A HQ “Cumbe”, do desenhista brasileiro Marcelo D’Salete, venceu o prêmio Eisner, considerado o Oscar dos quadrinhos, na categoria Melhor Edição Americana de Material Estrangeiro. O livro, lançado no Brasil em 2014 e nos Estados Unidos em 2018, retrata a resistência dos negros no Brasil colonial contra a escravidão.
Uma curiosidade: D’Salete também é professor da educação básica na rede pública, lecionando artes na Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Em entrevista, ele sugere como incorporar sua obra em sala de aula.
Do que trata a HQ “Cumbe”?
Marcelo D’Salete: É um livro que trata sobre o Brasil colonial a partir da perspectiva negra e, de certo modo, periférica. Aborda os povos de origem Bantu, de origem dos antigos reinos de Angola e Congo. Penso que é importante apresentar essas outras narrativas na educação, a história sendo contada por negros, mas também mulheres e indígenas. É apresentada uma história do Brasil mais complexa.
Como “Cumbe” pode ser utilizada em sala de aula?
D’Salete: Acredito que Cumbe talvez seja mais interessante nas séries finais do fundamental, a partir do oitavo ano, e no ensino médio. Para a disciplina de história, há temas da área da história do Brasil do século 17. Pode estar relacionado às aulas de artes quando se aborda o formato de HQs e as possibilidades de contar uma narrativa por meio de textos e imagens. Algo que os jovens adoram, e que é complexo. Há também o uso em língua portuguesa, sobre as interpretações acerca da narração que está sendo contada. Por fim, utilizada de forma interdisciplinar, sobre a história e a presença da cultura negra no Brasil.
Como você costuma trabalhar as histórias em quadrinhos em suas aulas?
D’Salete: Gosto de apresentar uma vasta gama de livros de HQs, inclusive para os alunos escolherem. Há o momento da leitura e de relatar o que leram e viram, e pensar o modo como o artista utilizou o desenho e o texto. Analisar as relações que podem ser estabelecidas com a história e a sociedade de hoje a partir do que o artista propõe em seu trabalho. Por fim, falar da estrutura da história em quadrinhos e experimentar esse gênero. Muitas vezes, eles colocam no papel narrativas que estão relacionadas ao seu cotidiano e os temas que estão discutindo.
Como é, para você, atuar como docente?
D’Salete: É uma experiência incrível e enriquecedora, ainda que não seja fácil. Lidamos com uma outra geração e dialogamos sobre história e arte. Conversamos sobre temas que nos humanizam. É algo extremamente importante se queremos uma nação que respeite seus vários povos e trate todos com igualdade.