A música pode contribuir com a alfabetização das crianças não como meio ou método de ensino, mas como forma de expressão a ser explorada pelos professores. “O processo de apropriação da linguagem e da escrita acontece o tempo todo e está vinculado ao nosso contato com a cultura. A música, por sua vez, é uma expressão cultural”, explica a pedagoga de Curitiba (PR) e pesquisadora do tema, Luciana Tavares.

“Para escrever um texto, necessito de ritmo, velocidade, intensidade e som, elementos que também estão presentes nas canções. Assim, auxiliam no entendimento da fluência da linguagem”, pontua. Segundo a especialista, compreender a linguagem é um exercício complexo. “Ouvir, falar, escrever e ler não estão separados, mas consonantes. A música ajuda as crianças a entenderem esse processo”, garante.

Por sua vez, memória e afetividade são elementos relacionados às canções e que são resgatados na aprendizagem. “Com isso, os alunos se sentem motivados a participar das propostas e são protagonistas”, acrescenta a professora do ensino fundamental na rede municipal de Pindamonhangaba (SP), Kátia Corregiari Santos.

Escuta atenta

Para começar, Tavares propõe que as crianças parem para somente apreciar diferentes tipos de música, incluindo instrumentais e clássicas. “O objetivo é treinar a escuta atenciosa, importante na aquisição da linguagem”, justifica. Já Santos recomenda escolher uma canção com poucas frases e sílabas simples. “Faça a leitura em voz alta e com o dedo acompanhando. Os alunos vão relacionar o grafema (som) com a grafia (letra). Você pode ainda começar pela palavra que se repete ou uma pequena frase”, ensina.

É possível trabalhar a letra de canções populares, que as crianças já conhecem. “O aluno focará sua aprendizagem na grafia das letras, silabas e palavras. Ele se sente seguro ao perceber que as conhece, utilizando habilidades cognitivas como observar, relacionar, identificar e compartilhar informações”, destaca Santos. Ela também lista as diferentes atividades baseadas em letras de música que podem ser aplicadas no fundamental 1: letras avulsas para montar palavras-chaves; identificar e comparar palavras no texto; circular rimas; colocar frases na ordem correta; ilustrar partes da música; produzir cartazes, entre outras.

Por sua vez, Tavares relata sua experiência de escrever uma letra de música com as crianças. Trabalhando com os biomas brasileiros, eles estudavam o jacaré. “Fizemos uma roda de conversas e eu anotei as dúvidas das crianças. Ao final, escrevemos juntos uma letra, que a professora de artes ajudou a musicar”, compartilha. “Nesse caso, o diferencial é deixar as crianças produzirem, não o professor fazer a letra por elas”, alerta.

Intencionalidade

A música escolhida deve proporcionar um grau de dificuldade intermediário e estar dentro da proposta intencionada pelo professor. Tavares, por exemplo, aposta em temáticas que estimulem as crianças a analisarem criticamente o mundo ao redor. “Discuta com a turma o que a música está querendo dizer. É um conflito, é preconceituosa? Isso garante novos significados”, orienta.

Ela também troca canções de animações norte-americanas ou de produtos comerciais por exemplos da cultura nacional e de outras nações. “Gosto de trabalhar parlendas, canções de ninar e folclóricas brasileiras ou de outras nacionalidades, permitindo que eles comparem e discutam as semelhanças e diferenças entre elas”, aponta.

Santos contraindica musicas desconhecidas ou extensas em um primeiro momento, que podem ser difíceis para a classe. “Evite também músicas que as crianças dominem completamente, para garantir um certo desafio e estimulo”, justifica. Para ela, vale fazer alguns autoquestionamentos antes de escolher a canção a ser trabalhada com a turma. “Pedagogicamente, o que ela vai acrescentar? Esta música é a melhor opção para que meu objetivo seja alcançado? Meu aluno vai refletir por meio da letra desta música?”, questiona.

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