Filmes podem contribuir para ampliar o debate sobre intersexualidade, oferecendo visibilidade a uma população historicamente silenciada e combatendo estereótipos relacionados a ela.
A pessoa intersexo nasce com características físicas, genéticas ou hormonais que não se enquadram nas definições biológicas típicas de masculino (cromossomo XY) ou feminino (cromossomo XX). São conhecidas 48 variações, entre elas nascer sem órgãos sexuais e reprodutivos, apresentar características de ambos os sexos, produzir hormônios de diferentes tipos ou ter cromossomos como XXY, entre outras possibilidades.
“Infelizmente, ainda há poucos filmes, séries e documentários com protagonismo intersexo. E, quando não há uma representação cuidadosa, os estigmas e preconceitos podem aumentar”, afirma a doutora em educação e presidenta da Associação Brasileira de Intersexos (Abrai), Thaís Emília de Campos dos Santos.
Entre os estereótipos mais comuns presentes em sociedade está a ideia de que pessoas intersexo precisam ser corrigidas cirurgicamente para se enquadrar em padrões binários.
“A representação intersexo no audiovisual ainda enfrenta o desafio de superar a exotização, herança de um período em que essas pessoas eram retratadas como exóticas e exibidas em museus ou circos. Além disso, é recorrente o uso do termo ‘hermafrodita’ — conceito da biologia que se refere à ambivalência sexual em organismos com órgãos genitais internos e/ou externos de ambos os sexos —, o que apaga a diversidade de experiências intersexo”, explica o doutor em bioética e pesquisador do coletivo Intersexo Brasil Amiel Vieira.
“Para completar, faltam produções baseadas nas histórias de pessoas intersexo ou que sejam criadas em diálogo com essa população.”
O apagamento é outro problema comum nas produções audiovisuais. Santos lembra o caso da novela Renascer (1993), que apresentou a personagem Buba como intersexo. No entanto, no remake de 2024, a condição biológica foi deixada de lado, e a personagem passou a ser retratada como mulher trans.
“Tivemos diálogo com a produção sobre essa situação de apagamento e, como forma de reparação, eles criaram na trama o nascimento de um bebê intersexo”, relata.
Para quem deseja se aprofundar no tema, Santos indica o documentário “Vozes da Diversidade” (2024), que é produzido pela Abrai e reúne depoimentos de pessoas intersexo.
Além disso, os especialistas indicam cinco filmes que trazem o debate sobre intersexualidade por meio de protagonistas ou de personagens secundários. As sinopses contêm spoilers.
XXY (2007)
Produção argentina considerada pioneira na temática, conta a história de Alex, jovem intersexo criada como garota que, ao entrar na adolescência, passa a explorar sua sexualidade e enfrenta tanto hostilidade quanto acolhimento. Para protegê-la da pressão de médicos que defendiam uma cirurgia de “correção”, seus pais se mudam para um vilarejo no Uruguai. A rotina familiar é alterada quando eles recebem a visita de um casal de amigos acompanhado do filho adolescente.
Hermafrodita (2009)
Na República Dominicana, o filme acompanha Maria, jovem intersexo nascida em uma aldeia e vítima de discriminação social. Em busca de uma nova vida, ela parte em uma jornada e cruza o caminho de um homem foragido.
O Predestinado (2014)
Um agente temporal enfrenta sua última missão após anos viajando no tempo para caçar criminosos e fazer cumprir a lei. Em sua trajetória, cruza o caminho de Jane/John, uma pessoa intersexo que vive duas identidades de gênero.
Metamorfoses (2019)
Produção filipina que aborda a vida de Adam, pessoa intersexo que nasceu com dois órgãos sexuais. Criado como garoto até seu primeiro período menstrual, ele enfrenta conflitos pessoais e sociais em sua trajetória.
Conclave (2024)
Após a morte repentina do Sumo Pontífice, o cardeal Lawrence recebe a missão de conduzir a escolha do novo Papa. Com os principais líderes da Igreja reunidos no Vaticano, segredos e conspirações ameaçam os alicerces da instituição. Além disso, o que ninguém imagina (spoiler) é que entre os candidatos ao papado está uma pessoa intersexo.
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