A formação continuada dos docentes em tecnologia ainda é um desafio no Brasil, destacou a TIC Educação 2018. A pesquisa, que ouviu mais de 1.807 professores, 906 coordenadores pedagógicos e 979 diretores, aponta que os educadores jovens tiveram, durante a graduação, mais oportunidade de participar de cursos, debates e palestras sobre o uso de tecnologias e aprendizagem. Dos professores que responderam afirmativamente 64% tinham até 30 anos, 54% entre 31 e 45 anos e 42% mais de 46.
Contudo, somente 30% desse total disseram ter participado de alguma formação continuada sobre o assunto no último ano. Além disso, apenas 21% dos diretores de escolas públicas revelaram que os professores da instituição participaram de algum programa de formação na área.
Mas isso não significa que há desinteresse pela temática. A pesquisa contou esse ano com uma questão específica para mapear o uso da tecnologia pelos docentes, revelando que 65% dos que lecionam em áreas urbanas usavam esse recurso para conteúdos da própria disciplina de atuação e 65% para novas práticas de ensino. Os profissionais ainda disseram aprender sobre o tema sozinhos (86% dos professores de escolas particulares e 92% das públicas), com outras pessoas (87% de escolas particulares e 86% das públicas) e com seus pares (90% de escolas particulares e 79% das públicas).
“Esses dados trazem como ponto de atenção a necessidade de formação para o assunto, ofertadas por políticas públicas. Há interesse, mas falta uma formação estruturada”, resume a coordenadora da pesquisa TIC Educação 2018, Daniela Costa.
Quanto à formação inicial, há ainda diferenças nos dados quanto às áreas de atuação. Enquanto 58% dos docentes de matemática cursaram uma disciplina durante a graduação sobre uso de tecnologias da aprendizagem, somente 40% dos professores de múltiplas disciplinas (anos inicias do ensino fundamental) e 32% dos de língua portuguesa disseram o mesmo.
“Outro desafio das políticas públicas é mostrar que as tecnologias são aliadas em todas as áreas do conhecimento. Vemos que, apesar de alunos estarem conectados e usarem esses recursos, ainda há falhas na formação do profissional”, complementou o gerente do Cetic.br, Alexandre Barbosa.
Já a busca por vídeos e tutoriais online sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação (TICs) nas práticas pedagógicas cresceu 16 pontos percentuais entre 2015 (59%) e 2018 (75%).
Professor é referência
A TIC Educação 2018 também entrevistou presencialmente 11.142 estudantes de 5º e 9º ano do ensino fundamental e 2º ano do ensino médio de escolas urbanas. Assim como os educadores, eles revelaram aprender sobre tecnologia de forma autônoma (78%), por vídeos e tutoriais da internet (78%), com amigos (76%), outras pessoas (76%) e com docentes (44%).
“Mesmo não sendo a principal referência para a turma na aprendizagem sobre o uso de novas tecnologias, esses profissionais da educação são mediadores e podem dar apoio”, ressalta Costa.
Sobre a forma de apoio dada pelos professores, 57% indicaram aos alunos sites para utilizar em trabalhos escolares, 54% ajudaram a usar a internet para fazer trabalhos escolares e 51% pediram para comparar informações da internet em sites diferentes. Já 67% dos docentes afirmaram que estimularam a turma a debater sobre problemas que enfrentam na internet, 61% promoveram um debate sobre uso da internet segura e 38% ajudaram os alunos a enfrentarem situações ocorridas na internet, como bullying, assédio e divulgação de imagens sem consentimento.
Conectividade
Seguindo uma tendência dos demais anos (confira a reportagem sobre a TIC Educação 2017), a conectividade nas escolas foi vista como um problema. Enquanto 42% das instituições de ensino particulares possuíam conexão mais rápida (11mbps ou mais), apenas 12% das públicas contavam com o mesmo serviço. Além disso, 58% dos docentes de escolas públicas e 52% das particulares assinalaram usar o próprio telefone celular em atividades.
“O professor usa o smartphone como compensação. Das escolas públicas que possuem laboratórios de informática, poucas possuem computadores atualizados, e há ainda a logística de mudar toda a turma de local. O celular, em contraposição, está à mão”, analisa Barbosa.
Pelo segundo ano consecutivo, a TIC Educação monitorou escolas rurais pela entrevista com 1.433 diretores ou responsáveis pelas unidades. O estudou revelou que apenas 34% delas possuíam, ao menos, um computador conectado na internet. “O que não significa que eles são disponibilizados para os alunos”, lembra Barbosa. Para completar, 52% dos responsáveis por essas unidades escolares afirmaram que os professores levavam o próprio celular para desenvolver atividades.
As escolas rurais também possuíam baixa velocidade de internet: 35% de 1 a 2 mbps e 21% de 3 a 10 mbps. Entre os motivos de não possuir internet, 43% disseram ser por falta de estrutura na região e 24% pelo alto custo da conexão. “As escolas rurais ainda vivem um contexto básico de integração da tecnologia”, contextualiza Costa.
A TIC Educação é realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).
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Crédito da imagem do topo: divulgação