexuais são frios, fechados, doentes, associais, tímidos e reservados, ainda que, como qualquer ser humano, possa haver um assexual assim”, apresenta.
Além disso, Neto lembra que filmes também podem apresentar variações do espectro assexual, mostrando que há formas distintas de vivenciar essa orientação sexual.
A lista inclui a pessoal assexual estrita (que não sente atração sexual em nenhum contexto); demissexual (que se atrai após conexão emocional); graysexual (que se atrai apenas em determinadas circunstâncias ou com intensidade menor); arromântica (que não experimentam atração sexual ou romântica); românticoa (que não senta atração sexual, mas se apaixona) e o fraysexual (quem perde atração sexual após proximidade com uma pessoa).
Mas, apesar de trazerem informações importantes sobre assexualidade ao grande público, os filmes não devem ser entendidos como única fonte de informação sobre o assunto, como adverte Wickerhauser.
“Não cabe a eles serem uma enciclopédia, mas iniciar uma conversa a ser continuada e aprofundada posteriormente”, recomenda.
Cuidados ao escolher um filme
Wickerhauser lembra que nem toda a representação sobre assexual no audiovisual é positiva, caso da série britânica Sherlock (2010-2017), acusada nas redes sociais de queerbaiting – prática de mídia em que se insinua uma identidade ou relacionamento LGBTQIAPN+ visando atrair público, mas sem intenção de realmente representar ou desenvolver essa narrativa.
“A trama nunca mencionou ser o personagem principal assexual, e as insinuações eram por escárnio e estereótipos”, lembra Wickerhauser.
“Uma pessoa que está se descobrindo assexual e vê uma representação positiva não vai rejeitar a experiência e ficará curiosa para saber mais. Na situação oposta, ela não desejará expressar o que sente por medo”, descreve.
Além disso, a cineasta lembra que, no caso de séries, nem sempre as produções “entregam” rapidamente que determinado personagem é assexual. “É necessário acompanhar temporadas para entender”, indica.
Para Wickerhauser e Neto, ainda são poucos os filmes e séries que trazem personagens assexuais bem desenvolvidos.
“Curiosamente, produções para adolescentes e asiáticas costumam abordar mais o tema. A assexualidade também é mais comum em séries e curtas-metragens do que em longas-metragens”, diferencia Neto.
A seguir, conheça dez títulos de filmes, séries, documentários e curtas-metragens que abordam a assexualidade e podem ser fontes de conhecimento sobre o tema (contém spoiler).
Séries
Heartbreak high: Onde tudo acontece (2022)
A série companha os estudantes do colégio Hartley, com um foco nos amigos Amerie, Quinni e Darren, que se envolve com o personagem assexual Cash.
“O que acho positivo é que Cash tem uma trama que independe de ele ser assexual, algo que o público vai entendendo aos poucos”, diz Wickerhauser.
Sex education (2019)
A segunda temporada contou com a personagem Florence, que, durante o ensaio de uma peça teatral, entendeu não sentir desejo por pessoas de nenhum gênero. “A parte negativa é que a personagem não tinha outras narrativas na trama e o tema não foi aprofundado”, analisa Wickerhauser. Porém, a quarta temporada contou com a consultoria da ativista assexual e modelo britânica Yasmin Benoit, que culminou na criação de uma personagem melhor embasada, Sarah ‘O’ Owen.
Heartstopper (2022)
A segunda temporada contou com o personagem Isaac, que não estava originalmente previsto nos livros, mas foi incluído na série. A criadora da série literária Alice Oseman declarou-se ‘aro-ace” (arromântica e assexual, a partir de contrações das palavras em inglês).
BoJack Horseman (2014-2020)
A série de animação acompanha a vida de um cavalo antropomórfico, ex-estrela de uma sitcom, que lida com problemas de depressão, vícios e a busca por sentido em sua carreira e relações pessoais. A trama traz Todd Chavez, amigo e hóspede de BoJack que se descobre assexual. “Ela inaugura as produções que apresentam um personagem assexual complexo e importante para a história. A descoberta da sexualidade acontece aos poucos”, cita Wickerhauser.
Longas-metragens
Slow (2023)
Uma forte conexão marca o encontro entre a dançarina Elena e o intérprete de linguagem de sinais Dovydas. Quando ele se revela assexual, a dinâmica da relação muda à medida que ambos tentam encontrar uma maneira de ficarem juntos e, ao mesmo tempo, satisfazerem suas respectivas necessidades.
Selah e os espadas (2019)
Cinco grupos distintos controlam diferentes aspectos da vida social de um internato, onde a estudante Selah lidera o tráfico de drogas. Ela se aproxima de uma novata, colocando-a sob sua proteção. Segundo Neto, a personagem que dá nome à série pode ser lida como assexual.
Documentário
Assexual (2011)
“Documentário feito pela pessoa que popularizou o termo assexual, David Jay. Tem relevância por ser um dos primeiros sobre o tema”, compartilha Wickerhauser.
Eu sou ace (2020)
O documentário brasileiro aborda a vida de pessoas que se identificam como assexuais. Traz depoimentos individuais e encontros com o coletivo Abrace.
A área cinza: Um documentário sobre assexualidade (2018)
Documentário realizado pela jornalista Ana Carolina Planez traz relatos de pessoas que compartilham diferentes experiências de ser assexual.
Curta-metragem
Infinito quanto dure (2019)
Dirigido por Wickerhauser, acompanha Danny e Seiji, que se conhecem em uma festa e se apaixonam. Sendo um alossexual (que sente atração por outras pessoas) e outro assexual, há a necessidade de diálogo para eles entenderem suas diferenças.
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Crédito da imagem: trollhare – Flickr