Filmes podem ser uma ferramenta pedagógica para ensinar o Iluminismo, movimento intelectual do século XVIII que defendia o uso da razão, da ciência e do pensamento crítico para questionar tradições, dogmas religiosos e sistemas políticos autoritários. Na educação básica, o conteúdo está previsto para a disciplina de história no oitavo ano do ensino fundamental e no primeiro ano do ensino médio, bem como em filosofia no primeiro ano do ensino médio.
“O Iluminismo pretendia rever os conceitos da sociedade moderna e abordava os princípios da liberdade política, econômica e religiosa. Ajudou a repensar sociedade, governos, religião, natureza, direito, emancipação da mulher, escravidão e colônias”, contextualiza a doutora em história e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) Sofia Alves Valle Ornelas.
“Além disso, foi um movimento amplo, com ideias plurais e até contraditórias”, acrescenta.
“O Iluminismo fundou as bases do que vivemos no mundo hoje em termos de política e economia. Nossa ideia sobre Estado, cidadania e direitos humanos, por exemplo, veio do Iluminismo”, afirma o professor de antropologia da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) Allan de Paula Oliveira.
Iluminismo na tela
Ornelas indica aos professores não apenas passar filmes que retratam o Iluminismo, mas também aqueles que trazem princípios iluministas, como liberdade política e religiosa.
Nas discussões com a turma, Oliveira alerta para não cair em maniqueísmos. “Ao mesmo tempo que o Iluminismo apresentou ideias que marcaram nossas vidas, também provocou problemas. Nossa relação com o meio ambiente vem de ideais iluministas do homem como o centro de tudo e é algo que precisa ser revisto”, opina.
“Além disso, o Iluminismo é muito marcado pelas ideias da Europa, mas há o pensamento de outras culturas, como os povos originários, que oferecem novas formas de interpretar a realidade e ajudam a superar o pensamento do século XVIII”, opina Oliveira.
Para Ornelas, o Iluminismo não deve ser visto como causa histórica de nenhum mal na humanidade, mas a crítica sobre seus pensamentos é bem-vinda.
“O Iluminismo sofreu ataques pelo conjunto de ideias que privilegiam a razão, mas que no século XX teriam sido utilizadas de forma inescrupulosa nas grandes guerras e em matanças. Críticas que partiram de grandes pensadores, como Max Horkheimer”, explica.
“Porém, é possível entender o Iluminismo não como construtor de atrocidades, mas como um repensar sobre a própria humanidade”, defende Ornelas.
A seguir, conheça três filmes que ajudam a ensinar o Iluminismo e suas ideias.
Danton e o processo da revolução (1982)
Retrata o embate político entre Georges Danton e Maximilien Robespierre durante a Revolução Francesa. Danton era defensor de medidas moderadas, enquanto Robespierre promovia perseguições e execuções em massa. “Ao narrar a fase do terror na Revolução Francesa, o filme traz pontos a serem pensados, como o sentido da governança, do radicalismo e o tipo de governo que deveria ser instaurado na França”, apresenta Ornelas. Classificação: 14 anos.
Lutero (2003)
Retrata a vida de Martim Lutero, que ingressa em um monastério, mas passa a questionar as práticas da Igreja Católica e a pregar suas próprias teses. Perseguido, desafia a Igreja a refutar seu pensamento com base na Bíblia. Excomungado, foge e inicia uma batalha para defender seus ideais. “O filme aborda diferenças religiosas e a fundação da Igreja Protestante, ajudando a ilustrar questões do Iluminismo para a classe”, aponta Ornelas. Classificação: 14 anos.
Ainda estou aqui (2024)
Adaptação do livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, narra a trajetória de Eunice Paiva durante a ditadura militar no Brasil. Após o desaparecimento do marido, ela se transforma em uma ativista dos direitos humanos, enfrentando a repressão e lutando pela verdade. O filme destaca o impacto do regime na vida das famílias e o papel das mulheres na resistência.
“Este é um exemplo no qual podemos pegar um filme contemporâneo e, a partir dele, trazer elementos de reflexão sobre princípios iluministas. Por meio dessa produção, é possível abordar a liberdade política, um tema extremamente caro aos iluministas, assim como formas de governo, tema analisado por Voltaire, Rousseau e outros pensadores”, finaliza Ornelas. Classificação: 14 anos.
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Crédito da imagem: clu – Getty Images