Parlendas são um tipo de texto de tradição oral ligado ao folclore brasileiro. Essas rimas usadas para brincadeiras geralmente estão em domínio público e podem ser usadas pelo professor, especialmente na fase da alfabetização. “É breve, rimado, ritmado, repetitivo e nem sempre tem um significado lógico ou coerência. É mais um diálogo inusitado no qual predominam a sonoridade e as imagens associadas”, descreve a doutora em educação Gislaine Gobbo, autora do artigo “Formação de professores: possibilidades de trabalho com gêneros discursivos na modalidade parlendas no processo de alfabetização (2019)”. Batatinha quando nasce; 1, 2, feijão-com-arroz e ciranda-cirandinha são alguns exemplos clássicos de parlendas brasileiras.
“Como possui ritmo, é um texto que convida à brincadeira, ao movimento e gestos corporais. Por isso, seu uso na escola é interessante: proporciona um momento lúdico e alegre”, pontua a educadora. As parlendas também são indicadas na alfabetização justamente por serem curtas, sonoras e de fácil memorização.
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“Também estimulam a imaginação, a leitura por meio de processos semióticos, a oralidade e a escrita por meio de imagens, números, cores e formas”, acrescenta a mestre em educação Josenaide Lopes Silva Zampronho, autora do artigo “Possibilidades de letramento para o desenvolvimento da leitura e da escrita: um estudo a partir das parlendas” (2021).
Possibilidades em aula
Tratando-se de alfabetização com parlendas, o ideal é que a criança seja exposta ao texto em seus mais diversos formatos. “São indicadas atividades que a ajudem a pensar a relação do som e da fala, de fonema e grafema, do que se fala e do que se escreve”, resume Gobbo. Confira 13 dicas da especialista para os professores dos anos iniciais do ensino fundamental.
Apresentar o material escrito
Apresentação da leitura do material escrito, que pode ser fixo (cartaz) ou composto na lousa com participação dos alunos e professor como escriba. “É importante que ele esteja visível não apenas no livro, mas também em cartazes, pois há uma relação entre a alfabetização e contemplar com os olhos. As crianças visualizam e acompanham a leitura”, orienta a docente.
Texto próximo
O texto também precisa estar próximo aos estudantes. “Não pode estar somente pendurado na parede, mas registrado no caderno, onde eles possam levar consigo”, ensina.
Repetição
Para a memorização, é necessário que se repita a parlenda em dias consecutivos, possibilitando que a criança escute e acompanhe a leitura do texto. “O objetivo é o desenvolvimento da memória, da atenção e percepção da linguagem escrita”, destaca Gobbo.
Percepção integral das parlendas
Outra observação é que a criança tenha a percepção do texto integral. “Ou seja, não vou iniciar com sílabas, com ba-be-bi-bo-bu”, esclarece. “No período arcaico, a alfabetização se centrava em decodificação e sílabas, hoje se entende que traz sentido e significação usar a escrita, oralidade e leitura no contexto social real”, destaca.
Imagens ilustrativas
Se confeccionar a parlenda em cartaz para exposição, traga as imagens daquilo que é mencionado no texto, como cachimbo, lagoa ou morro. “Assim, a criança compreende o significado cultural das palavras e os objetos concretos transpostos em imagens”.
Movimentos e gestos
É interessante que a parlenda traga movimentos e gestos corporais, podendo ser realizadas atividades fora da sala de aula. “Isso também constitui um processo de representação do texto escrito”, relata a pesquisadora. “Pode-se pronunciar cada palavra batendo a palma ou o pé para demarcar essa segmentação e ritmo sonoro”.
Desenhos das parlendas
As crianças também podem compor o conteúdo das parlendas com desenhos. “O processo de representação percorre, também, o simbolismo do desenho”, lembra Gobbo.
Desmonte o texto
Depois que o professor expôs o aluno ao texto diversas vezes, é possível realizar atividades de desmontar os textos da parlenda em cartazes – a chamada parlenda segmentada ou fatiada. Isso pode ser feito na lousa ou em cartazes com os trechos colados com fita crepe. “Pode-se segmentar em linhas, por frases ou palavras. Pode haver espaços em branco para os alunos completarem. Cada palavra tem um significado e a criança irá compor esta relação de ordem”, explica Gobbo.
Remonte a parlenda
Depois de decomposto, o texto é novamente remontado “Parto da totalidade, decomponho a unidade e componho novamente”, explica a professora.
Explore as rimas
“Isso ajuda a criança a antecipar as palavras que compõem as rimas, a visualizá-las no texto e relacioná-las com o que o professor e os colegas cantam”, diz. “Ainda desperta a capacidade para a alfabetização por meio da consciência da unidade da palavra”, destaca.
Jogos e atividades
Para melhorar ainda mais a compreensão dos grafemas e fonemas, é possível lançar mão de ações didáticas como: quebra-cabeça (com sons e imagens), jogo da memória e bingo usando as palavras presentes na parlenda trabalhada.
Avaliação por portifólio
Ao final, a compreensão da criança pode ser avaliada por meio de portifólio ou relatórios
Materiais de apoio
Como material de apoio para o professor descobrir parlendas, Gobbo indica os livros “Parlendas para brincar”, de Josca Ailine de Baroukh e Lucila Silva de Almeida; e “Quem canta seus males espanta”, de Theodora Maria Mendes de Almeida.
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