Temas como homofobia, relações de gênero e violência sexual fazem parte da nossa sociedade e, portanto, também acabam batendo na porta da escola, trazidos ou reproduzidos pelos próprios alunos. Contudo, geralmente são silenciados ou não discutidos com profundidade. Para a especialista em educação sexual, Dhilma de Freitas, um dos motivos é o despreparo dos professores. A pedagoga é uma das organizadoras do
projeto WebEducaçãoSexual, que promove palestras virtuais gratuitas voltada a docentes e pesquisadores. Confira abaixo sua entrevista completa.
NET Educação – Qual o atual cenário da educação sexual nas escolas?
Dhilma de Freitas – Há muita resistência no que se refere à inclusão da educação sexual formal ou intencional nas escolas. Faltam projetos desenvolvidos por toda comunidade escolar. Docentes, discentes, coordenação, direção, bibliotecários, segurança, e etc. E que envolvam também as famílias.
NET Educação – Como se dá a abordagem com os alunos?
Dhilma – O que se percebe são ações pontuais, desenvolvidas geralmente por professores de biologia. A abordagem acaba se voltando mais para os aspectos biológicos e pouco para os aspectos social, histórico e cultural da sexualidade. Evitam-se temas emergentes, como aborto, diversidade sexual, violência de gênero, violência sexual e a primeira experiência sexual.
NET Educação – Quais os principais desafios neste contexto?
Dhilma – A falta de diálogo na família e na escola, e a falta de formação dos professores. Enquanto formarmos docentes para trabalharem com jovens “assexuados”, enquanto os currículos das universidades não incluírem essas temáticas e enquanto não houver investimentos na formação contínua dos professores, pouco avançaremos no que se refere à educação sexual numa abordagem transversal, de forma abrangente e não discriminatória.
NET Educação – Qual o papel da escola?
Dhilma – A escola é o espaço onde as crianças e os jovens passam grande parte da vida e onde acontecem muitas situações relativas ao seu desenvolvimento psicossexual. Se eles forem orientados numa perspectiva de respeito a si e ao outro, de respeito à diversidade, na desconstrução dos papéis de gêneros, na desmitificação dos tabus e preconceitos relacionados ao sexo, teremos chances de formar cidadãos capazes de viver a sua sexualidade de forma mais tranquila, segura, respeitosa, afetuosa, responsável e prazerosa.
NET Educação – Como você avalia a abordagem da diversidade sexual nas escolas?
Dhilma – A questão é silenciada, por preconceito, desconhecimento do assunto e resistências pessoais por parte tanto de professores quanto dos próprios jovens. Pelo receio de ir de encontro aos valores das famílias, dentre outras razões, este tema é raramente tratado de forma aberta e livre de discriminação. No entanto, as situações de homofobia são bastante visíveis neste espaço.
NET Educação – O que a escola pode fazer para melhorar o diálogo com a família?
Dhilma – Estudos apontam que a maioria das famílias apoia que a educação sexual formal aconteça na escola. Devem-se trazer essas famílias para dentro do ensino e envolvê-las na construção dos projetos de educação sexual. A escola deve esclarecer que seu papel é o de repassar informações científicas e corretas, livres de preconceitos e tabus. A família precisa ter clareza dos objetivos da escola e sentir que os professores estão formados e seguros para a realização do trabalho.
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