A Revolução Industrial foi um período de grandes transformações econômicas, tecnológicas e sociais, iniciado na Inglaterra no final do século XVIII. Trata-se de um conteúdo previsto na disciplina de história para os anos finais do ensino fundamental (oitavo e novo anos), retomado no segundo e no terceiro anos do ensino médio, podendo, ainda, ser abordado em geografia.
Segundo o professor do mestrado profissional de história na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) Flávio Vilas Boas Trovão, autor do livro “História das Américas através do cinema”, os filmes ajudam o estudante a entender diferentes momentos da Revolução Industrial.
A primeira fase, do século XVIII ao início do XIX, foi marcada pelo uso de máquinas a vapor e a mecanização da produção, enquanto a segunda, do final do século XIX ao início do 20, trouxe eletricidade, petróleo e avanços nas comunicações e nos transportes. “É aqui que vemos o proletariado se organizando e se estruturando”, exemplifica.
A terceira fase, na segunda metade do século XX, foi caracterizada pela automação, a informática e a globalização. Atualmente, estaríamos na quarta fase, centrada na inteligência artificial, big data e tecnologias digitais avançadas.
“Ela também é chamada de ‘uberização’, com a perda de direitos trabalhistas e os trabalhadores precisando se responsabilizar por toda a produção. Também extingue o trabalhador e mantém o serviço: caso do carro elétrico que anda sozinho, monitorado por satélite”, descreve o professor.
Pontos de destaque
“Para os alunos, o primeiro ponto é mostrar que este é um processo que começou e não terminou: o que muda em cada momento é a relação entre os sujeitos e essa indústria”, pontua Trovão.
“O segundo aspecto é não pensar que chamamos esse momento de ‘Revolução Industrial’ apenas pela questão de avanços na maquinaria e nos serviços, mas porque essa indústria vai reposicionar o lugar das pessoas na sociedade. Há uma nova forma de reorganização social, e os sujeitos vão ocupar lugares diferentes de acordo com o seu papel na cadeia”, salienta Trovão.
“Para isso, vale lembrar que, antes da Revolução Industrial, havia as relações feudais, e o poder era pautado no nascimento, na amizade com o rei. A Revolução Francesa, junto da Revolução Industrial, muda essa organização, o que foi também revolucionário”, acrescenta.
A seguir, conheça 6 filmes para trabalhar com os alunos a Revolução Industrial.
Germinal (1993)
Baseado no romance homônimo de Émile Zola, retrata a luta dos operários das minas de carvão da França no século XIX, que enfrentavam condições precárias de trabalho, miséria, exploração e baixos salários
“Filme elaborado com consultoria de historiadores, mostra a segunda fase da Revolução, com o proletariado se organizando. Destaque para a fotografia escura nas minas de carvão e clara quando são retratadas as casas dos burgueses”, comenta Trovão.
“Para o professor, vale atentar-se a apenas uma cena de nudez, ao retratar que todos os trabalhadores conviviam na mesma habitação, o que pode ser cortado na hora da exibição”, complementa. Classificação: 16 anos.
Tempos Modernos (1936)
Clássica comédia de Charles Chaplin, conta a história de um operário que, logo após a crise de 1929, não se adapta ao sistema produtivo. “Denuncia que esse novo modelo de sociedade, que prometia ser revolucionário, causava fome e pobreza”, explica Trovão.
O filme enfoca o fordismo e o lugar do homem nesse processo de produção, com destaque para a cena de Chaplin sendo sugado pela máquina. “Esta é, na verdade, um projeto de filmes. Isso mostra ele próprio como produto do cinema, que também é uma indústria”, comenta o docente.
“Outro momento relevante é o patrão tentando construir uma máquina na qual os operários trabalhem enquanto almoçam, mostrando que o capital perde o limite na hora de explorar o trabalhador”, acrescenta. Classificação: Livre.
Indústria Americana (2019)
O documentário conta a história de uma empresa chinesa que compra uma fábrica nos Estados Unidos após a crise americana.
“A desindustrialização é processo da Revolução Industrial 4.0, com as grandes fábricas e montadoras da década de 1950 e 1960 fechando nos Estados Unidos e migrando para países que possuem relações de trabalho com menos direitos e mais frágeis”, contextualiza Trovão.
“O maior ‘problema’ das fábricas era o proletariado organizado. Esse consegue ser eliminado ao ser substituído pela robotização a partir da década de 1970, iniciando o debate, ainda atual, de que não haverá emprego para todos”, afirma o docente.
Segundo Trovão, o documentário ajuda a abordar a mudança nas relações de trabalho e na própria forma como os sistemas capitalista e comunista atuam e são vistos.
“A China, que na teoria é comunista, possui um modelo de trabalho que exaure a classe trabalhadora, que atua quase 12 horas por dia e sete dias por semana”, explica. “Já os norte-americanos, supostamente capitalistas e burgueses, sentem-se explorados e começam a se organizar para lutar por direitos trabalhistas, pauta geralmente atrelada ao socialismo”. Classificação: 12 anos.
Fasinpat (2004)
O título desse documentário argentino é uma abreviação, em espanhol, de Fábrica Sem Patrões. Retrata a luta dos operários da Cerâmica Zanon para assumir o controle da fábrica quando esta decreta falência. “Mostra a quarta fase da industrialização em uma realidade mais próxima da brasileira”, descreve Trovão. Classificação: Livre.
Mauá – O imperador e o rei (1999)
O filme retrata a infância, ascensão e queda de Irineu Evangelista de Sousa (1813–1889), empreendedor conhecido como Barão de Mauá. “A obra aborda a industrialização durante o Segundo Reinado do Brasil”, recomenda o professor de história Fabricio Alcindo Kuhn. Classificação: 12 anos.
Daens, um grito de justiça (1992)
Na década de 1890, o padre Adolf Daens visita uma cidade têxtil na Bélgica, onde trabalhadores enfrentam péssimas condições. Ele passa a defendê-los publicamente, desafiando a Igreja e a burguesia. “O filme aborda as desigualdades sociais e problemas trazidos pela urbanização”, descreve Kuhn. Classificação: 16 anos.
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