O etarismo, ou idadismo, é a discriminação dirigida a uma pessoa por causa da sua idade. Embora possa atingir jovens, recai principalmente sobre pessoas idosas, manifestando-se em julgamentos e estereótipos que consideram alguém “velho demais” para determinadas atividades, comportamentos, decisões ou opinião.

“O etarismo aparece constantemente em gestos e atitudes que colocam uma pessoa em um lugar social diferente de outras apenas por causa da idade. Às vezes, supostamente privilegia; às vezes, exclui. Mas a ideia central é sempre tratar alguém de forma distinta por um critério de idade que não deveria existir”, explica o diretor da ONG Eternamente Sou, Luis Baron.

Uma manifestação do etarismo é na linguagem cotidiana, em expressões e palavras nas quais a idade é colocada como critério de valor. Caso de expressões como “velho rabugento”, “está ficando caduca” e “parece uma adolescente”. Segundo Baron, termos etaristas geralmente vinculam características negativas ao envelhecimento, reduzem todas as pessoas idosas às mesmas características ou desvalidam opiniões e experiências tendo apenas a idade cronológica como marcador.

“Por esses motivos, o vocabulário idadista contribui para a exclusão social”, opina.

Além disso, o idadismo na linguagem também se manifesta quando se tenta infantilizar pessoas acima de 60 anos, usando apelidos (como “vovô”) ou as chamando no diminutivo.

“A linguagem é reforçada por estereótipos e também os reforça. Por meio da linguagem, você confina a pessoa idosa em um lugar em que acha que ela se encontra, mas onde ela não está. Não a trata como um adulto capaz, mas como alguém passivo, incapacitado ou assexuado apenas por conta da idade”, opina.

Para Baron, a forma como falamos molda a maneira como enxergamos e tratamos as pessoas, motivo pelo qual se deve rever vocabulário, evitar infantilizações e não reduzir alguém a idade

“A palavra tem peso, e mudá-la ajuda a desconstruir uma cultura que desacredita o potencial de quem tem mais de 60 anos”, enfatiza.

“Penso que a linguagem etarista não está construída em preconceito – que pressupõe ignorância e desconhecimento sobre um tema – mas em informação errada já consolidada sobre o envelhecimento. Por isso, educação e informação são importantes”.

A seguir, conheça 26 expressões etaristas para deixar de usar no cotidiano, recomendadas por Baron e por duas publicações gratuitas: o Glossário Coletivo de Enfrentamento ao Idadismo (Longevida) e o Pequeno Manual Anti-idadista (Coletivo Velhices Cidadãs).

Você está linda para sua idade – Supõe que beleza está vinculada à juventude e que não é possível ser bonito durante o envelhecimento

“Nossa! Nem parece!” – reforça a ideia de que envelhecer é algo ruim e que aparentar menos idade seria sempre melhor.

Quero chegar na sua idade como você: “É ofensivo porque parte do princípio que, se você tem mais de 60 anos e uma estética ou performance que não é jovial, não serve para a sociedade”, explica Baron.

Você deve ter sido muito bonita(o) – Reforça uma visão estética centrada na juventude, implicando que envelhecer necessariamente apaga a beleza do presente.

Coisa de velho – A frase transfere automaticamente qualquer traço negativo para o envelhecimento. Além disso, parte da ideia equivocada de que pessoas idosas têm hábitos ou manias específicas apenas devido à idade, reduzindo comportamentos que são individuais a um estereótipo fixo.

Parece um(a) velho(a) – Expressa desprezo, vinculando o envelhecimento a algo negativo. Associa forma de falar, agir ou de se vestir a um valor menor.

Parece uma adolescente/Quer parecer mocinha ou garotão – É usada quando a pessoa idosa não se comporta ou não se veste conforme os estereótipos associados à velhice. Considera roupas, cores, estilos e modos de expressão como exclusivos de determinadas faixas etárias.

Velho da lancha – Parte da ideia de que o envelhecimento reduz o valor de um indivíduo, e que não ser jovem é um atributo negativo que precisa ser compensado por dinheiro, status ou bens materiais. Assim, sugere que a pessoa idosa só pode ser objeto de interesse romântico mediante troca financeira, não devido às suas qualidades, personalidade, afeto etc.

Apesar da sua idade –sugere que a idade é, por si só, um impedimento.

