‘Sex education’ é uma série da Netflix com classificação etária de 16 anos e que tem como protagonista o adolescente Otis, filho de uma terapeuta sexual. A cada episódio, são abordadas questões relacionadas à sexualidade comuns no dia a dia dos jovens, motivo pelo qual a produção pode ser utilizada nas aulas de educação sexual.
“A série consegue abordar com linguagem acessível situações reais que nem sempre são discutidas na família ou nos espaços educativos. E o mais importante: com responsabilidade nas informações passadas”, defende a pedagoga e mestra em Educação Sexual, Isabela Manchini. Ela é uma das autoras do artigo “A sexualidade silenciada no ambiente escolar e as contribuições da série ‘Sex education’”.
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Entre os conteúdos que se relacionam à educação sexual estão infecções sexualmente transmissíveis (IST), disfunção sexual, aborto, descoberta da própria sexualidade, consentimento, assédio sexual, homofobia, relação abusiva e exposição online, entre outros.
“A série atrela à sua trama tópicos muitas vezes tratados como sensíveis no ambiente escolar e familiar. Além disso, fornece ao educador a possibilidade de expandir o ensino para além dos materiais didáticos que nem sempre alcançam os estudantes”, acrescenta o professor de biologia Luis Guilherme Teixeira dos Santos.
Aproximação com alunos
Para Santos, um ganho em trazer ‘Sex education’ para a escola é justamente aproximar a educação sexual dos alunos e promover uma aprendizagem significativa. Ele é um dos autores do artigo “’Sex education’: uma análise sobre a importância da mídia para educação sexual”.
“Um problema no ensino dessa área no ambiente escolar é a sua abordagem higienista, focada em IST’s e processos fisiológicos, como a gravidez. Nesse ponto, a série consegue tratar a educação sexual de forma prática e descontraída, aplicando diversas situações e problemáticas reais às vidas dos seus protagonistas”, analisa.
“Assuntos tratados como tabu são naturalizados, tornando a sala de aula um espaço dinâmico para troca de conhecimentos. Caso de virgindade, homossexualidade, identidade de gênero, masturbação, traumas de infância e aceitação”, exemplifica.
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Manchini vê como ganho para os alunos aprender sobre respeito e autonomia. “A série contribui para a formação de indivíduos respeitosos, reflexivos, autônomos e seguros de sua sexualidade”, destaca. “Para os professores, pode ajudar a superar os próprios preconceitos, tabus e medos”, complementa.
Para os dois pesquisadores, o programa também ajuda a driblar problemas que impedem uma educação sexual de qualidade no ambiente escolar, como religiosidade dos professores, falta de formação inicial e continuada sobre sexualidade e dificuldade de ver o estudante como protagonista da aprendizagem.
“A educação sexual busca entender, ensinar e esclarecer dúvidas acerca da sexualidade, preparando os jovens para a vida sexual segura e responsável. Assim, não deve ser centrada apenas nos discursos médicos ou acontecer por conversas rasas”, explica Manchini.
“A ausência de informações verdadeiras afeta a vida adulta. Caso da subordinação das mulheres em ambientes machistas e violentos, gravidez precoce, sexualização precoce, vulnerabilidade a assédios e abusos sexuais, dificuldade das vítimas denunciarem seus abusadores, etc.”, lista.
Episódios didáticos
Os dois docentes listam episódios que podem promover discussões e reflexões com a turma.
Temporada 1/Episódio 3: “Mostra uma face real sobre o aborto e a intolerância em torno do assunto”, sugere Santos.
Temporada 1/ Episódio 5: Foca nos perigos do envio de fotos e vídeos íntimos e suas implicações na vida das pessoas envolvidas.
Temporada 1/Episódio 7: Aborda a intolerância contra homossexuais e a importância de ser quem é de verdade. “Um tema transversal é a amizade entre homens heterossexuais e homossexuais, caso de Otis e Eric”, afirma Santos.
Temporada 2/Episódio 1: Em meio a um surto de clamídia na escola, a séria mostra como informações falsas podem se espalhar rapidamente.
Temporada 2/ Episódio 3: Traz o assédio sofrido pela aluna Aimee em um transporte público. “A jovem tenta tratar o caso como se não fosse grave e ignora, mas aquilo a traumatiza. Depois de muita insistência, ela vai à delegacia”, relata Manchini. Outro tema correlato é a sororidade. “Aimee sente medo de andar de ônibus. Um grupo de meninas mostra que ela não está sozinha e a acompanha no transporte”.
Sobre as atividades possíveis a partir da série, Santos sugere desenvolver com os alunos debates, júris simulados e dinâmicas envolvendo perguntas e respostas.
Já Manchini orienta conhecer as fragilidades do corpo docente e identificar as maiores curiosidades e conflitos dos alunos antes de propor um projeto ou sequência didática. “Vale envolver a família nesse processo de construção e assim pensar em atividades. Lembrando que o diálogo é sempre uma ferramenta poderosa”, finaliza.
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