A cápsula do tempo é uma prática que consiste na escolha e arquivamento de objetos e documentos representativos de uma época específica para serem revelados e estudados no futuro.

No âmbito educacional, essa prática aproxima os alunos do passado, estimulando a reflexão sobre o contexto histórico e sobre os protagonistas da narrativa histórica. Por meio do material escolhido, também permite explorar costumes, tecnologias, eventos políticos, sociais e culturais de uma época, proporcionando uma visão mais ampla da história.

“A cápsula do tempo é um organizador de memórias e instrumento fantástico para as aulas de história justamente porque nos permite perceber uma passagem do tempo que é invisível no dia a dia. Quando você congela um fragmento de momento em cápsula do tempo e, posteriormente, o confronta com os dias atuais, percebe mudanças externas, mas também internas, o quanto você mesmo mudou. No ensino de história, ajuda justamente a trabalhar essa percepção”, resume o professor de história da rede municipal de São José dos Campos (SP) Alessandro Santana.

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Alunos da EMEF Geraldo Almeida abrindo uma cápsula do tempo em 2021, época de pandemia do coronavírus (crédito: Claudio Vieira/PMSJC)

Escolhendo os itens

Segundo Santana, a cápsula do tempo pode ser trabalhada com alunos de todas as etapas. No caso do professor, ele trabalha com a cápsula do tempo com alunos do ensino fundamental em um período de três anos entre a coleta dos itens – boletins escolares, cartas, fotos e diários – e a sua abertura. Os itens foram enterrados no jardim da escola.

“Houve um planejamento para esse trabalho porque eu me organizei para estar com uma turma de sexto ano até o nono ano. Assim, no sexto ano, eles estudaram as diferenças entre tempo histórico e tempo cronológico, no qual ensinamos essa noção de passagem do tempo, sujeitos históricos e o que é a história. A cápsula foi produzida e aberta dentro desse contexto e para que eles tivessem, ao final, a percepção do que foi estudado”, ensina.

Segundo o docente, o processo de escolha dos itens que seriam arquivados junto com os alunos foi prazeroso. “Não podia colocar ali nada que estragasse ou que eles fossem precisar em curto prazo. Eles escreveram cartas para eles no futuro, colocaram fotos e objetos. Estavam marcando ali a infância deles”, compartilha.

“A gente tirou foto da turma durante a produção da cápsula e, na abertura, eles viram quantos amigos já não estavam mais ali, que haviam mudado de escola no decorrer do caminho. Foi bonito, e os alunos ficaram todos emocionados”, descreve.

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Alunos da EMEF Geraldo Almeida com uma cápsula do tempo em 2021, época de pandemia do coronavírus (crédito: Claudio Vieira/PMSJC)

Cápsula de 1922

Em 7 de setembro de 1922, em comemoração ao primeiro centenário da Independência do Brasil, alunos e funcionários da Escola Estadual Sud Mennucci, em Piracicaba (SP), cimentaram no interior da escola uma cápsula do tempo com informações e objetos da época para ser aberta cem anos depois, em 2022.

“Foram mais de 600 itens, entre selos, mapas, trabalhos escolares, fotos da cidade, cartas dos alunos do passado para os alunos do futuro, dos professores e diretor para seus pares de 2022, recortes de jornal entre outros objetos”, lista o assistente de ação educativa e programação do Museu H. P. Prudente Moraes, em Piracicaba (SP), Mauricio Beraldo.

“Nas cartas, os alunos falam sobre seus costumes, moda da época, como estava a cidade, como imaginavam o futuro. Entre as curiosidades, o diretor – que era médico e imaginava que no futuro a rotina estaria mais corrida e seríamos mais estressados – deixou a receita caseira de um remédio calmante”, relata.

Todo o acervo foi digitalizado e está disponível online pelo site da Câmara de Vereadores de Piracicaba. Ele pode ser acessado por professores de outras escolas e redes do Brasil.

“É possível ver como era sociedade na época e seu momento socioeconômico por meio da redação dos alunos, além dos preparativos da cidade para as comemorações do centenário da independência”, pontua Beraldo.

Dicas para criar uma cápsula do tempo

Os alunos de 2022 da Escola Estadual Sud Mennucci produziram uma nova cápsula do tempo, agora para ser aberta em 2072, depois de 50 anos. O Museu H. P. Prudente Moraes ajudou no projeto com dicas de conservação dos documentos.

“É melhor optar por documentos escritos, já que não sabemos se mídias como pen drives, HD externo, ou mesmo CD, terão tecnologia para serem abertas daqui há 50 anos. Além disso, não é recomendável deixar itens que possam vazar, como baterias de eletrônicos”, orienta.

“Recomendamos a caixa de acrílico, que não é corrosiva, e que ela seja bem selada. É possível também utilizar papel com pH neutro. Por fim, é preferível enterrar a caixa em uma parede interna, onde não haverá umidade e ela não estará sujeita a intempéries, do que na terra de um jardim, por exemplo”, recomenda.

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Crédito da imagem: Claudio Vieira – Prefeitura Municipal de São José dos Campos

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