Você é velho(a) para isso – Atribui à pessoa idosa uma “data de validade” para comportamentos, atividades, estilos ou escolhas pessoais.

Você consegue fazer isso com essa idade? – Parte da premissa de que a idade limita ou incapacita, ignorando diferenças individuais e reduzindo a capacidade da pessoa à sua idade cronológica.

Velho rabugento/velho safado – Atribui uma característica individual a todas as pessoas idosas, transformando um traço pessoal em estereótipo e reforçando a ideia de que envelhecer significa adquirir um traço negativo. Como se não houvesse, por exemplo, jovens que também são ranzinzas.  “Reforça a noção de que, ao envelhecer, a pessoa deixa de ser quem é e passa a encarnar um estereótipo negativo: rabugenta, lenta, teimosa, desagradável. Muitas dessas características, quando existem, vêm da história de vida de cada um, não da idade”, aponta Baron.

Tá ficando gagá/caduco(a) – Usa o envelhecimento como explicação para qualquer comportamento considerado inadequado, vinculando o envelhecimento à perda de lucidez. “Virou uma maneira de deslegitimar a opinião de pessoas mais velhas quando não se concorda com elas”, aponta Baron. “Também é um estereotipo porque o adulto que sempre foi esquecido vai continuar sendo esquecido quando idoso, independentemente da idade”.

Vovô, vovó – A expressão carrega uma carga de infantilização quando usada fora do contexto familiar. Materializa a pessoa em um estereótipo do que é ser avô ou avó, geralmente de pessoa frágil, benevolente, desconectada do presente, assexuada, entre outros. Assim, não a enxerga como um ser humano que tem características próprias.

Tio, tiozão, tiozinho – Quando não há relação de parentesco, o uso do termo reforça estereótipos etários e cria uma falsa intimidade.

Quem gosta de coisa velha é museu – Sugere que ideias, ações e produções de pessoas idosas não têm valor por causa da idade, reforçando uma visão de inutilidade.

Só vai velho àquele lugar – Demonstra intolerância ao estigmatizar ambientes frequentados por pessoas idosas, criando a sensação de gueto e reforçando a exclusão.

Cacura: Equivalente a ‘bicha velha’, é usado no meio LGBTQIAPN+ para desclassificar o homem geralmente acima dos 40 anos. “O termo vem cercado de aura de exclusão, sendo usado geralmente por pessoas mais jovens com idosos, não por idosos entre seus pares”, analisa Baron.

Da antiga / Do tempo do onça – Usadas para desqualificar opiniões e experiências de pessoas idosas, como se suas ideias deixassem de ser relevantes apenas por causa da idade. A expressão parte do princípio de que aquilo que vem da pessoa idosa é ultrapassado ou inútil.

Velho só atrapalha: “O etarismo tem o viés capitalista, que parte do princípio de que a pessoa velha, por não produzir e por não se reproduzir, já não tem mais serventia; logo, atrapalha”, analisa Baron.

Ele é jovem de coração – Sugere que atitudes, sentimentos e emoções positivas pertencem exclusivamente aos jovens, negando às pessoas idosas a possibilidade de vivenciá-las por causa da idade.

Diminutivos para se dirigir a adultos – “Comidinha”, “picadinha”, “bracinho”, “andadinha”. Esses termos infantilizam e tratam a pessoa idosa como incapaz, retirando sua autonomia.

Está fazendo hora extra – Reforça a ideia de que existe um “prazo de validade” para aprender, ter novas experiências ou ser produtivo. Pode ainda legitimar comportamento de negligência contra idosos, principalmente no campo da saúde, por eles não serem considerados como sujeitos que possuem futuro.

Melhor idade – Surgiu como tentativa de suavizar preconceitos, mas impõe a ideia de que existe uma “fase ideal” da vida que é válida para todos. “As idades são boas e ruins de acordo com a existência de cada pessoa, sem um padrão que serve para todo mundo”, lembra Barón.

Feliz idade – Tentativa de suavizar o preconceito contra idosos, mas que pressupõe que a felicidade depende dos anos vividos, e não de fatores individuais.

Terceira idade – Baseia-se na lógica que a vida é dividida em apenas três fases: aprender, produzir e aposentar, tratando a etapa após os 60 anos como uniforme e pré-definida. Tudo isso limita experiências e a possibilidade de viver novos papéis sociais.

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Crédito da imagem: Thomas Barwick – Getty Images

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