Séries com personagens LGBTQIAPN+ podem trazer visibilidade para a diversidade que existe na sociedade, ajudando também a combater estereótipos e preconceitos

Dependendo de como essa representação é feita, ela amplia horizontes não apenas de quem está dentro da comunidade, mas de seus familiares. Uma série pode ajudar essa pessoa LGBTQIAPN+ a iniciar uma conversa com uma avó ou com um colega de trabalho, por exemplo, aproximando pessoas”, descreve a doutora em comunicação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e crítica de cinema Enoe Lopes.

“Essas produções podem educar o público e promover empatia e compreensão com as vivências da comunidade”, complementa o mestre em cinema e narrativas sociais pela Universidade Federal do Sergipe (UFS) Victor Luis Rodrigues Moura.

Representatividade recente

A representatividade de pessoas LGBTQIAPN+ em séries possui um pouco mais de 50 anos. Moura explica que se atribui ao personagem Peter Panamá, da série The Corner Bar (1972), o título de primeiro gay nesse tipo de produção.

De lá para cá, ele aponta avanços e retrocessos.

“Em 1997, o sitcom Ellen, da comediante Ellen DeGeneres, foi cancelado após a atriz e sua personagem se declararem lésbicas. Em 2000, a série adolescente Dawson’s Creek exibiu o primeiro beijo gay em horário nobre na televisão estadunidense. Nesse mesmo período, tivemos as estreias das produções ‘Queer As Folk’ (‘Os Assumidos’) e ‘The L Word’, voltadas respectivamente para o público gay e lésbico”, resume.

“As duas últimas décadas foram marcadas por progressão, com mais protagonistas não heterossexuais e com diversidade de raça, classe e padrões estéticos. Mas é algo ainda aquém do ideal”, analisa Lopes.

Diversidade de narrativas

Ter mais personagens LGBTQIAPN+ em séries esbarra em alguns desafios. Para produtores e criadores de séries, Moura cita a censura por parte de países que possuem leis contra esse tipo de conteúdo, caso da Rússia.

“Para o público, um desafio é lidar com o chamado queerbaiting, quando os produtores da série criam uma tensão romântica entre personagens do mesmo gênero para atrair audiência, sem nunca concretizá-la”, aponta.

Para Lopes, outra problemática é a falta de boas representações. “Isso é reflexo da pouca diversidade atrás das câmeras, como ter menos pessoas LGBTQIAPN+ em roteiro, direção, criação etc.”, destaca.

Além disso, dentro da sigla, Moura vê pessoas trans e intersexo sub-representadas nas séries.

“Isso perpetua desinformação e pode reforçar a ideia equivocada de que essas identidades são raras ou anômalas”, opina.

Assexuais também são poucos em séries ou possuem histórias pouco desenvolvidas e exploradas”, acrescenta Moura.

Já em termos de narrativas, Lopes ainda vê maior ênfase em histórias que narram o processo de se descobrir LGBTQIAPN+.

“E, no caso de pessoas trans, ainda se exploram narrativas de sofrimento”, alerta Lopes.

Já para Moura, faltam histórias que abordem pessoas LGBTQIAPN+ com deficiências, incluindo neurodivergentes.

A seguir, conheça oito séries recentes com representatividade LGBTQIAPN+ para assistir!

Heartstopper (2022)

Charlie, um jovem inseguro por sofrer bullying, e Nick, popular jogador de rúgbi, desenvolvem uma amizade intensa que os leva a questionar o sentimento.

“Humaniza a experiência dos jovens, que são apresentados como amorosos e contando com uma boa rede de apoio. Há personagens gays, bissexuais, trans e assexual”, comenta Moura.

As Five (2021)

A série, que é um spin-off de Malhação – Viva a Diferença (2017-2018), narra cinco amigas que se conheceram em uma pane do metrô de São Paulo. Entre elas está Lica, personagem lésbica.

The Umbrella Academy (2019)

Irmãos adotivos com habilidades extraordinárias são forçados a se reunir para enfrentar ameaças apocalípticas, desvendando segredos familiares enquanto embarcam em viagens pelo tempo. “É protagonizado por Elliot Page, que passou por uma transição de gênero entre a segunda e a terceira temporadas, assim como seu personagem”, descreve Moura.

Pose (2018)

Ambientada em 1987, na cidade de Nova York, acompanha Blanca, mulher trans participante de bailes LGBTQIAPN+ que acolhe pessoas marginalizadas.

Manhãs de Setembro (2021)

Narra a história de Cassandra (Liniker), uma mulher trans que trabalha como motogirl em São Paulo enquanto busca realizar seu sonho de ser cover da cantora Vanusa. Ela enfrenta reviravoltas ao descobrir que pode ter um filho com sua ex-namorada.

Special (2019)

Acompanha um jovem gay e com paralisia cerebral que decide conquistar o primeiro emprego e morar sozinho.

Euforia (2019)

Rue Bennett, uma jovem de 17 anos, retorna para casa após se recuperar de uma overdose em uma clínica de reabilitação. Sua jornada ganha um novo significado ao conhecer Jules, uma adolescente transgênero que se mudou recentemente para a cidade com seu pai.

It’s a Sin (2021)

Minissérie britânica de cinco episódios que aborda a vida de um grupo de amigos entre 1981 a 1991, durante a crise de epidemia do HIV/AIDS no Reino Unido.

Crédito da imagem: JGalione – Getty Images

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