Os resultados da pesquisa TIC Educação 2022 – levantamento anual que mapeia o acesso e uso das tecnologias digitais pelas redes estaduais, municipais e particulares nos ensinos fundamental e médio – apresentaram as marcas da pandemia da covid-19 na educação.
Na primeira edição após a reabertura das escolas, e retomando o formato de entrevistas presenciais após dois anos de metodologia adaptada, o levantamento apontou 94% das escolas estaduais, municipais e particulares conectadas à rede. Porém, somente 58% contam com computador e internet para uso dos estudantes.
Quando cada rede é analisada separadamente, 97% das escolas estaduais e 93% das municipais possuíam pelo menos um acesso à internet. Nas áreas rurais, 85% de todas as instituições (públicas e privadas) estão conectadas.
Ao considerar apenas as escolas que têm simultaneamente computador e acesso à internet para uso discente, a presença foi maior entre as escolas estaduais (82%) e menor nas municipais (43%).
A qualidade do acesso à internet melhorou: 52% das escolas estaduais e 29% das municipais declararam possuir 51 Mbps ou mais de velocidade da principal conexão da instituição. A título de comparação, em 2020, apenas 22% das estaduais e 11% das municipais contavam com a mesma velocidade de conexão.
Segundo a coordenadora da TIC Educação, Daniela Costa, o wi-fi da escola ainda fica majoritariamente destinado à parte administrativa.
“A restrição de acesso pelos estudantes ocorre em praticamente todos os tipos de escola, sendo maior nas que atendem adolescente, como fundamental 2 e ensino médio”, analisa.
“Para entender melhor a conectividade significativa, incluímos neste perguntas sobre obstáculos que afetam a conexão e, consequentemente, o uso da internet pelos alunos. Foram citados: o sinal de internet não chegar às salas que ficam mais distantes do roteador (caso de 55% das estaduais e 38% das municipais); a internet não suportar muitos acessos ao mesmo tempo (50% das estaduais e 45% das municipais) e a qualidade da internet ficar ruim (41% das estaduais e 35% das municipais)”, lista Costa.
Alunos escrevem pouco usando TICs
Sobre o uso da internet no ambiente escolar, 77% dos alunos nas três redes analisadas afirmaram acessar a internet da escola para uso diverso, incluindo o pedagógico.
“Em relação à forma de acesso, 42% afirmaram usar a rede móvel e apenas 31% disseram usar wi-fi da escola”, pontua Costa.
Entre as atividades realizadas na escola com conexão, citadas pelos alunos do fundamental I, fundamental II e ensino médio, estão: fazer pesquisas sobre temas solicitados pelo professor (citada, respectivamente, por 28%, 55% e 78%); ler textos (23%, 42% e 69%); fazer tarefas com colegas (20%, 43% e 63%); assistir vídeos (24%, 38% e 52%) e escrever textos (18%, 32% e 52%).
“Sobre as habilidades a serem desenvolvidas, vemos que os alunos ainda produzem menos conteúdo em relação à leitura de textos usando dispositivos tecnológicos”, destaca Costa.
“Os alunos mencionam que o fato dos professores não utilizarem a tecnologia em suas práticas faz com que eles também não usem a internet na escola”, compartilha Costa.
Formação continuada para aulas remotas caiu
Sobre a integração de tecnologias digitais em atividades de ensino, 67% dos docentes afirmam que utilizam telefone celular em atividades com alunos.
Professores das redes municipais dizem usar tecnologias digitais especialmente em aulas expositivas (64%) para solicitar pesquisas (59%), exercícios (57%) e trabalhar com jogos digitais (39%).
Nas escolas estaduais, as atividades mais citadas pelos docentes com uso de tecnologias digitais foram: aulas expositivas (86%), exercícios (79%), pesquisa (77%) e jogos digitais (45%).
O uso de tecnologias é maior conforme as etapas de ensino avançam e os alunos ficam mais velhos.
“Além disso, 50% dos professores afirmaram usar aplicativos de mensagem para se comunicar com os alunos, o que é uma herança da pandemia”, analisa Costa.
Já a formação para educação a distância ou híbrida, citada por 56% dos professores na edição 2021, caiu para 39% em 2022.
“O uso de tecnologias na disciplina de atuação (53%) ou na avaliação dos alunos (53%) estão entre os temas mais abordados nas formações continuadas. Houve uma estabilidade na formação para temas como fake news”, acrescenta Costa.
De acordo com a nova edição da pesquisa, 61% dos professores afirmaram ter apoiado alunos no enfrentamento de situações sensíveis vivenciadas na internet, como: uso excessivo de jogos e tecnologias digitais (46%); cyberbullying (34%); discriminação (30%); disseminação ou vazamento de imagens sem consentimento (26%); e assédio (20%).
“Essa tendência sobre uso de jogos digitais por alunos precisa ser acompanhada”, opina Costa.
Mudanças na TIC 2022
Em sua 13º edição, a TIC Educação 2022 realizou 10.448 entrevistas entre outubro de 2022 e maio de 2023, que incluíram 1.394 escolas, 959 gestores, 853 coordenadores pedagógicos, 1.424 professores e 7.192 alunos.
“Após duas edições realizando uma metodologia adaptada, voltamos à coleta presencial, e foi a primeira vez que visitamos presencialmente as escolas rurais”, assinala Costa.
“Vale ainda destacar que a comparação dos dados desta edição com as anteriores exige cautela devido às diferenças de formato”, alerta.
A TIC Educação 2022 é conduzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). O estudo foi lançado no dia 25/09/2023 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).
Confira aqui a lista completa de indicadores coletados pela pesquisa.
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Atualizada em 04/10/2023 às 12h04