Mais de 5,5 milhões de crianças e adolescentes não tiveram contato com atividades da escola em 2020. No ano anterior, antes da pandemia de covid-19, 2,1 milhões de estudantes foram reprovados no Brasil, mais de 620 mil abandonaram a escola e mais de 6 milhões estavam em distorção idade-série – com dois ou mais anos de atraso escolar em relação à matrícula. Se em 2019, as crianças e adolescentes fora da escola equivaliam a 2%, em outubro de 2020, esse percentual chegou a 3,8%. Os números são do estudo “Enfrentamento da cultura do fracasso escolar”, apresentado nesta quinta-feira (28/01) no evento online “Caminhos para a educação pós-pandemia”, transmitido pelo YouTube . A pesquisa é um lançamento do Fundo das Nações Unidas para a infância (Unicef) em parceria com o Instituto Claro e foi produzida pelo Cenpec Educação.
Fracasso Escolar
O fracasso escolar tem três pilares que se retroalimentam: a reprovação, o abandono escolar e a distorção idade-série. Depois de reprovações, o aluno se sente desmotivado e pode chegar ao abandono e quando decide por um retorno às aulas, já está em atraso e em uma situação de distorção idade-série, o que pode levar a uma saída definitiva da escola.
“Estamos trabalhando juntos para apoiar os estados e municípios a enfrentarem a cultura do fracasso escolar em um contexto em que se faz necessária a mudança de currículo. Precisamos combater o racismo estrutural. Precisamos de integração para desenvolver competências e não só passar conteúdos”, observa o chefe da área de Educação do Unicef, Ítalo Dutra.
Os mais afetados por esses problemas são as populações vulneráveis. Segundo os dados de 2019, reprovam e abandonam mais a escola os meninos, as populações pretas e indígenas e aquelas localizadas nas regiões do Semiárido e da Amazônia Legal. Também são essas populações que apresentam maior percentual em distorção idade-série. A reprovação é maior nos anos finais do ensino fundamental, e apresenta uma relação inversa com o padrão socioeconômico, isto é, quanto maior a renda familiar, menor o índice de reprovação. O abandono escolar é mais acentuado no ensino médio.
Trajetórias de sucesso escolar
O objetivo do estudo é entender e contextualizar o cenário para trazer soluções dentro da estratégia Trajetórias de Sucesso Escolar (TSE), uma iniciativa do Unicef, com apoio do Instituto Claro. “Essa parceria é muito importante porque nosso pilar de atuação é a educação. Uma educação que transforma e gera oportunidades. Com esse programa, queremos mudar essa cultura do fracasso escolar para uma cultura de sucesso”, destaca a diretora de comunicação e responsabilidade social da Claro e vice-presidente de projetos do Instituto Claro, Daniely Gomiero.
Durante o evento, foi apresentada uma das ações dentro da TSE, o Programa Sergipe na Idade Certa (Prosic), em parceria com a secretaria de educação do estado. Dentre várias iniciativas, durante a pandemia, o programa proporcionou materiais e atividades para que os estudantes não perdessem contato com a escola. De forma geral, o projeto faz uma busca ativa dos jovens e apresenta as oportunidades que a educação pode proporcionar para o futuro. “Eu gostei muito do Prosic por conta de uma matéria: Projeto de Vida. Ela ajuda a gente a projetar o nosso futuro”, diz a aluna Ana Carolayne Gomes , de 18 anos, que está em distorção idade-série e foi motivada a continuar os estudos pelo projeto.
No evento online, o estudante Joherlysoon dos Santos Sitineta, da rede municipal de Sergipe, também contou sobre o Prosic. “Eu estava dois anos atrasado. Não via esperanças no meu futuro. No Prosic tive essa esperança. Via outros alunos na sala que também estavam na mesma situação que eu e agora viam chances de realizar seus sonhos. O Prosic não só salvou a minha vida escolar, mas salvou a minha vida”, conta ele, que está no 1º ano do ensino médio e quer fazer faculdade nos Estados Unidos. Hoje, o Prosic está presente em 47 escolas do Sergipe.
Oportunidades
Gomiero destacou também durante o evento que a pandemia afetou os jovens em três aspectos fundamentais: educação, trabalho e segurança alimentar. Pensando nesse pilar de oportunidades que são negadas a muitos jovens em situações de vulnerabilidade, o Instituto Claro aderiu à iniciativa ‘Um milhão de oportunidades’ do Unicef e promove o Dupla Escola , programa de formação técnica profissionalizante em telecomunicações, e o Campus Mobile , que traz oportunidades de empreendedorismo na área de tecnologias para universitários. “Uma oportunidade pode mudar uma vida e muitas oportunidades podem mudar uma geração” conclui Italo Dutra.