Ouça também em: Ouvir no Claro Música Ouvir no Spotify Ouvir no Google Podcasts Assina RSS de Podcasts

Faça o download do podcast
Confira a transcrição do áudio

O Anima Escola chega à sua 17ª edição em 2019. A iniciativa utiliza desenhos animados como forma lúdica de ensino, abrindo novas perspectivas de atividades educativas. O projeto, criado pela equipe do Anima Mundi, leva a linguagem da animação para escolas, por meio de cursos e oficinas.

“A gente tem mais de 400 filmes (…) Eu acho que o tema mais recorrente é eles falarem de si mesmos. Digamos assim, de crescimento, de adolescentes descobrindo a sexualidade, descobrindo os dramas cotidianos, do local onde está a escola, da comunidade onde eles moram, da cidade”, revela um dos fundadores do Anima Mundi e idealizador do Anima Escola, Marcos Magalhães, entrevistado neste podcast.

Alunos produzem animação na escola (crédito: divulgação)

 

A partir de parcerias com secretarias municipais de ensino, os alunos são desafiados a se tornarem produtores de conteúdo. Para isso, eles aprendem noções de tipos de animação, linguagens e desenvolvimento de ideias.

“Em relação ao rendimento escolar, o que a gente percebe é que os alunos ficam mais atentos, percebem mais detalhes e aí eles desenvolvem essa habilidade, que pode ser utilizada em vários outros campos da vida mesmo, não só na atividade escolar”, atesta o professor José Leandro Cardoso, responsável pela mídia-educação da E.M. Benjamin Constant da Coordenadoria Regional de Educação (CRE – RJ), também ouvido pelo Instituto Claro.

José Leandro Cardoso, de camiseta vermelha, instrui os alunos durante produção de animação na sala de aula (crédito: acervo pessoal)

 

Com o projeto, os alunos produzem em sala de aula os seus próprios filmes de animação. Desde que começou, o Anima Escola já capacitou mais de 2.800 professores e multiplicadores, além de mais de 15 mil alunos no Rio de Janeiro e em diversas regiões do Brasil, como Volta Redonda (RJ), Macaé (RJ), Niterói (RJ), Angra dos Reis (RJ), Campinas (SP) e Suzano (SP).

Os idealizadores do Anima Escola defendem que a linguagem da animação deve estar presente na instituição de ensino como fonte de conhecimento e não apenas como um recurso didático, possibilitando a professores e alunos novas maneiras de expressão e aprendizados que os ajudem a viver na sociedade contemporânea, fortemente marcada pela presença do audiovisual.

“A animação é a linguagem deste milênio. Eu acho que é o melhor jeito de comunicar, porque você não depende da realidade. Você vai direto do campo das ideias para as imagens. Isso é uma evolução irreversível, da gente, cada vez mais, usar as imagens para se comunicar”, defende Magalhães.

No áudio, você conhece mais sobre o Anima Escola e também acompanha como esse projeto tem beneficiado alunos e professores.

Links:
Vídeos do Anima Escola

Vídeos citados no podcast:
Jasmin, a princesa da Maré
Benjamin e sua história
Do Rio Papa-Couves ao Toque do Pandeiro

Crédito da imagem principal: divulgação

Transcrição do áudio:

Vinheta “Instituto Claro”

Trilha sonora da vinheta do festival Anima Mundi

Marcelo Abud:
Muito provavelmente você já ouviu falar do festival Anima Mundi. Mas e o Anima Escola, você conhece? Para um dos idealizadores do projeto, Marcos Magalhães, a linguagem da animação ajuda alunos e professores a viver na sociedade contemporânea, marcada pela forte presença do audiovisual.

Marcos Magalhães:
A animação é a linguagem deste milênio. Eu acho que é o jeito melhor de se comunicar, porque você não depende da realidade. Você vai direto do campo das ideias para as imagens. Isso é uma evolução irreversível, da gente cada vez mais usar as imagens pra se comunicar.

Marcelo Abud:
Não é de hoje que a animação é utilizada como uma importante ferramenta de comunicação e de educação.

Marcos Magalhães:
A animação é a linguagem mais antiga que existe. Aquelas pessoas que estavam nas cavernas, fazendo desenhos nas paredes das cavernas, estavam tentando reproduzir o movimento de animais que elas tinham visto, ou pessoas. E o jeito que eles tinham era riscar, com alguma tinta ou algum carvão, as paredes da caverna. E é muito parecido com o que os atuais animadores fazem. Inclusive a gente tem alguns desenhos desses que a gente pode filmar e, com as técnicas de animação, fazer eles virarem filmes de animação. Já tem alguns filmes que fizeram isso.

Marcelo Abud:
Um dos fundadores do Anima Mundi, Magalhães ressalta que a ideia de usar a animação como recurso pedagógico está presente desde o início do festival.

Marcos Magalhães:
A gente notou que tinha uma presença muito grande de crianças e de educadores. Muitos professores vinham perguntar pra gente “como é que eu faço para fazer isso na minha escola?”. Então, a gente começou a pensar em fazer atividades dirigidas para educadores, que se tornou o projeto Anima Escola.

Marcelo Abud:
As animações criadas nas escolas têm tema livre.

Marcos Magalhães:
A ideia não é exatamente fazer filmes didáticos. Não é pra fazer filmes sobre matemática, sobre geografia, se bem que isso acontece espontaneamente. Por exemplo, quando celebrados os 200 anos da chegada da família real, surgiram filmes sobre o tema e foi muito interessante, que misturavam, assim, a história real com alegorias dos alunos. Por exemplo, escola na comunidade da Maré fez um filme super engraçado, que usa muito bem o tema da chegada de um rei estrangeiro no Brasil.

