Reggio Emilia é uma pequena cidade no norte da Itália que, logo após o final da Segunda Guerra Mundial, tornou-se conhecida por montar um inovador sistema público de educação. Seu protagonista foi o educador Loris Malaguzzi. “Ele pensava em organizar escolas infantis onde as crianças tivessem o direito de ser protagonistas na busca pelo conhecimento, deixando a curiosidade espontânea acesa e em um espaço em que fossem ouvidas e participassem do processo educativo”, explica a doutoranda em educação e especialista na modalidade Aline Fernandes dos Santos.

A cidade desenvolveu seu próprio conjunto de pressupostos filosóficos e pedagógicos, que acabou sendo batizado com seu nome. A abordagem Reggio Emilia é composta por princípios que incluem protagonismo infantil, aprendizagem como processo subjetivo e grupal, metodologia de projetos, envolvimento da família na escola e o que Malaguzzi chamou de “Cem Linguagens”.

Esse é título de um poema dele que diz: “a criança tem cem linguagens, e cem mãos, cem pensamentos, cem maneiras de pensar, de brincar e de falar”. “Isso quer dizer que há diferentes tipos de inteligência e que cada criança se expressa, investiga e aprende de formas diferentes”, observa a especialista em Reggio Emília e professora do Instituto Singularidades Renata Americano.

Ateliê em aula

Originalmente, a abordagem Reggio Emília é pensada na aprendizagem de crianças de zero a seis anos. Contudo, tanto na Itália quanto em outros lugares do mundo, o modelo tem servido de inspiração para outras etapas além da educação infantil. “No Brasil, a nossa organização de currículo no ensino fundamental e médio é centrada em conteúdo, o que torna mais desafiador aplicar o sistema”, diferencia Santos. “Porém, alguns princípios podem inspirar práticas em outras etapas, adaptando-as à realidade brasileira”, complementa.

O primeiro deles é a valorização das artes. “Há a figura do atelierista, que é um professor de artes que trabalha junto ao docente da sala, ajudando-o na abordagem pedagógica de diferentes conteúdos. É uma parceria sem hierarquia e que quebra com a ideia de professor especialista”, explica Americano.

O espaço físico também é organizado com diferentes ambientes e materiais artísticos para os alunos, de forma a complementar e promover as aprendizagens. “Mas as artes não ficam a serviço apenas das outras disciplinas, também tendo um momento reservado somente para ela”, lembra a docente.

Tempo para experimentar

A criança não é vista como uma folha em branco, mas como um pesquisador competente, capaz de pensar e sentir. “Como alguém que tem algo a dizer. Por isso, há um respeito a ela e aos seus interesses”, classifica Santos. O ensino por projetos, por sua vez, implica em interdisciplinaridade. “A escola divide o mundo em compartimentos, algo que não ocorre na realidade. As artes ajudam a pensar o objeto de pesquisa investigado de forma lúdica e integrada”, acrescenta Americano. Como as crianças têm diferentes interesses, formas de pesquisar e de se expressar, as atividades pedagógicas são personalizadas.

Assim, a forma de trabalho em Reggio Emilia é chamada de projettazione, que seria uma metodologia de aprendizagem por projetos. “A partir do que o aluno traz em sala, organiza-se a metodologia de projetos. O professor cria cenários e situações de aprendizagem, convidando-o a pesquisar”, destaca Santos.

Para ela, um desafio no Brasil é respeitar o tempo da criança de observação e experimentação. “Ambas não cabem em um tempo artificial de 50 minutos por aula. Não dá para você parar o aluno no meio de um processo e dizer: a aula acabou, continuamos depois”, justifica Americano. Além disso, o professor que deseja se inspirar em Reggio Emilia tem o desafio de desenvolver sua própria atividade. “E conhecer quem são os alunos, a escola e os demais membros da comunidade com quem irá trabalhar junto”, conclui.

Veja mais:

Série Pensadores na Educação – Primeira temporada

Série Pensadores na Educação – Segunda temporada

Série Pensadores na Educação – Terceira temporada

Série Pensadores na Educação – Quarta temporada

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