Haruki Murakami é um renomado escritor japonês contemporâneo, reconhecido por uma escrita que mescla elementos do realismo mágico, surrealismo e introspecção psicológica.

Sua obra pode ser utilizada no final do ensino médio para apresentar aos estudantes elementos da cultura japonesa e trabalhar questões interdisciplinares, como aponta o  pesquisador do Centro de Estudos Asiáticos e do Grupo de Pesquisa Mídia e Cultura Asiáticas Contemporânea, da Universidade Federal Fluminense (UFF), Mateus Martins do Nascimento.

“O pensamento fantástico atravessa toda a sua obra e se baseia em coisas cotidianas. Para os jovens, é como se deixasse uma mensagem de que é possível inovar usando o que se tem no dia a dia”, explica.

Qual a importância de Haruki Murakami para a literatura?

Mateus Martins do Nascimento: Ele foi a primeira voz da literatura japonesa que não fala somente para o Japão, mas para o mundo, além de ensinar a prestar atenção na diversidade, mostrando como as culturas são multifacetadas. Ele explica o Japão e dialoga tanto para um público japonês, fazendo [com] que eles repensem a sua história, como também para o ocidente.

Quais os principais elementos da sua obra?

Nascimento: O pensamento fantástico atravessa toda a sua obra, o que foi algo diferente para a literatura japonesa. Esse pensamento usa elementos da realidade e se baseia em coisas cotidianas. Para os jovens, é como se deixasse uma mensagem de que é possível inovar usando o que se tem no dia a dia. Ele também apresenta elementos culturais do Japão e aponta a passagem de um Japão tradicional para o contemporâneo. A maioria das histórias foca em como as pessoas se conectam e se relacionam entre si.

Quais os benefícios de apresentar a sua obra na educação básica?

Nascimento: No Japão, temos um ensino médio um pouco mais alongado. Então, ele escreve para esse público. No Brasil, indico o uso da sua obra no final do ensino médio, que é o momento em que os alunos estão indo para o mundo. Um ganho é mostrar aos estudantes uma escrita fora do eixo Europa e Estados Unidos, ampliando o olhar dos estudantes. Além disso, o Brasil possui uma história com o Japão, seja pelo fluxo imigratório a partir de 1908 ou pela chegada das embaixadas após a proclamação da república.

Porém, nem todos os livros dele podem ser usados com adolescentes, caso de “Kafka à beira-mar” e “Norwegian Wood”, que abordam depressão de um jeito que seria complexo desenvolver.

A obra pode ser usada para abordar aspectos da cultura japonesa?

Nascimento: Sim, ainda que o Murakami também se utilize de elementos ocidentais em sua obra. Entre os aspectos da cultura japonesa, está a sua relação com a natureza, dos japoneses se sentirem parte dela. Para eles, o ser humano passa, mas a natureza permanecerá. Um exemplo é observar como as cidades japonesas convivem com o paisagismo, por exemplo. Há trechos de livros que falam de elementos da natureza, das cerejeiras que florescem. Em aspectos sociais, fala sobre a hierarquia na hora de se dirigir ao outro, dos níveis de intimidade de linguagem. Nossa posição em relação ao outro é o que define como conversaremos com ele. Além disso, há aspectos sobre a conquista por meio do trabalho e dados sobre a história japonesa.

É possível usar os livros do Murakami para abordar questões interdisciplinares?

Nascimento: Sim, “Caçando carneiros” e “Dance, dance, dance” abordam a guerra fria. Dentro de “Homens sem Mulheres” há o conto “Drive my car”, que fala do Japão imperialista e sua relação com [as] Coreias e [a] China, além de questões sobre machismo. Em “O Incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação”, o personagem viaja buscando retomar contato com amigos de infância e fala da relação com as ferrovias. Também assinala a importância das amizades.

Sobre questões sociais, no conto “Em chamas”, da coletânea “O Elefante desaparece”, o personagem meio que some e é possível fazer uma relação com as altas taxas de suicídio no Japão.

E a partir de quase toda a sua obra é possível discutir questões de classe, identidade e raça porque basicamente as histórias falam de como as pessoas se conectam e se relacionam.

Como escolher as obras para usar em classe?

Nascimento: Por conta do tempo escasso, as coletâneas de contos podem ser boas opções, caso de “Sono”, “O Elefante desaparece” e “Primeira pessoa do singular”. Sobre as atividades, além das rodas de conversa, pode-se fazer esquetes teatrais usando os textos como base. Uma boa alternativa é usar a coletânea “Primeira pessoa do singular”, que reúne oito contos curtos.

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Crédito da imagem: escritor Haruki Murakami – AFP

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