Trecho de animação “Jasmin, a princesa” (com música francesa ao fundo e voz de aluna):
“Paris, cidade das luzes. Havia um rei chamado Felipe. Ele pediu a Deus uma rainha e Deus enviou Isabel. Eles se casaram e tiveram uma linda filha. A princesa Jasmin. Mas o rei Felipe teve que ir para a guerra…”

Marcos Magalhães:
Ao longo de 17 anos do projeto, a gente tem mais de 400 filmes que fazem um acervo de temas. Eu acho que o tema mais recorrente é eles falarem de si mesmos. Temas, assim, de crescimento, adolescentes descobrindo a sexualidade, descobrindo os dramas cotidianos, do local onde está a escola, da comunidade onde eles moram, da cidade.

Marcelo Abud:
O professor da Escola Municipal Benjamin Constant, do Rio de Janeiro, José Leandro Cardoso, comenta sobre a animação “Benjamin e sua história”.

José Leandro Cardoso:
E aí nós fizemos um resgate da escola que foi demolida na Praça XI e depois ela foi reconstruída no Santo Cristo. Foram três meses entre fazer o roteiro, o storyboard, ver material e como que seria feito. Foi um trabalho em “pixilation”, que é animação de pessoas, a gente anima quadro a quadro, foto a foto, as ações dos integrantes.

Áudio do filme com música típica de cinema mudo de fundo
Narração: “2018, prédio atual. De volta ao presente, Benjamin chega ao atual prédio da Escola Municipal Benjamin Constant. Ele não sabia que isso iria mudar a sua vida. Aquela moça era uma professora”.

José Leandro Cardoso:
A primeira coisa é isso: é despertar o interesse por algo que eles não conheciam. Então, esse, talvez, tenha sido um dos ganhos mais importantes. Em relação ao rendimento escolar, o que a gente percebe é que os alunos ficam mais atentos, percebem mais detalhes e aí eles desenvolvem essa habilidade, que pode ser utilizada em vários outros campos da vida mesmo, não só na atividade escolar. Quando ele percebe detalhes que ele não via antes em determinados contextos, seja num filme ou no caminho de casa para a escola, ou mesmo nas conversas, enfim, ele está desenvolvendo habilidades e essas habilidades são importantes pra vida dele e ele pode utilizar isso em qualquer campo do conhecimento ou em qualquer formação que ele vá ter daí pra frente.

Marcos Magalhães:
E trabalha assim questões, como você conseguir abstrair uma ideia, transformar uma ideia em imagens. Tem muitas destas técnicas que são feitas em grupo. As pessoas se dividem em funções – criar personagens, criar histórias, cuidar da fotografia, cuidar da modelagem – e tudo isso é um exercício de convivência também que é muito rico.

José Leandro Cardoso:
E a outra coisa é o detalhe mesmo. Você fazer coisas mais meticulosas, ter aquela paciência de observar o passo a passo. Em animação, isso é muito importante. Que você veja a sequência, que você perceba o que que aconteceu antes, o que que vai acontecer depois… Tudo que você tem que preparar antes para que aquilo seja bem executado. Depois, na pós-produção, como que você vai fazer as questões técnicas mesmo de luz, enfim uma série de detalhes ali, que essa percepção tem que ser muito aguçada. Você vai aguçando cada vez mais essa experiência. Então, de uma primeira animação que a gente fez, para uma segunda, você já percebe que o aluno já consegue se antecipar a certos problemas que ele já identificou no momento anterior.

Marcos Magalhães:
Também são processos que integram todos os conhecimentos: a pessoa tem que ter um raciocínio científico, ela tem que entender as leis da física pra fazer um personagem se mover com credibilidade, tem que ter uma boa comunicação para escrever um roteiro, para fazer um texto bom, tem que ter conhecimentos gerais de geografia, de história pra poder ter bons roteiros, pra se apropriar do personagem… então tudo isso está integrado. A gente tem, principalmente, relatos de professores falando de alunos com dificuldade de inclusão que descobrem na animação seu meio de expressão e que se interessam pelas aulas de animação como nunca se interessaram por aulas regulares. E se tornam até líderes. Alunos que estavam meio por fora do convívio social conseguem, na hora de fazer um filme, se destacar.

Música da animação “Do Rio Papa-Couves ao Toque do Pandeiro”
“O que que houve com o rio Papa-Couves. Foi encanado, soterrado pelos homens, mas o desfile vai continuar, porque o samba não pode acabar. Desfila peixe, desfila aluno, desfila o povo, pra que o rio recomece aqui de novo”

Marcos Magalhães:
E aí, assim, eu destaco três pessoas que foram muito influenciadas. Primeiro, a professora Heloá, que ela descobriu a animação e passou a ficar uma entusiasta da animação. Segundo, um dos alunos, que era o Max, que é um aluno de inclusão foi o destaque, foi o cara que mais participou, estava presente, que se empolgava sempre pelas animações. Tenho certeza que isso foi um diferencial na vida dele. E terceiro, a Camila, que era uma aluna que tinha muito talento para pintura, descobriu ali a animação e, em todas as edições do Anima Mundi, ela tava presente. Deve estar com isso marcado na vida dela e trabalhando. É mais ou menos o que a gente espera que aconteça com todas as escolas que recebem este projeto.

Marcelo Abud:
Como destacaram os entrevistados, a animação desenvolve habilidades e competências fundamentais para crianças e jovens, como criatividade, planejamento, síntese, abstração, concentração e comunicação.

A ideia é garantir um futuro mais “animador” para todos.

Com apoio de produção de Daniel Grecco, Marcelo Abud para o Instituto Claro.

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.