“Sou eu nesse vídeo”. Esse é um dos principais comentários do público nos conteúdos da humorista e psicóloga Lorrane Silva, mais conhecida como Pequena Lo, nas redes sociais. Seu humor simples investe em situações do dia a dia, que acontecem em casa, no ônibus para o trabalho ou em uma festa em família. “Todo mundo se identifica”, garante. Para a pessoa com deficiência, porém, seus vídeos não apenas divertem como também funcionam de maneira inclusiva.

Nascida com uma síndrome rara que atinge o desenvolvimento dos ossos, Lo faz uso de muletas desde criança. É com elas que a humorista aparece dançando, cantando, no mercado, na escola, no consultório do psicólogo, entre outros locais. “Meus vídeos retratam justamente isto: inclusão e representatividade. Mostram que, apesar da nossa condição, frequentamos os mesmos lugares e nos divertimos da mesma forma que qualquer pessoa”, explica a jovem mineira de 25 anos. Em um bate-papo exclusivo para o portal de cidadania do Instituto Claro, ela falou mais sobre sua história, o sucesso no Instagram e TikTok e, claro, sobre a postura afirmativa de seu trabalho.

Pequena Lo
Pequena Lo (crédito: acervo pessoal/ divulgação)

Qual seu histórico como pessoa com deficiência?
Pequena Lo: Eu não cresci muito. Alguns membros, como meus braços, são mais curtos. Os médicos chamam de displasia óssea, mas não há um nome certo para a síndrome que tenho, não tenho um diagnóstico até hoje. Meu material genético chegou a ir para fora do Brasil e ainda assim não conseguiram descobrir.

Quais foram os maiores desafios nesse período de busca por um diagnóstico?
Lo: Eu fiz 20 cirurgias, então, teve algumas situações mais complicadas. Mas sempre tive meus pais, avôs e primos comigo, ajudando durante as recuperações. Sempre fui bem acolhida e isso fez diferença. Meus pais também me ensinaram a nunca ter vergonha de ser quem sou. Nunca tiveram vergonha de sair comigo, por exemplo. Então, eu aprendi a ser assim, desse meu jeito. Por isso que eu sempre tive essa vontade de ser conhecida, do reconhecimento.

Quais foram as aprendizagens desse período?
Lo: Aprendi que essa era a minha condição física, mas que eu também poderia fazer tudo o que eu quisesse. Nunca deixei de fazer o que queria por conta da minha deficiência. Tanto que me formei em psicologia

Por que a escolha pela psicologia?
Lo: Eu falo que foi a psicologia que me escolheu. Eu não imaginava que faria esse curso. Tinha em mente comunicação: jornalismo ou publicidade. Sempre gostei do meio da mídia e de conversar. Mas fiz um teste vocacional no último ano do ensino médio e saiu psicologia. Foi aí que comecei a pesquisar sobre a profissão e me interessei muito. Realmente, ela é incrível e me permitiu, inclusive, conhecer-me melhor.

Pequena Lo (crédito: acervo pessoal/ divulgação)

Quando você se percebeu como uma pessoa engraçada?
Lo: Sempre gostei do humor. Desde criança, fazia roda de piadas com amigos ou com a minha família. Pedia para o meu pai comprar livros e revistas de piada para decorá-las e depois recontar. Já tinha virado rotina nos encontros com os parentes: sempre formava uma rodinha ao meu redor. Isso quando eu tinha onze anos, mas meus pais falam que, mesmo antes, eu sempre gostei de fazer graça, de ver as pessoas rindo. Dizem que eu era aparecida. Acho que a veia cômica aconteceu desde que saí da barriga da minha mãe (risos).

Como aconteceu a decisão de produzir vídeos para as redes sociais?
Lo: Comecei no Youtube, em 2015 e depois no Instagram. O TikTok veio no começo da pandemia. Todo mundo começou a falar desse aplicativo e a gente que gosta e trabalha com a internet, procura se atualizar. Ainda mais quando se trata de humor. Comecei a criar alguns vídeos e eles foram viralizando. Mas foi em agosto de 2020 que tudo estourou.

Quando você percebeu que estava fazendo sucesso?
Lo: Foi quando percebi que meus vídeos estavam em todas as redes sociais, incluindo Twitter, além de conteúdos de humor e até de fofoca. Eu sempre quis o reconhecimento, mas não imaginava que seria assim que aconteceria. Principalmente ser reconhecida na internet por outros artistas e humoristas.

Você acredita que o humor feito por pessoas com deficiência pode ajudar na inclusão?
Lo: Com certeza. Meus vídeos retratam justamente isso: inclusão e representatividade. Eu sempre gostei de falar, por exemplo, sobre o que eu faço em uma festa, algo que eu vivi nessa situação. Isso mostra que, apesar da nossa condição, frequentamos os mesmos lugares e nos divertimos da mesma forma que qualquer pessoa. Algo que assusta as pessoas, por exemplo, é saber que eu bebo socialmente, por exemplo. A partir do momento que estou mostrando a cena, todas as pessoas se identificam, sejam elas com deficiência ou não.

Você recebe mensagens de outras pessoas com deficiência?
Lo: Muito e isso é legal. Levar representatividade me deixa feliz. Querendo ou não, vamos quebrando tabus devagarinho, em passos pequenos.

Você deixaria alguma mensagem para uma pessoa com deficiência que, igual a você no passado, está enfrentando dificuldade de ter um diagnóstico fechado?
Lo: Na minha época, não tinha tantos recursos como hoje. Saiba que as coisas estão melhores. E que não é uma deficiência que faz a gente ser inferior. É complicado, eu sei. Somos seres humanos, nem tudo são flores, e nem todo dia estaremos bem. Mas confie no seu potencial. Todos nós temos um dom, basta estudar e aperfeiçoá-lo. E somos capazes de tudo o que quisermos fazer. Por isso que estou na internet, para mostrar que a gente pode estar onde quiser. E para os pais de pessoas com deficiência, acreditem no potencial de seus filhos. Sei que há uma tendência a querer proteger, pois eles se preocupam com o preconceito na sociedade, que infelizmente existe.

Quais seus sonhos e projetos para o futuro?
Lo:Ter meu programa de televisão e ser atriz. Essas são as minhas metas agora.

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