“As aventuras de Tintim” é uma série de histórias em quadrinhos de 24 volumes criada pelo desenhista belga Hergé, a partir de 1929. Tintim é um jovem repórter envolvido em casos policiais, investigativos e de conspiração. Ele tem a companhia de seu cão Milu e de personagens secundários, como capitão Archibald Haddock, professor Trifólio Girassol, investigadores Dupond e Dupont e a cantora lírica Bianca Castafiore.

Nas décadas seguintes, a HQ foi adaptada para animações de televisão e para o cinema.

Mestre em ensino e processos formativos e professor da E.E. Fábio Junqueira Franco, em Barretos (SP), João Paulo Morandi Barboza, estudou em seu mestrado o potencial pedagógico desse material para o ensino de geografia.

“Apesar de se atribuir à superfície terrestre, a geografia também assume o papel de ciência social. Ela busca compreender o espaço geográfico vivenciado e trabalhado pelo homem, com seus conflitos e construções culturais”, explica o professor.

Confira outros conteúdos do portal para as aulas de geografia:
Obra de Henfil ajuda a entender ditadura militar e geografia do Nordeste
Professor cria canal para analisar filmes pelo viés da geografia
Geografia: combinar atividades diversificadas facilita entendimento sobre relevo
Professor de geografia utiliza o entorno da escola para criar mapas colaborativos
Como levar conceitos da geopolítica para os alunos do ensino médio?

“Por sua vez, as tramas de Tintim geralmente possuem um cunho geopolítico, remetendo a períodos da Guerra Fria, colonização europeia sobre a África, ditaduras da América Latina, antigas civilizações, dentre outros temas do ensino de geografia, história e sociologia”, complementa.

Contudo, ele alerta para a visão de mundo eurocêntrica e colonialista, típicas do período em que foram produzidas, e que devem ser discutidas com os estudantes.

Atividade prática

Barboza diz que o material pode ser adaptado para todas as etapas da educação básica, sendo os sétimos e oitavos anos do ensino fundamental especialmente beneficiados.

“No sétimo ano, deve-se estimular habilidades de reconhecer a diversidade étnico-racial e cultural, a partir das características dos povos indígenas, africanos, europeus, latino-americanos e asiáticos, assim como entender a apropriação dos recursos naturais pelas diferentes sociedades”, justifica.

“No oitavo ano, exige-se a habilidade de comparar a formação territorial de países latino-americanos, a partir das influências pré-colombiana e colonial”, acrescenta.

Professor ao lado de sua coleção de “As aventuras de Tintim” (crédito: arquivo pessoal)

Em aula, o professor indica a leitura coletiva em voz alta, para envolver todos os estudantes e a produção de uma HQ.  A proposta pode ainda envolver língua portuguesa, artes e história.

“Desenvolvimento da criatividade, do hábito de leitura, de vocabulário e ampliação da bagagem cultural são outros ganhos”, garante.

A seguir, Barbosa indica alguns dos volumes das séries e seus respectivos conteúdos que podem ser trazidos para as turmas:

“Tintim no país dos sovietes” (1930): o primeiro álbum de Tintim retrata uma viagem à Rússia, que se preparava para ser uma potência mundial. “Pode-se refletir sobre o papel político e social da antiga União Soviética e do regime socialista”, afirma. 

“Tintim no Congo” (1931): o Congo era colônia belga neste período (1908- 1960). Assim, a história revela uma visão eurocêntrica e estereotipada do povo africano, retratados semelhantes a macacos e falando mal o idioma francês. O álbum foi criticado pelo próprio autor anos mais tarde pela tendência racista. “Permite discutir colonização, eurocentrismo, racismo, etnias e costumes africanos”, relaciona.

“O lótus azul” (1936): continuação de “Os Charutos do Faraó” (1934), a trama trata do cartel de ópio na África e na Ásia. Neste período, China e Japão viviam uma tensão política que culminaria no Massacre de Nanquim (1937) e na Segunda Guerra Sino-Japonesa.

Mostra um Hergé politicamente engajado e se manifestando contra a segregação étnica e a guerra.

“O autor busca na história dos dois países problemas sociais e políticos que geraram péssimos resultados para ambos. Há a alusão às Guerras do Ópio (a última finalizada em 1860) e cita a Guerra dos Boxers (1899 – 1900).”

“O ídolo roubado/A orelha quebrada” (1937): apresenta o histórico de lutas sociais latino-americanas, as revoluções e a política de seus exércitos. 

“O cetro de Ottokar” (1939): o enredo mais geopolítico de Hergé, escrito em um período próximo à invasão da Polônia pelos nazistas (1º de setembro de 1939) e das políticas de Adolf Hitler para ocupar a Bacia do rio Sarre, na Alemanha, Áustria e Tchecoslováquia; assim como as ações de Benito Mussolini na Etiópia, Albânia e na Grécia. Traz um espelho social e político da época, agindo como metáfora de uma Europa às vésperas da Segunda Guerra. Para isso, o autor cria dois países fictícios: “Reino da Sildávia” (monarquia constitucional) e República da Bordúria (ditadura militar). O vilão é Musstler, amálgama [fusão de duas palavras] de Mussolini e Hitler. 

“O Templo do Sol” (1949): parte final da aventura de Tintim em busca do professor Girassol em terras sul-americanas. Trata-se de uma história de caráter étnico, que envolve costumes incas centenários.

“Traz a representação do território peruano, com pequenas cidades e vilas; traços, trajes e costumes típicos do povo local; a Cordilheira dos Andes, com sua vegetação, clima e animais típicos, como lhamas, alpacas e condores. Ainda passa pela Amazônia peruana”, diz Barboza. 

“Rumo à Lua” (1953) e “Explorando a Lua” (1954): “A corrida espacial e a conquista do espaço, travadas na vida real pelos Estados Unidos e pela União Soviética, servem de inspiração para essa aventura”, explica. 

“Tintim no Tibete” (1960): retrata paisagens e acidentes geográficos da região; a influência da altitude no organismo humano; e o modo de vida de comunidades de monges e de outras etnias que vivem ali.

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments

Talvez Você Também Goste

Veja 23 dicas para criar um clube de ciências na escola pública

Definir um coordenador das atividades e listar os materiais necessários auxiliam no planejamento

Saiba como trabalhar o repertório de Maria Bethânia na educação básica

Professoras usam a obra da cantora para ensinar história, filosofia e literatura

Filmes e globalização: “O diabo veste Prada” e mais 8 obras para abordar em aula

Produções mostram as consequências econômicas e sociais da integração mundial

Receba NossasNovidades

Receba NossasNovidades

Assine gratuitamente a nossa newsletter e receba todas as novidades sobre os projetos e ações do Instituto Claro.