Os quadrinhos de Mafalda, escritos pelo argentino Quino, compõem um material rico em temáticas que podem ser abordadas em aulas história. “Como [o quadrinho] foi escrito durante os anos de 1964 a 1973, teve como cenário político mundial a Guerra Fria, o imperialismo, os movimentos de contracultura e a Guerra do Vietnã”, pontua a mestre, professora de História e pesquisadora da personagem Ana Paula Daniel.

Já em relação ao cenário político argentino, Mafalda foi escrita em um período da ditadura militar do país, durante 1966 a 1973. “Mas a personagem também revela preocupação com a justiça e igualdade social, temáticas que podem ser trabalhadas também em outras disciplinas”, acrescenta. Esse é um dos motivos que fazem a produção de Quino ser atual mesmo após tantas décadas. “A Mafalda está envolvida com assuntos que até hoje estão muito presentes nos debates sociais a respeito da justiça, paz, direitos humanos, transformação da sociedade e formação de pensamento crítico”, justifica a pesquisadora.

Leia também: Tirinhas de “Calvin e Haroldo” podem ser trabalhadas em sala para o ensino de história

Em história, a recomendação é o uso do material no 9° ano do ensino fundamental e no 3° ano do ensino médio. “Porém, os temas como igualdade, justiça social, liberdade e o posicionamento crítico dentro da sociedade podem ser adaptados para outras séries”, pontua a pesquisadora. Como material didático, as tirinhas da personagem podem ser apresentadas em comparação com os livros usados pela turma e textos de historiadores ou, ainda, junto com outros quadrinhos do período. “Se formos tratar de ditadura, é possível associar aos quadrinhos do brasileiro Henfil, como Os Fradinhos e a Graúna , que possuem pontos de vista em comum contra o autoritarismo”, aconselha.

Contracultura

Segundo Daniel, é possível pensar no uso dessa produção em um projeto interdisciplinar. Nas aulas de geografia, por exemplo, as tiras podem ser debatidas dentro de temas como desenvolvimento e subdesenvolvimentos dos países. “Em sociologia, elas ajudam a contextualizar os movimentos de contracultura e o feminismo, sendo Mafalda uma adepta deste último”, observa. Já em filosofia, a professora ressalta os quadrinhos que tratam da condição humana e suas questões durante os séculos XX, principalmente os que envolvem o existencialismo.

Em Língua Portuguesa, é possível debater com os estudantes a ironia, tipo de humor presente em todas as tiras de Mafalda. “Por meio dela, Quino aborda como as crianças conseguem inverter a lógica dos adultos”, diz a pesquisadora. Para lançar mão do material em sala de aula, é importante que o professor primeiro se familiarize com a obra: saiba qual é a sua história, quais foram os meios em que foram reproduzidas e os conteúdos possíveis de serem relacionados. “Evite a apresentação do conteúdo fora de contexto”, alerta a historiadora.

Confira:“As aventuras de Tintim” podem ser usadas no ensino de geografia

As tiras de Mafalda têm fácil acesso na internet, por meio de site e contas oficiais no Twitter, Facebook e Instagram de Quino. Nesses casos, o conteúdo é apresentado em espanhol. Porém, toda a obra da personagem foi traduzida e publicada para o português pela editora Martins Fontes. Confira algumas indicações de uso das tirinhas nas aulas de História, sugeridas por Daniel.

Guerra fria

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Mafalda – Quino (crédito: reprodução)

O conteúdo discute os aspectos das adesões ideológicas (comunismo e capitalismo) durante a Guerra Fria. Pelo contexto, Mafalda se refere aos países que buscavam uma posição neutra, especialmente os da América Latina. A influência dos Estados Unidos é caracterizada pelo personagem Manolito, que é filho de comerciantes.

Autoritarismo

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Mafalda, 1993 (crédito: reprodução)

Quando Felipe lê no dicionário para Mafalda que sopa não é um palavrão, nem uma porcaria repugnante, o ato de jogar o dicionário no lixo representa o desprezo dela pelo autoritarismo.

Paz, justiça social e direitos humanos

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Mafalda – Quino (crédito: reprodução)

O recurso de contraste de ideias é um dos mais usados por Quino para demonstrar qual é o pensamento de cada um dos seus personagens. Quando Manolito se refere a valores, Mafalda já pensa em valores morais, espirituais, artísticos, humanos, demonstrando que esses são os importantes para ela.

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Mafalda – Quino (crédito: reprodução)

Outra tira que reflete sobre o pensamento de Mafalda a respeito do que é realmente importante para ela no mundo: a liberdade, a justiça e coisas do tipo. É importante reparar também que essa classificação em primeiro, segundo e terceiro mundo não é mais válida, e sim, a classificação em países subdesenvolvidos e desenvolvidos, outro aspecto que pode ser trabalhado.

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Mafalda – Quino (crédito: reprodução)

Mafalda faz um apelo pela paz mundial, demonstrando coerência em seu pensamento e suas atitudes com respeito ao que quer para o mundo. O conteúdo dessa tira também pode ser trabalhado nas aulas de História, indicando ações da Organizações das Nações Unidas (ONU) e do Vaticano durante a guerra.

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Mafalda – Quino (crédito: reprodução)

Nessa, Mafalda pega o pai de surpresa, achando que ele estava revoltado pela notícia de que cresce o número de crianças abandonadas e mal nutridas. Novamente, ela expressa
seu direcionamento político e humano.

Veja mais:

HQ sobre escravidão premiada internacionalmente pode ser utilizada em sala de aula

Plano de aula: 1968 – Fatos políticos, culturais e sociais

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