Os alunos do ensino fundamental compartilham entre si o interesse pelos desenhos animados transmitidos na televisão, internet e cinema. Segundo a professora de artes do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Thalyta Monteiro, o docente pode aproveitar esse gosto para propor atividades de criação de animações e, com isso, aproximar os estudantes da disciplina.

“Essa etapa de ensino é importante porque nela ocorre a formação cultural e o desenvolvimento de diversas linguagens da arte”, justifica. “O aluno se vê rodeado por imagens e precisa saber lidar com elas ou entender a sua importância. Além disso, aprender a fazer uma animação pode fazer com que ele deixe de ser apenas receptivo, consumidor, para entender como funciona, como se produz esse gênero e, assim, desenvolver seu pensamento crítico”, acrescenta.

“A atividade também permite uma interface entre escola, tecnologia e os saberes dos próprios estudantes, que se sentem próximos do desenho animado”, reforça.

Monteiro, que oferece oficinas sobre o assunto para professores da rede pública e particular, recomenda o uso da animação para estimular a imaginação e a criação. “Com os recortes, os alunos são capazes de criar personagens bidimensionais e, com a técnica de massinha, criar personagens tridimensionais”, enfatiza. A modelagem também pode ser trabalhada por meio de esculturas, suportes e materiais diferenciados. “Outra opção é a argila, contudo, esse material é mais caro, exige um local da escola apropriado e, com isso, pode ser inacessível dependendo da realidade de cada instituição”, alerta.

Proposta didática

Antes de colocar os alunos com a mão na massa, Monteiro sugere iniciar a aula abordando a história da arte e a relação do homem com o movimento; e arte e mídia para, assim, chegar à história da animação. Na sequência, vale apresentar brinquedos ópticos mecânicos, como thaumatrope, praxinoscópio e zootrópio. “Os estudantes começam a entender que as imagens sequenciadas causam a ilusão de movimentação”, diz.

“Outra opção é o flipbook, uma espécie de livrinho animado feito por meio de desenhos em bloquinhos de papel. Há tutoriais no YouTube”, recomenda. “Ou fazer desenhos sequenciais nas folhas de um caderno, no lado inferior direito. Ao passar rapidamente as folhas, teremos a ilusão do movimento”, acrescenta.

Atividade permite que alunos aprendam diversos conceitos da disciplina de artes, como cores, movimento e desenho (crédito: arquivo pessoal)

 

Os alunos ainda podem trabalhar juntos em um roteiro para a história que desejam criar e produzir também um storyboard. “É a roteirização realizada na forma de desenho, mas que precisa apresentar como as imagens aparecerão na tela”, diz. A seguir, passam para a modelagem dos bonecos com massinha ou outro material escolhido, como papéis ou desenhos.

A captura das imagens exige quadro a quadro.  Para isso, é possível utilizar a versão gratuita do aplicativo Stop Motion Studio (Android e iOS). Outra opção é o programa gratuito MUAN (Manipulador Universal de Animação). “Também é possível registrar as imagens por meio de câmera, baixar no computador e inseri-las em softwares ou aplicativos de edição de vídeo como o InShot”, sugere.

A quantidade de quadros é o que garante a ilusão. Para um segundo de movimento, o ideal seriam 24 quadros, mas pode-se trabalhar com os alunos metade disso ou mesmo oito. “O movimento ficará mais robotizado, mas o estudante entenderá que, ele ocorre a partir de imagens sequenciadas. Quanto mais quadros, mais sutil, real é o movimento”, esclarece.

Para fazer um personagem acelerar o passo, o indicado é aumentar o espaçamento do seu movimento de modo gradativo. “Se seu personagem é um boneco, você pode movê-lo 1 milímetro de distância, de forma gradual, em cada quadro. Ou seja, o primeiro terá 1 milímetro de distância, o segundo 2 milímetros e assim por diante”, diz.  “O movimento entre um quadro e outro precisa ser milimétrico, quase que imperceptível”, orienta.

Já para desacelerar o personagem, deve-se fazer o movimento contrário da aceleração. “Iniciará movimentando em 3 milímetros, reduzindo para 2 e 1”, pontua.

“Para completar, o ideal é fechar as cortinas ou optar por um lugar com menos incidência de luz, para gravar, e trabalhar com  turmas divididas em pequenos grupos, se possível”, ensina.

Preparação

Apesar de ser uma atividade aparentemente simples, ela necessita de conhecimentos específicos. Monteiro recomenda que o professor assista vídeos no YouTube sobre como fazer animação stop motion (quadro a quadro) ou faça cursos que o oriente. “Além disso, há tutoriais sobre como usar os programas sugeridos. É imprescindível treinar e testar em casa antes de propor o projeto aos alunos. Isso evita frustrar a expectativa deles, caso aconteça algum problema”, sugere.

Resultado final pode ser compartilhado nas redes sociais, o que engaja ainda mais os alunos (crédito: arquivo pessoal)

 

“O resultado final é interessante porque permite que os estudantes aprendam não só sobre animação, mas consigam trabalhar em grupo, aprender sobre cores, movimento, modelagem, desenho, textos verbais e não verbais e composição”, lista. “Ainda podem compartilhar o vídeo final nas redes sociais, o que gera engajamento e eles adoram”, garante.

Veja mais:
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Stop motion: a técnica da animação pode ser levada para a educação
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Crédito da imagem principal: arquivo pessoal

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