O slackline é um esporte de equilíbrio praticado em uma fita tensionada entre dois pontos, criado nos anos de 1980 na Califórnia (EUA). Ele utiliza fitas planas de nylon ou poliéster para proporcionar elasticidade e estabilidade durante a prática.
“Apesar de recente, ele é semelhante à corda bamba circense, que tem registro de mais de três mil anos de existência”, explica o mestre profissional no ensino de educação física escolar pela Universidade Federal de Goiás (UFG) Henrique Cândido Brandão.
O professor explica que o slackline pode ser ensinado na disciplina tanto dentro de práticas de aventura como em ginástica, na qual se incluem atividades circenses.
“Ele ajuda no desenvolvimento de capacidades físicas como de equilíbrio, coordenação motora, que são importantes para a consciência corporal. Os alunos costumam gostar porque ele dialoga com o campo do lazer”, acrescenta Brandão, que é autor da dissertação “O ensino do slackline nas aulas de educação física na educação básica” (2023).
Professor do ensino fundamental da rede municipal de Anápolis (GO) e do ensino médio na estadual de Goiás, Brandão explica que o slackline pode ser abordado em todas as etapas de ensino, com variações sobre os gestos e domínios corporais exigidos em cada faixa etária.
“Para o 3º e 4º anos do ensino fundamental, as crianças podem vivenciar o equilíbrio, e o slackline pode ser associado a outras práticas, como cordas. No ensino médio, é possível um aprofundamento ensinando como montar e desmontar o equipamento, práticas de segurança e o diálogo da prática com outros saberes, como física e educação ambiental”.
Centro de massa
Os principais equipamentos do slackline são a fita (line) tensionada entre dois pontos (ancoragens), a catraca para ajustar a tensão da fita e protetores de árvore para evitar danos ambientais e proteger as ancoragens.
Segundo o professor, a segurança na prática envolve entender como os equipamentos funcionam, melhores movimentos para manter o equilíbrio, escolher árvores que possam receber o equipamento – geralmente, com circunferência maior que 95 cm – e compreender o conceito físico de centro de massa. Este diz respeito ao ponto em um objeto onde toda a sua massa pode ser considerada concentrada, influenciando na sua relação com a gravidade.
Para ensinar centro de massa, Brandão usou experimentos do livro “Arquimedes, o centro de gravidade e a lei da alavanca”, de André Koch Torres Assis (2008). Um deles era o desafio de os alunos sentados ficarem em pé sem projetar o corpo para frente. “Uma das soluções é colocar o pé para trás, ou seja, trazer a base para abaixo do centro de massa”, apresenta.
“Os alunos relataram que entender esse conceito foi importante para ter mais confiança em subir na fita, para exercerem um movimento motor consciente e entenderem os melhores movimentos para se equilibrar”, explica o docente, que recomenda parceria com um professor de física para estudar o assunto.
Já em relação à postura para o slackline, o corpo tem que estar tranquilo e não tensionado, com joelhos semiflexionados, e é preciso olhar para a frente, em um ponto fixo.
“O deslocamento do centro de massa no centro do corpo acompanha o deslocamento da fita e exige estar de braços abertos e fazendo movimentos sutis”, ensina Brandão.
“É necessário fazer movimentos leves e suaves. No início, é comum o corpo ficar tenso por conta do medo da queda”, completa.
Protegendo as árvores
O slackline pode ser ensinado na educação física escolar em parceria com a educação ambiental. Brandão convidou uma engenheira ambiental para ensinar aos alunos como avaliar a saúde de uma árvore e se ela é segura para ancorar uma fita.
Além disso, um dos equipamentos do slackline é o protetor de árvores. “É fundamental não danificar as árvores, que são importantes para o oxigênio, a estabilidade do solo, entre outros”.
O professor levou ainda a classe a um passeio de campo em um parque da cidade para os alunos avaliarem se o local seria apto à prática do esporte. “Foram avaliados os problemas estruturais do parque e eles também puderam discutir políticas públicas e o direito ao lazer nas cidades”, conta.
Exercícios para as aulas
Brandão recomenda a todos os professores terem a vivência do slackline e a apresentarem a prática original aos alunos. Caso não seja possível por conta dos equipamentos, ele indica atividades com corda, apesar de ela não ter a elasticidade e o desequilíbrio proporcionados pelas fitas elásticas.
“Nesse caso, deve ser utilizada a corda de resgate, chamada “corda alma”, que aguenta pessoas subindo nela. Também pode-se fazer brincadeiras usando o meio fio”, orienta.
Antes de os alunos iniciarem as atividades no slackline, Brandão realiza com eles atividades no chão. Essa alternativa também é indicada se não houver equipamento para a prática do esporte. “Pode-se cortar macarrão de piscina e usar a parte curva em cima para gerar um desequilíbrio. A diferença é que o desequilíbrio no chão é estático, não o dinâmico”, lembra.
Há ainda atividades para aumentar a confiança em andar em corda bamba ou no slackline. Brandão instala uma segunda corda acima da altura da cabeça para os alunos a agarrarem conformem se equilibram e andam.
“Pode-se também deixar uma fila de alunos dos dois lados da corda ou slackline. Porém, a orientação é que eles não segurem a pessoa que está andando, sob o risco de ela se desequilibrar. É ela que deve ser apoiar nos colegas, na intensidade que precisar”, ensina.
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Crédito da imagem: Henrique Cândido Brandão – acervo pessoal