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A série de videocasts PCDPOD, apresentada por Benedita Casé e Pedro Henrique França, profissionais do audiovisual e com deficiência, foi criada para combater o capacitismo manifestado na forma de preconceito à aptidão das PCDs.

Com episódios semanais lançados toda quinta-feira, de 3 de agosto a 21 de setembro – Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência –, a primeira temporada tem o objetivo de mostrar que pessoas com deficiência podem fazer o que desejam, e não o que a sociedade as impõe.

“Mas quando você pergunta o que a sociedade determina, está muito nesse lugar de coitado, de incapaz, no lugar de ‘ah, é bonzinho, é um amor, é uma coisa fofa’, mas não é uma pessoa que tem força. Força no lugar de qualidades. O capacitismo se disfarça muito dessa coisa da boa intenção, da ajuda. E a gente não quer essa ajuda, a gente quer colocar todo mundo na mesa e discutir sobre tudo, como qualquer outra pessoa”, afirma a diretora, roteirista, designer, produtora de conteúdo e surda oralizada Benedita Casé.

Segundo França, o videocast apresenta pessoas que o público precisa conhecer. “Ou porque está ocupando espaço no direito ou porque está ocupando espaço no jornalismo ou porque conseguiu ocupar um espaço nas artes ou é um influenciador”, explica o diretor, roteirista, ator e jornalista.

As entrevistas abordam afetos e desejos, urbanismo, políticas públicas, internet, autoestima, representatividade e entretenimento. O último episódio contará com as participações das mães da dupla de apresentadores, Regina Casé e Maria Helena.

Disponíveis também no Youtube Music e Spotify, o PCDPOD tem audiodescrição, legenda e Libras.

Confira todos os detalhes nesse podcast de Cidadania.

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Transcrição do Áudio

Música: Introdução de “O Futuro que me Alcance”, de Reynaldo Bessa, fica de fundo

Benedita Casé:

Foi uma coisa que aconteceu comigo e com o Pedro, cada um tem os seus motivos, que a gente tem falado muito lá no PCDPOD.

Pedro Henrique França:

[áudio de episódio do videocast PCDPOD] As pessoas que estão vendo a gente aqui agora estão vendo uma pessoa surda, uma pessoa com nanismo. Qual a importância desse lugar aqui da nossa reunião no sentido de nos afirmarmos e falarmos ‘sim, podemos estar aqui falando de fofoca, de política pública, de segurança…’.

Benedita Casé:

Quando a gente começou a trocar mais entre a gente, a gente sentiu que precisava levar isso para as outras pessoas e trocar com outras pessoas com deficiências diferentes das nossas.

Eu sou a Benedita Casé, sou a mãe do Brás, de 5 anos, sou diretora audiovisual, roteirista, designer, produtora de conteúdo e sou uma surda oralizada.

Vinheta: Instituto Claro – Cidadania

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:

Quantas pessoas com deficiência você conhece? Com quantas você já trabalhou? Essas são algumas das provocações feitas no PCD POD. O videocast é apresentado por Benedita Casé e Pedro Henrique França, que se conheceram na equipe de produção do programa Esquenta, na Rede Globo. A primeira temporada entrou no ar dia 3 de agosto e tem episódios semanais até 21 de setembro, dia nacional de luta da pessoa com deficiência. Os episódios trazem uma reflexão sobre a necessidade de se avançar no debate sobre o preconceito às pessoas com deficiência, também chamado de capacitismo.

Benedita Casé:

Eu e o Pedro a gente se conhece já há um bom tempo. A gente sempre se enxergou nesse ambiente de trabalho, mas a gente nunca tinha conversado sobre as nossas questões, né, enquanto pessoas com deficiência.

É claro que a gente tinha, de alguma forma, uma sintonia nesse sentido porque a gente se via ali, né, ocupando aquele espaço. E aí vem a ideia de fazer e trocar as nossas experiências com outras pessoas incríveis que estão fazendo coisas que eu acho que, às vezes, parece que é uma coisa extraordinária. Então, eu acho que o objetivo era a gente mostrar e naturalizar que está todo mundo, enfim, fazendo trabalhos incríveis, que estão no mercado de trabalho, que estão em todas as áreas profissionais e tal.

Pedro Henrique França:

Estamos apresentando aqui pessoas com deficiência que você deveria conhecer. Ou porque estão ocupando espaço no direito ou porque está ocupando espaço no jornalismo ou porque conseguiu ocupar um espaço nas artes ou é um influenciador.

