Em 1º de janeiro de 2023, o Brasil se despediu da pensadora Magda Soares, professora emérita da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e uma das principais referências em alfabetização do Brasil. Em seus 90 anos de vida, Soares deixou como legado a defesa de que não existe um único método para se alfabetizar e as diferenças entre alfabetização e letramento. Para ela, esses eram processos interdependentes e indissociáveis: enquanto o primeiro era adquirido por meio de práticas de leitura e escrita, o segundo era desenvolvido pelo uso dessa habilidade nas relações sociais.
Entre seus livros que trataram do assunto estão “Alfabetização: a questão dos métodos” (2017), pelo qual foi vencedora do Prêmio Jabuti, e “Alfaletrar: toda criança pode aprender a ler e a escrever” (2020).
A seguir, separamos cinco links que ajudam a compreender melhor o pensamento de Magda Soares sobre alfabetização e como aplicá-lo no dia a dia escolar. Confira!
Artigo – “Letramento e alfabetização: as múltiplas facetas”
Neste trabalho apresentado no Grupo de Trabalho “Alfabetização, Leitura e Escrita”, durante a 26ª Reunião Anual da ANPEd, em 2003, Soares tratou de diferenciar esses dois conceitos tão inovadores em sua obra.
“Não são processos independentes, mas interdependentes, e indissociáveis: a alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de práticas sociais de leitura e escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua vez, só se pode desenvolver no contexto da e por meio da aprendizagem das relações fonema-grafema, isto é, em dependência da alfabetização”, escreveu.
Vídeo – Entrevista: Alfabetização e letramento
Neste vídeo, que faz parte do acervo do projeto Alfaletrar, Magda Soares explica a necessidade de o professor ter noções dos processos psicológicos e fonoaudiológicos que envolvem as crianças na alfabetização.
“É difícil para a criança aprender um sistema de representação que é bastante abstrato. Trata-se de representar os sons da fala em grafia, em riscos e traços. Para que ela vivencie isso, é necessário que o professor entenda como esse processo se desenvolve na criança”, disse Soares.
Entrevista – Usar apenas um método de alfabetização é insuficiente, diz ganhadora do Jabuti 2017
Nesta entrevista, Soares explica que o processo de alfabetização exige diferentes operações cognitivas e linguísticas da criança. Assim, o uso de apenas um método por educadores se mostra insuficiente.
“Métodos de alfabetização, em geral, privilegiam um ou alguns dos componentes cognitivos e linguísticos dessa aprendizagem, ignorando os demais. Assim, para que todos os componentes do aprendizado sejam considerados, a solução tem sido usar no ensino, simultaneamente, propostas de diversos métodos”, explicou.
Live – Alfabetização e Letramento: da cultura do papel para a cultura das telas
Live promovida em 23 março de 2021 pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Didática da Leitura, da Escrita e de Literatura (GELLITE) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). No contexto de pandemia da covid-19, Soares destacou as diferenças culturais entre classes sociais e sua repercussão na educação das crianças.
“Falo e denuncio isso desde o livro ‘Linguagem e escola: uma perspectiva social’. Ele é dos anos 1980 e até hoje é um dos meus livros que é reeditado sistematicamente. Isso me incomoda porque penso que nada mudou. As escolas e cursos de pedagogia o tem usado e continuamos na mesma situação que ele descreve”, pontua.
Magda Soares em entrevista para Cadernos de Educação (UFPel)
Nesta entrevista, Soares repassa alguns pontos tratados em seus livros e textos “Linguagem e Escola” (1987); “Letramento: um tema em três gêneros”(1988); “Alfabetização: a questão dos métodos” (2017) e “Alfaletrar” (Contexto, 2020).
“Pode-se dizer que a alfabetização se fundamenta em fonética e fonologia, e o letramento se fundamenta na linguística textual, nas teorias do discurso e dos gêneros. É claro que um alfabetizador não pode se contentar com a aprendizagem do sistema de escrita pelas crianças, deve fazer delas leitoras e produtoras de textos”, pontua.
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