Filmes podem ajudar a ensinar a Revolução Francesa (1789), conteúdo geralmente previsto para o oitavo ano do ensino fundamental e o segundo ano do ensino médio na disciplina de história.

“Por um lado, as produções cinematográficas ajudam o aluno a criar alguma imagem e materialidade sobre o fato passado. Por outro, é preciso contextualizar que filmes são interpretações carregadas de interesses da indústria cinematográfica. Ou seja, não é a história como aconteceu, mas sim uma obra de arte, não necessariamente preocupada com precisão histórica”, adverte o professor do mestrado profissional de história na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Flávio Vilas Boas Trovão.

Docente do curso de Educação em Direitos Humanos da Universidade Federal do ABC (UFABC), Alfredo Salum indica relembrar com os alunos que a Revolução Francesa foi o marco divisor da história moderna para a contemporânea, questionando a legitimidade do rei e da monarquia.

“O antigo regime foi derrubado pela ascensão da burguesia mediante as revoluções na Inglaterra (1688), a Independência dos Estados Unidos (1776) e a Revolução Francesa (1789). Os direitos humanos e o ideário de liberdade, igualdade e fraternidade ecoaram em várias partes do mundo”, contextualiza Salum.

“Vale lembrar que a Revolução Francesa foi um projeto não apenas político, mas de civilização, redesenhando o calendário, instaurando o sistema decimal como forma de medir as coisas, trazendo uma nova concepção de Estado e do espaço público como um bem comum, entre outros”, lista Trovão.

Um desafio para o professor

Trovão lembra que a Revolução Francesa é um tema desafiador para o professor. “São muitos movimentos e personagens. Assim, minha orientação é não focar em todos os detalhes e no ‘vai e vem’ dos grupos no poder, mas em quem era essa burguesia e como ela estava dividida, e quem eram os outros sujeitos sociais, como os camponeses e pobres”, afirma.

Entre eles, pode-se destacar os sans-culottes (sem culotes), membros das classes populares urbanas que tiveram papel importante durante a fase mais radical da revolução.

“O nome se refere a eles não usarem calças curtas e ajustadas, típicas da aristocracia”, pontua Trovão.

“Entre as principais consequências, a Revolução Francesa influenciou processos de independência do Haiti, então colônia francesa, e do Brasil, quando a invasão napoleônica culminou na transferência da família real para sua principal colônia. Essa pode ser ilustrada pelo filme Carlota Joaquina, a Princesa do Brazil (1995)”, sugere Trovão.

Segundo Trovão, os filmes podem ser associados à vasta iconografia sobre o período. O professor pode ainda encontrar informações importantes na obra “A Era das Revoluções: 1789-1848”, de Eric Hobsbawm.

A seguir, confira seis filmes que ajudam o professor de história a abordar o período em sala de aula.

“Antes da exibição, porém, o professor deve assistir à produção e se atentar às possíveis cenas de batalhas, de violência e de sexo”, alerta Trovão.

Maria Antonieta (2006)

De Sofia Coppola, centrou-se na vida do casal real antes da Revolução. “Mostra ela e Luís XVI como jovens, ingênuos e despreparados para a posição de monarcas da França”, resume Salum.

Trovão explica que a diretora coloca no filme signos que não são da Revolução, mas de uma princesa adolescente. “A trilha sonora mistura rock e pop, há a imagem de um tênis em meio a sapatos do período e doces que não eram da época, como gelatina e macarons”, exemplifica.

Pode-se destacar com os alunos a escolha por filtros pastéis nas filmagens e metáforas, como a cena da princesa, que era austríaca, sendo entregue à corte francesa em meio a um lamaçal. “Ou seja, um lugar onde ela iria se afundar”, analisa Trovão.

Segundo Trovão, pontos positivos do filme são que ele foi gravado em Versailles e ilustra os últimos dias da corte francesa, com uma rotina que abrigava três mil pessoas.
“O filme não mostra o povo, ilustrando o isolamento dessa elite francesa que está longe de Paris”, aponta.

O filme ainda redime Maria Antonieta da frase atribuída a ela sobre a fome da população, “se não têm pão, que comam brioches”.

“Vale destacar com a turma que as fake news já existiam no período e que a fofoca também ajudou a derrubar a corte francesa”, acrescenta Trovão. Classificação: 14 anos.

Napoleão (2023)

“Após a primeira década da Revolução, a França assiste a um general se tornar imperador, restaurando a monarquia em um modelo militarizado no qual a burguesia detém o comando”, resume Trovão.

O filme mostra a transição de Napoleão de general a político influente e reencena imagens dele imortalizadas em pinturas. “Muitas delas são retratos de fatos que não ocorreram daquela forma e foram encomendadas por Napoleão, que também inaugura o marketing político. O filme, então, aposta em uma ‘releitura de uma releitura’ que precisa ser contextualizada com os alunos”, reforça Trovão. Classificação: 14 anos.

Danton e o processo da revolução (1982)

Aborda Georges, líder revolucionário francês que defendia medidas mais moderadas na comparação com Maximilien Robespierre, que praticava uma política de terror, com perseguições e mortes em guilhotina.

“Analisa o período entre 1793-1794, quando Danton, ao voltar para Paris, vai se indispor contra a política e o terror praticados por Robespierre, criando um clima de debate político entre eles e seus aliados. É considerada uma obra clássica sobre o tema, pois a discussão entre os protagonistas não se resume apenas ao processo revolucionário”, adianta Salum.

“A Revolução Francesa também ajuda a demarcar o conceito político entre direita e esquerda. Assim, o filme também aborda a contraposição entre o liberalismo econômico e a igualdade social”, analisa Trovão. Classificação: 14 anos.

A inglesa e o duque (2001)

Baseado no diário da aristocrata inglesa Grace Elliot, que esteve em Paris durante a Revolução Francesa. “Elliot era uma ardorosa defensora da monarquia e manteve um romance com um dos personagens mais contraditórios da revolução, o Duque de Orléans. O romance é conturbado devido aos acontecimentos que culminam com a condenação à morte do monarca e acusações de traição”, aponta Salum. Classificação: 14 anos.

Os miseráveis (2012)

O musical se passa logo após a Revolução Francesa, em um período entre 1815 e 1832, mostrando a luta de classes sociais e situações de miséria que ainda assolavam o país.
“O filme tenta representar a vida dessa população em meio a um caos político”, sintetiza Trovão.

Para os alunos, é importante explicar que a obra não é fiel à realidade, mas uma alegoria, conforme explica Trovão. “O filme é uma adaptação do musical da Broadway, que, por sua vez, é uma adaptação do livro homônimo de Victor Hugo”, destaca. Classificação: 14 anos.

A revolução em Paris (2018)

Descreve o descontrole do povo com o rei Luís XVI, durante o ano de 1789, contrastando o luxo da corte com a pobreza da população.

“Homens e mulheres clamam para que o monarca abandone o luxo do Palácio de Versalhes e saia às ruas para ver a miséria de seu povo. Resolvem ir até a Assembleia Nacional e fazer pressão em nome de uma revolução, abordando a Queda da Bastilha e a execução do rei”, aponta Salum.

O longa ainda destaca a participação ativa das mulheres na Revolução e nos debates intelectuais. Indicado apenas para o ensino médio. Classificação: 16 anos.

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Crédito da imagem: clu – Getty Images

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