A gente tem, graças à internet, né – porque, se dependesse das indústrias artísticas, essas pessoas não teriam chegado lá sozinhas –, a gente tem hoje influenciadores que furaram essa bolha, essa barreira da publicidade, da possibilidade de ir a um programa, ser convidado.

Marcelo Abud:

Benedita Casé cita o episódio 4, com o educador Jota Marques e o humorista Gigante Leo, para exemplificar alguns temas tratados no PCDPOD.

Benedita Casé:

Foi um programa que mexeu muito com a gente em muitos lugares assim. O Jota, que é um educador incrível, comunicador na Cidade de Deus, trouxe falas muito potentes, muito fortes. Eu e o Pedro, a gente se emocionou em vários momentos do programa.

Jota Marques no episódio 4 do PCDPOD:

Eu costumo dizer que a educação, ela me salvou, mas antes ela me matou. O espaço escolar me foi muito violento. Só que eu fui estimulado pelo mundo a pensar que a educação é uma ferramenta de transformação, de diversidade, de cidadania e a educação popular veio nessa pegada. Ela é para mim a chave de se pensar numa sociedade que não seja só anticapacitista, mas seja antirracista, que pense todas as diversidades.

E o espaço escolar enquanto nosso primeiro mundo, né, aquele mundo onde a gente encontra a diferença o tempo inteiro precisa estar equilibrado. Hoje – como era para mim antes, como foi para minha mãe, como foi para meus avós e aqueles que nem conseguiram entrar –, ainda permanece sendo um espaço de violência, mas a gente pode alterar daqui para frente.

Benedita Casé:

O Gigante Leo também falando sobre o limite do humor e não só sobre isso, porque eu acho que uma coisa interessante do PCDPOD é que a gente consegue falar sobre outras vivências que atravessam todos nós, pessoas com deficiência.

O Gigante Leo, por exemplo, falando sobre paternidade, como ele tem que o tempo inteiro autoafirmar que ele é pai, que ele tem capacidade de criar os filhos.

Gigante Leo no episódio 4 do PCDPOD:

Já fui em lugar público assim, que eu tava trocando a fralda da minha filha, as pessoas olhavam para minha esposa do lado como se ela fosse, sei lá, o pior monstro da face da terra. ‘Que mulher é essa que deixa um deficiente, homem, trocar a fralda da criança, ela não sabe trocar? Que absurdo!’. Não era falado isso, mas era claro, nítido isso, né?

Benedita: Que aí já entra nesse lugar de não ter capacidade, né?

Gigante Leo: É, ‘homem trocar a criança, não! O marido ajuda a mulher’. Que ajuda? Quem ajuda é, sei lá, o vizinho, você compartilha, você não teve filho junto? Então você é corresponsável. Então tudo o que ela faz você tem que fazer e vice-versa.

Marcelo Abud:

A ideia do videocast é mostrar que pessoas com deficiência são capazes de fazer o que querem, acreditam e gostam, e não o que a sociedade costuma determinar a esse público.

Benedita Casé:

Mas quando você pergunta o que a sociedade determina,está muito nesse lugar de coitado, de incapaz, no lugar de ‘ah, é bonzinho, é um amor, é uma coisa fofa’, mas não é uma pessoa que tem força. Força no lugar de qualidades.

A gente está nesse limbo, né, entre o coitado e ao mesmo tempo a gente vai para o grande herói, alguém que ocupou aquilo que é extraordinário. Essa imagem que as pessoas fazem da gente acaba reproduzindo discursos super violentos, discursos gravíssimos que afetam diretamente no dia a dia, no futuro da gente, dessas pessoas, e que pode ser muito violento assim.

Acho que o capacitismo ele se disfarça muito dessa coisa da boa intenção, da ajuda. E a gente não quer essa ajuda, a gente quer colocar todo mundo na mesa e discutir sobre tudo, como qualquer outra pessoa.

Pedro Henrique França:

Nossos corpos são dignos de amor, são dignos de afeto, são dignos de desejo e não são dignos de falta de respeito e de piada, porque a gente não está aqui para fazer vocês rirem dos nossos corpos apenas por eles existirem.

Música de Reynaldo Bessa, instrumental, fica de fundo

Marcelo Abud:

Os temas das entrevistas do videocast giram em torno de afetos e desejos, urbanismo, políticas públicas, internet, autoestima, representatividade e entretenimento.

Os episódios do PCDPOD estão disponíveis em vídeo, com audiodescrição, legendas e Libras no YouTube, Youtube Music e Spotify.

Marcelo Abud para o podcast de Cidadania do Instituto Claro.

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