A educação política na escola está alinhada ao artigo 205 da Constituição Federal de 1988, que afirma ser um dos objetivos da educação preparar para o exercício da cidadania. “A democracia é um regime que exige a participação consciente da população para que funcione. A educação política ensina a fazer boas escolhas e a sustentar pactos de cidadania e de vida comum. Pontos que precisam ser aprendidos por todos”, justifica o doutor em Educação e coordenador da Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo Alexsandro Santos.

O processo eleitoral é parte da vida democrática e pode ser trabalhado desde a educação infantil. “Primeiramente, de forma lúdica, via literatura e experimentações. No ensino fundamental, é possível visitar a câmara municipal e outras instituições públicas com os alunos; explicar como funcionam as eleições no país, criar grêmios e simular pleitos”, exemplifica.

Aos 16 anos, os alunos estão aptos a tirar o título de eleitor, o que faz do ensino médio um momento oportuno para ajudá-los a analisar candidatos, planos de governo e a desenvolver senso crítico para realizar boas escolhas. “Ou seja, ajudá-los a se habilitarem como eleitores”, pontua.

Confira também: 7 livros para explicar conceitos políticos no ensino fundamental

Analisando candidatos

Propor uma atividade de análise de candidatos na escola exige abordagem suprapartidária, baseada em diálogo e pluralismo de ideias. A professora da Universidade de Brasília e coordenadora do Comitê DF da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Catarina de Almeida Santos, sugere aos alunos pesquisarem determinados pontos sobre os candidatos para depois compará-los. “Não com o objetivo de ‘cancelar’ alguém, mas para aprender que, se há dois candidatos parecidos, informações sobre seu histórico pessoal e profissional ajudam a escolher”, pontua. Confira, a seguir, 16 pontos que podem ser investigados:

  • Histórico profissional. “Já foi candidato? Quais projetos apresentou na câmara? Esses beneficiaram a população? Se não foi candidato, quais são suas lutas e movimentos que integrou?”, lista Almeida.
  • Pesquisar histórico pessoal. “Com quais grupos e setores da sociedade ele está alinhado? Possui histórico de preconceitos e discriminações contra outros grupos?”, propõe a professora.
  • Quais foram os gastos da campanha?
  • Quem financiou a campanha? “Por exemplo, se ele é financiado por planos de saúde privados, dificilmente defenderá pautas que privilegiem a saúde pública e gratuita. Se financiado por bilionários, pode não ter a distribuição de renda como prioridade”, ensina Almeida.
  • Seu discurso e promessas estão alinhados com a sua trajetória? “Um candidato é assessorado para fazer promessas. Mas se na sua vida pública ele tem posturas incoerentes com o que prega, a tendência é manter tais comportamentos após eleito”, alerta a professora.
  • Qual o partido? “Não existe candidato avulso. No Legislativo, o candidato provavelmente votará alinhado às ideologias e pautas do partido”, lembra Santos.
  • O partido do candidato dá espaço para grupos com pouca representatividade nos espaços legislativos, como mulheres, pessoas negras, indígenas, com deficiência, LGBTI+ etc.?
  • O partido integra uma federação partidária? “Conhecida anteriormente como coligação, esta pode unir partidos diferentes e com propostas até antagônicas”, adverte Santos.
  • Como o candidato se relaciona com as demandas especificas da região? “Uma comunidade ribeirinha, por exemplo, enfrenta problemas diferentes de uma cidade urbana”, justifica Almeida.
  • Usou fake news em campanha?
  • O candidato toma por base o conhecimento científico para propor suas políticas ou nega os achados da ciência?
  • Qual sua relação com pautas de direitos humanos e contra desigualdades social e racial?
  • Qual sua opinião sobre religião e política? “É preciso ajudar os estudantes a perceberem que a religião é campo da vida social importante, mas diferente do que é proposto no exercício de cargos do executivo e legislativo”, enfatiza Santos.
  • Tem histórico de nepotismo? Pertence a uma família de políticos? “No Brasil, desde o século XIX, há uma tendência das mesmas famílias ocuparem os postos políticos”, pontua a professora.
  • Tem planos de governo com medidas efetivas para educação, transporte e moradia?

Analisando planos de governo

Todos os candidatos devem apresentar um plano de governo. Este pode ser analisado de forma interdisciplinar, com a ajuda de diferentes disciplinas. “Geografia, por exemplo, ajuda a discutir o problema de moradia no Brasil e a entender os possíveis reflexos do que cada candidatos propõe sobre o tema. Já análise de gráficos e estatísticas pode ser trabalhada em matemática”, sugere Santos.

Leia também: Documentário reflete sobre engajamento político dos alunos ao registrar eleições para o grêmio estudantil

Almeida Santos lembra que as possibilidades de atividades pedagógicas são inúmeras e podem ser discutidas com os próprios alunos.“Produzir podcasts, fazer pesquisa com a comunidade, entrevistar os candidatos ou promover um debate na escola são algumas”, sugere.

Como se proteger?

Caso o professor seja acusado de partidarismo, é importante explicar que a atividade não trabalha com um candidato ou partido específico, mas com todos. “Além de esclarecer que ensinar a votar é algo que se espera da escola e está apoiado na constituição”, explica Almeida. Santos indica conversar com as famílias antes das atividades. “Como vivemos um momento de polarização, as famílias podem ser reativas quando pegas de surpresa”, acredita.

Veja mais sobre educação política na escola:

Plano de aula – Eleições e proporcionalidade

Plano de aula – Votação e processo democrático

Plano de aula – A matemática nas eleições

Plano de aula – Eleições: trabalho com tema transversal em cidadania 1

Plano de aula – Eleições: trabalho com tema transversal em cidadania 2

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