Pelo menos 87% das escolas brasileiras adotaram ao menos uma atividade com tecnologia durante a pandemia. Esse foi um dos resultados da pesquisa TIC Educação 2020 (Edição Covid-19 – Metodologia Adaptada), divulgada nesta terça-feira (31/8). O levantamento anual teve sua metodologia ajustada por conta das limitações da pandemia, sendo realizado por entrevistas telefônicas com gestores de escolas públicas (municipais, estaduais e federais) e de escolas particulares, em áreas urbanas e rurais.

Para tentar superar os desafios do período de isolamento social, 91% das escolas ouvidas afirmaram ter criado grupos no Facebook e WhatsApp para se comunicarem com pais e alunos. Aulas síncronas em plataformas de videoconferência foram usadas por 58% delas, e aulas gravadas, por 79%. Além disso, 93% enviaram materiais impressos para apoiar os estudantes.

As dificuldades de pais ou responsáveis para orientar alunos nas atividades escolares e a falta de dispositivos tecnológicos e de acesso à internet nos domicílios dos alunos foram as duas dificuldades mais citadas pelos gestores, respectivamente 93% e 86%.

Além disso, 65% destacaram como desafio atender alunos em condições de vulnerabilidade social. “Ou seja, aproximadamente 80 mil escolas de um universo de 127 mil ouvidas, o que é um número alto”, alerta a coordenadora do levantamento, Daniela Costa. Estudantes sem acesso à alimentação foram citados por 65% dos gestores.

Perguntas alteradas

“Grande parte das escolas não tinha vivência em realizar atividades à distância, sendo que apenas 21% afirmaram ofertar algum conteúdo online antes da pandemia”, assinala Costa. Ela ainda aponta a relação entre escolas que usavam alguma plataforma tecnológica e as que tinham páginas em redes sociais. “Em escolas urbanas de maior porte, com mais de mil alunos, 99% criaram grupos de WhatsApp e 89% tinham páginas. Já nas rurais, 79% disseram usar o aplicativo de mensagens, mas apenas 29% tinham página”, revela.

Sobre conectividade, 82% de todas as escolas ouvidas acessavam a internet. “Antes perguntávamos se elas tinham ao menos um computador conectado. Já este ano, questionamos se acessavam a internet, independente de possuir dispositivos”, diz. O resultado foi afirmativo para 98% das instituições urbanas e 53% das rurais. Ao recortar os dados das públicas, houve diferença entre escolas estaduais (94%) e municipais (71%). “Grande parte das escolas rurais são municipais e algumas com menos de 50 alunos. Assim, pode haver confluências de dados nesses três segmentos: municipais, rurais e instituições de pequeno porte”, contextualiza Costa.

Entre as perguntas alteradas, ao invés de questionarem se a escola possuía ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), como feito anteriormente, a TIC questionou se utilizavam AVA. “A resposta foi 66% (2020) afirmativa contra 28% do ano anterior (28%).”

Segundo Costa, escolas que usaram menos recursos tecnológicos devem ser analisadas com ressalvas. “Algumas não o fazem por falta de conectividade e outras por perfil de aluno. Escolas com alunos mais velhos, de ensinos fundamental e médio, apresentavam maior uso de AVA. Em escolas de níveis iniciais, a proporção era menor. Isso pode ser pela necessidade de mediação entre as crianças”, pondera. “Muitos gestores afirmaram, por exemplo, dificuldade com e-mail dos alunos para fazer login nessas plataformas. Ou seja, há variáveis diversas que impactam no usou ou não de atividades à distância”, explica.

Menos escolas ouvidas

A pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) é conduzida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). O estudo coleta dados sobre escolas públicas e particulares em atividade, em áreas urbanas e rurais, e que oferecem ensino fundamental e médio na modalidade regular. Seu objetivo é investigar o acesso, uso e apropriação de tecnologias nas escolas e nos processos de ensino e aprendizagem.

Por conta da pandemia, a edição de 2020 enfrentou dificuldades. “Geralmente, a coleta de dados é por semestre. Nesta edição, estendeu-se por oito meses. Das 13.927 escolas previstas, apenas 3.678 puderam ser contatadas”, aponta Costa. A especificidade do momento fez com que perguntas presentes nos anos anteriores fossem alteradas ou adaptadas. “Assim, é necessário cautela na comparação dos dados de 2020 com a série histórica”, ressalta. Além disso, foram incorporados módulos sobre tecnologia ofertada a estudantes com deficiência; sobre uso de plataformas, aplicativos e redes sociais; e sobre ambientes virtuais de aprendizagem.

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